Mais de um milhão de professores e futuros educadores participaram neste domingo, dia 26 de maio, da primeira edição da Prova Nacional Docente (PND) em todo o Brasil. Este exame representa um passo crucial para quem pretende concluir um curso de licenciatura em 2025 e, além disso, oferece uma oportunidade valiosa para docentes já atuantes que buscam utilizar a pontuação em processos seletivos estaduais e municipais, inspirados no modelo do Concurso Nacional Unificado (CNU) para o magistério.
Milhares de Candidatos em Busca da Docência
Desde as 13h30, mais de 1,08 milhão de inscritos testaram seus conhecimentos na PND, uma avaliação com duração total de cinco horas e trinta minutos, com previsão de término às 19h, no horário de Brasília. Contudo, os participantes tinham a flexibilidade de deixar a sala de aplicação após as duas primeiras horas de prova. Este marco na educação brasileira visa, sobretudo, elevar a qualidade dos profissionais que moldarão as próximas gerações.
A prova não é apenas um requisito formal; ela espelha o empenho e a resiliência de indivíduos que almejam transformar a realidade educacional do país. Diversas histórias de superação e dedicação emergiram entre os candidatos, ilustrando o poder da educação como motor de mudança pessoal e coletiva.
Jornadas de Transformação e Inspiração
Entre os participantes, a trajetória de Francisco Gilvar Pereira da Silva, de 56 anos, destacou-se no Distrito Federal. Filho de analfabetos do Piauí, ele está prestes a concluir sua segunda graduação, desta vez em Letras – Português, em dezembro. A vida de Francisco começou cedo, com trabalho árduo aos sete anos, carregando areia e madeira em Amarante (PI). Posteriormente, sua mudança para Brasília para o serviço militar abriu novas portas. Foi em uma escola particular, onde atuava como auxiliar de limpeza, que o ambiente acadêmico despertou nele o desejo de lecionar.
Ao longo dos anos, Francisco progrediu para auxiliar administrativo, o que o influenciou a cursar Administração como sua primeira graduação, tornando-se o pioneiro com ensino superior em sua família. Mesmo assim, ele sentia que algo faltava. Então, com uma bolsa de estudos, ele perseguiu o sonho da licenciatura, buscando familiaridade com o universo das letras, tão distante da realidade de seus pais, já falecidos. Com grande emoção, ele expressou seu desejo de retornar à sua terra natal para oferecer oportunidades educacionais a outros jovens, compartilhando seus conhecimentos e experiências, um ato que considera profundamente gratificante.
Outro exemplo de determinação veio de Edinácio Silva Vargas, um indígena Marubo de 32 anos, também no Distrito Federal. Desde que deixou a Terra Indígena Vale do Javari, no Acre, Edinácio nutria o sonho de se tornar professor de língua inglesa. Embora ainda não esteja totalmente fluente, ele está perto de alcançar esse objetivo, pensando nas amplas perspectivas profissionais que o domínio do inglês pode oferecer.
Edinácio, que já é graduado em Gestão Pública pela Universidade Estadual do Amazonas, planeja unir suas duas formações para beneficiar seus futuros alunos. Ele revelou que seus estágios obrigatórios de licenciatura reforçaram seu desejo de mediar o conhecimento e auxiliar as pessoas em sua formação para a vida, admitindo gostar muito dessa “coisa de ajudar”.
O Poder do Exemplo e a Paixão pelo Conhecimento
A inspiração para a docência pode surgir de diversas formas, como no caso de Diego Lima, futuro professor de educação física. Atleta paralímpico, Diego teve grandes mestres que o incentivaram em sua jornada esportiva. A dedicação desses professores foi um catalisador para sua própria escolha profissional. Para ele, chegar a esta etapa final é imensamente gratificante, pois significa seguir o legado de seus mentores, algo que também representa um orgulho para eles, ao ver um aluno se tornando um profissional como eles.
Nascido com paralisia cerebral, Diego é um velocista cadeirante, com um histórico de atletismo, tênis e basquete. Há uma década, ele decidiu dedicar-se à docência, apesar das dificuldades financeiras que quase o fizeram abandonar a faculdade. Felizmente, por meio do Programa Atleta Cidadão do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), ele conseguiu retomar os estudos. Agora, Diego aspira a fazer a diferença na vida de outros atletas, transmitindo seu aprendizado e o conhecimento necessário aos futuros alunos quando estiver em sua carreira de professor.
Maíra Araújo dos Santos, de 23 anos, moradora de Itapoã, Distrito Federal, também foi profundamente influenciada por uma professora. Em seu caso, foi Marina, sua professora de química no ensino médio, quem despertou seu interesse pela área. Maíra, portando sua caneta preta para a prova, explicou seu desejo de demonstrar aos estudantes que a química é muito mais do que uma matéria assustadora, assim como Marina lhe ensinou. Além do mais, Maíra realiza a prova neste domingo porque a PND é equivalente ao Enade das Licenciaturas, e a comprovação de sua participação é essencial para que sua faculdade libere o tão aguardado diploma.
A Vocação de Cuidar e Transformar Vidas
Enquanto Maíra busca a conclusão urgente de seu curso, Solange Oliveira Braga, formada em Pedagogia, tem como objetivo a aprovação no concurso da Secretaria de Educação do Distrito Federal, autorizado recentemente para 2026. Ela já se dedica aos estudos, visando dar aulas para crianças menores de cinco anos. Sua vocação para a educação infantil aflorou ao cuidar de seus irmãos mais novos na cidade mineira de São Francisco, uma experiência que ela associa à memória da infância e ao “amor verdadeiro” no contato com crianças.
A decisão final para lecionar veio da própria família, pois Solange possui parentes que atuam na área e serviram de espelho para sua carreira. Portanto, desde cedo, ela tinha certeza de que seria professora. De maneira similar, Marcela Silva Vaz, de 31 anos, que também concluirá sua licenciatura em 2025, busca a estabilidade do serviço público e um salário garantido. Entretanto, sua motivação principal vai além: ela deseja atuar com crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica, especialmente no primeiro ano do ensino fundamental, no crucial processo de alfabetização.
Marcela enfatiza a importância do professor da educação básica, considerando-o o profissional que forma todas as outras profissões. Ela defende, outrossim, que as redes de ensino precisam adaptar-se melhor para atender estudantes neurodivergentes e aqueles com outras necessidades especiais. Embora reconheça as dificuldades dos professores, Marcela afirma ter aprendido a dar o máximo de si e almeja ser uma professora que, em parceria com a família, oferece direção e dedicação na escola.
Panorama da Participação Nacional
Os dados do Ministério da Educação (MEC) revelam a expressiva adesão à PND. O Distrito Federal, por exemplo, figura na terceira posição entre as cidades com maior número de inscritos, totalizando 18.754 participantes. São Paulo, por sua vez, lidera com 84.633 inscritos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 28.765. Em uma análise por estado, São Paulo mantém a dianteira com 253.895 inscritos confirmados, enquanto Minas Gerais aparece em segundo lugar com 97.113, e o Rio de Janeiro em terceiro, com 72.230 participantes.
No que concerne às 17 áreas da licenciatura avaliadas, a Pedagogia se destacou com o maior número de inscrições, contabilizando 560.576 confirmações. Em seguida, a área de Letras – Português registrou 73.187 participantes, matemática com 72.530 e educação física com 65.911, demonstrando a diversidade e o volume de futuros educadores em diferentes campos do saber.
O Futuro da Educação com a PND
A Prova Nacional Docente, prevista para ser aplicada anualmente, integra o programa “Mais Professores para o Brasil”. Esta iniciativa governamental compreende uma série de ações destinadas ao reconhecimento, qualificação e incentivo à docência na educação básica em todo o território nacional. Ademais, o conteúdo da PND é elaborado com base na mesma matriz da avaliação teórica do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) das Licenciaturas, que, desde sua primeira edição em 2024, concentra-se especificamente nos cursos de formação docente.
Portanto, a PND não é apenas um exame, mas um instrumento estratégico para aprimorar a formação de professores e, por conseguinte, fortalecer a qualidade da educação brasileira. Por meio dela, espera-se que os profissionais da educação estejam cada vez mais preparados para os desafios e as oportunidades do ambiente escolar, garantindo um futuro mais promissor para milhões de estudantes.



