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Lula reconduz Paulo Gonet à PGR; antecipa processo e antecede caso Bolsonaro

Lula reconduziu Paulo Gonet como Procurador-Geral da República nesta quarta-feira, antecipando seu mandato por mais dois anos.
Lula reconduz Gonet Procurador-Geral
Foto: Antonio Augusto/STF

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou a recondução de Paulo Gonet à posição de procurador-geral da República, estendendo seu mandato por mais dois anos. A assinatura ocorreu nesta quarta-feira (27), em uma decisão que antecipa o processo em alguns meses, dado que o mandato atual de Gonet se encerraria apenas em dezembro deste ano, após sua posse em dezembro de 2023.

A antecipação deste ato presidencial, portanto, ocorreu menos de uma semana antes de um julgamento crucial no Supremo Tribunal Federal (STF). Neste caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrentará acusações, tendo sido denunciado pelo próprio Gonet como suposto líder de um esquema golpista. O objetivo alegado era impedir a transição de poder após a derrota de Bolsonaro para Lula nas eleições de 2022, evidenciando a relevância do timing da recondução.

Processo de Confirmação e Contexto Político

A decisão de recondução foi tomada por Lula após uma reunião com Gonet no Palácio do Planalto, também nesta quarta-feira. Entretanto, mesmo com a nomeação presidencial garantida, o procurador ainda precisará passar por um novo rito de aprovação. Em primeiro lugar, ele será submetido a uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. Posteriormente, seu nome deverá ser votado e aprovado pelo plenário da Casa, processo que exige um mínimo de 41 votos favoráveis. Em sua primeira nomeação, em 2023, Gonet obteve um apoio expressivo, com 65 votos.

Além disso, ao adiantar a recondução, o governo Lula evita a tradicional organização da lista tríplice de indicados ao cargo pela Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR). Essa estratégia, na percepção do Palácio do Planalto, contribui para uma maior tranquilidade interna no Ministério Público Federal, prevenindo disputas e articulações pela sucessão na PGR. É importante notar que, embora Lula tenha respeitado a lista tríplice em seus dois primeiros mandatos presidenciais, a legislação não o obriga a seguir essa indicação, e ele já havia desconsiderado a lista ao nomear Gonet pela primeira vez.

Perfil e Trajetória de Paulo Gonet

Paulo Gonet, atualmente com 64 anos, é um subprocurador-geral da República com uma carreira robusta de aproximadamente quatro décadas dedicadas ao Ministério Público. Sua trajetória profissional é marcada por importantes contribuições no campo jurídico. Por exemplo, ele é cofundador do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), ao lado do ministro Gilmar Mendes, do STF. Ademais, Gonet atuou como diretor-geral da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU), consolidando sua influência acadêmica e institucional.

A formação acadêmica de Gonet inclui graduação em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), mestrado pela Universidade de Essex, no Reino Unido, e um doutorado, também pela UnB. Em 1987, ele ingressou no Ministério Público Federal (MPF), destacando-se por ter alcançado o primeiro lugar no concurso para procurador da República, um testemunho de sua excelência e dedicação.

Mudanças de Rumos e Ações Marcantes na PGR

Antes de assumir a PGR, Gonet exerceu a função de vice-procurador-geral Eleitoral durante a gestão de seu antecessor, Augusto Aras. Contudo, ao assumir o comando da Procuradoria-Geral, ele promoveu uma guinada significativa na instituição. Gonet reverteu diversos entendimentos anteriores e, principalmente, reposicionou o foco da PGR em casos de corrupção, com ênfase especial em desvios relacionados a emendas parlamentares.

Uma das ações de destaque de sua gestão ocorreu em abril, quando Gonet denunciou o então ministro das Comunicações, Juscelino Filho, por suspeitas de envolvimento em desvios de emendas. Consequentemente, após essa denúncia formal, o presidente Lula optou por demitir o auxiliar, sublinhando a seriedade das acusações e a postura rigorosa da PGR sob a liderança de Gonet.