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Lula na COP30: Crise climática é de desigualdade e exige transição justa

Na abertura da COP30 em Belém nesta segunda (10), o presidente Lula defendeu que a emergência climática é uma crise da desigualdade e pediu transição justa e aceleração das ações globais.
Lula Transição Justa COP30
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Belém, defendeu enfaticamente que a crise climática global é, na sua essência, uma manifestação profunda da desigualdade social e econômica. O evento, que se estende até o dia 21, serve como palco para a exigência de uma transição energética e econômica justa, além de uma aceleração decisiva das ações em nível mundial para evitar um colapso ambiental de proporções planetárias.

A Crise da Desigualdade e a Transição Justa

Na sua intervenção, o presidente Lula ressaltou a imperiosa necessidade de a governança global contribuir para uma transição equitativa em direção a economias de baixo carbono. Ele argumentou que uma transformação justa deve, prioritariamente, mitigar as assimetrias históricas entre o Norte e o Sul Global, que se aprofundaram ao longo de séculos de emissões poluentes. Para Lula, a emergência climática não apenas expõe, mas também agrava desigualdades já inaceitáveis, perpetuando uma lógica perversa de quem tem o direito de viver e quem está condenado. Portanto, a escolha de agir agora oferece a chance de construir um futuro livre de tragédias iminentes, garantindo às próximas gerações a oportunidade de sonhar em um planeta habitável.

A Voz da Floresta e o Cenário da COP30

Adicionalmente, Lula invocou a sabedoria do pensador indígena Davi Kopenawa para inspirar maior clareza entre os negociadores presentes. O xamã yanomami, segundo o presidente, descreve o pensamento urbano como “obscuro e esfumaçado”, em contraste com a serenidade da floresta, que deve guiar as discussões essenciais. A COP30, sediada pela primeira vez na Amazônia – bioma de inestimável biodiversidade e crucial regulador climático global –, enfrenta o colossal desafio de recolocar a questão das mudanças climáticas no cerne da agenda internacional. Além disso, o presidente enfatizou que o aquecimento global pode lançar milhões na fome e na pobreza, revertendo décadas de progresso, e destacou o impacto desproporcional sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos vulneráveis, demandando políticas de adaptação que contemplem essas realidades. Consequentemente, Lula reafirmou o papel vital dos territórios indígenas e das comunidades tradicionais nos esforços de mitigação e preservação florestal, essenciais para a regulação do carbono atmosférico, mencionando que mais de 13% do território brasileiro é composto por áreas indígenas demarcadas, um percentual que ele considerou ainda insuficiente.

Enfrentando o Negacionismo Climático

Em um dos momentos mais incisivos do seu discurso, o presidente Lula dirigiu duras críticas àqueles que negam a ciência e utilizam a desinformação para contradizer as evidências trágicas das alterações climáticas globais. Ele reiterou que a COP30 será a “COP da verdade”, um contraponto direto àqueles que, na era digital, “controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo”, atacando instituições, a ciência e as universidades. De acordo com Lula, é imperativo impor uma nova derrota aos negacionistas. Por exemplo, sem o Acordo de Paris, o mundo estaria à beira de um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o final do século. Apesar dos avanços, ele alertou que, embora a humanidade esteja “andando na direção certa”, a velocidade da ação é perigosamente inadequada.

O Impulso para Acelerar a Ação Climática Global

Posteriormente, Lula clamou aos líderes mundiais para que acelerem as ações necessárias à contenção do aumento da temperatura do planeta. Ele defendeu, mais uma vez, a elaboração de um roteiro claro para superar a dependência dos combustíveis fósseis, que são responsáveis por aproximadamente 75% do aquecimento global. Para fortalecer a governança e assegurar que as palavras se traduzam em medidas concretas, o presidente sugeriu a criação de um Conselho do Clima, com vínculo direto à Assembleia Geral da ONU, elevando a estatura política do desafio climático. Por conseguinte, ao detalhar o chamado à ação do Brasil na COP30, Lula sublinhou a urgência de formulação e implementação de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) mais ambiciosas, juntamente com a garantia de financiamento, transferência de tecnologia e capacitação para países em desenvolvimento. Em suma, o foco principal deve recair sobre políticas robustas de adaptação aos efeitos já visíveis e devastadores das mudanças climáticas, que, conforme observou, “já não é uma ameaça do futuro”, mas “uma tragédia do presente”, exemplificada por eventos como o furacão Melissa, o tornado no Paraná, secas na África e na Europa, e enchentes na América do Sul e Sudeste Asiático, que espalham dor e sofrimento, particularmente entre as populações mais vulneráveis.

O Coração da Amazônia: Lar e Símbolo

Antes de iniciar a leitura do seu discurso oficial, Lula fez um agradecimento emocionado ao povo paraense, prometendo que os participantes da COP30 seriam recebidos com uma hospitalidade ímpar, por “homens e mulheres muito alegres, muitos educados”. Ele ainda destacou a rica culinária local, sugerindo que os visitantes experimentassem pratos como a maniçoba. Mais importante ainda, o presidente traçou um paralelo contundente: é consideravelmente mais econômico e sensato cuidar do clima do que investir em conflitos bélicos. Ele mencionou os mais de US$ 2 trilhões gastos anualmente em despesas militares em contraste com a necessidade de US$ 1,3 trilhão anuais para ações climáticas eficazes. Finalmente, Lula reforçou a relevância de trazer a COP para “o coração da Amazônia”, salientando que o bioma não é uma entidade abstrata; é o lar de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, distribuídos por nove países em desenvolvimento que enfrentam desafios sociais e econômicos imensos. Quem observa a floresta apenas de cima, disse ele, desconhece a realidade de quem vive à sua sombra.