Edição Brasília

Lula critica racismo cotidiano e defende erradicação na Conapir

Na abertura da 5ª Conapir em Brasília, Lula criticou o "racismo de todos os dias" enfrentado por pessoas negras, defendendo a erradicação do preconceito no país.
Lula racismo cotidiano
Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou a abertura da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), realizada em Brasília na noite desta segunda-feira (15), com um forte discurso contra o que denominou de “racismo de todos os dias”. Ele enfatizou a urgência de erradicar completamente o preconceito racial que ainda permeia a sociedade brasileira, apesar dos avanços recentes em políticas públicas.

Contexto da Conferência e a Crítica Presidencial

O evento nacional da Conapir, que retorna após um hiato de sete anos, reúne na capital federal cerca de 1.700 delegados, 200 convidados e dezenas de observadores e expositores ao longo desta semana. Em seu discurso inaugural, o presidente Lula saudou os participantes, ao passo que reconheceu o persistente desafio do racismo cotidiano. Ele destacou que, embora o país tenha implementado importantes ações afirmativas e programas sociais visando a inclusão da população negra, essa parcela da sociedade ainda enfrenta discriminação sistemática.

Além disso, o chefe de Estado sublinhou a existência de um “imaginário que insiste em relegar pessoas negras a um único lugar, frequentemente o de serviçal, quando não o de uma ameaça”. Essa perspectiva, segundo ele, precisa ser desconstruída urgentemente para que o Brasil avance na construção de uma sociedade mais justa e equitativa.

O Inaceitável e a Luta Contra o Preconceito

Sem mencionar diretamente o nome da escritora, Lula fez alusão ao caso recente envolvendo Lilia Guerra, autora de “O Céu para os Bastardos”. Ela relatou ter sido injustamente acusada de furto em uma pousada, dias após participar da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento que ocorreu entre 30 de julho e 3 de agosto deste ano. O presidente condenou veementemente a naturalização de tais incidentes. “Não podemos achar normal que uma escritora negra, convidada de um festival literário, seja injustamente acusada de furtar objeto da pousada em que se hospedou”, pontuou Lula, reforçando a inadmissibilidade de que a cor da pele limite oportunidades ou imponha suspeitas sobre qualquer indivíduo.

Posteriormente, o presidente dirigiu suas críticas à criminalização de jovens negros nas periferias, que, segundo ele, continuam a ser “alvos preferenciais das forças de repressão”. Ele defendeu que o racismo, caracterizado como crime e “doença” social, deve ser erradicado do país, reafirmando o compromisso do seu governo com essa pauta fundamental. Portanto, a luta contra o preconceito não é apenas uma questão de justiça, mas também de saúde social.

Estrutura e Alcance da 5ª Conapir

A etapa nacional da 5ª Conapir tem como tema central “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial”. Durante os dias de conferência, os delegados participarão ativamente de grupos de trabalho, plenárias e debates em “eixos e xirês” – um termo iorubá que remete a rodas de discussão ou dança, simbolizando a coletividade. Dessa forma, busca-se promover um diálogo amplo e inclusivo.

Conforme informações do Ministério da Igualdade Racial, a elaboração desta edição da Conapir foi um processo abrangente e multifacetado, com etapas realizadas em todo o país. Incluiu conferências municipais e estaduais, bem como uma fase digital que permitiu contribuições através da plataforma Brasil Participativo. Além disso, houve plenárias temáticas e etapas livres que selecionaram delegados representativos de diversos segmentos, tais como quilombolas, ciganos, indígenas e povos de terreiro, assim como mulheres, população LGBTQIA+ e juventude negras.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ecoou o sentimento de engajamento popular durante a cerimônia. Ela declarou que “só se constrói política pública de qualidade com o povo e na coletividade”, reiterando a importância da participação social na formulação de políticas efetivas. Além do presidente e da ministra, a abertura contou com a presença de outras autoridades do governo federal e proeminentes lideranças da sociedade civil, reunidos no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

A Força da Participação Social na Governança

Ao concluir seu pronunciamento, o presidente Lula fez questão de reconhecer e valorizar a persistência dos participantes. Ele afirmou que, sem o empenho e a fé nos sonhos dos ativistas, “possivelmente a gente não teria feito esta conferência com esta dimensão, porque passamos sete anos com governo que jamais pensou em fazer uma conferência para ouvir as mulheres e os homens negros deste país”. Assim sendo, a realização da Conapir é uma vitória da sociedade civil.

Em seguida, o presidente enfatizou o peso institucional que as conferências conferem à formulação das políticas públicas de sua gestão. “A participação social é a parte essencial do nosso modo de governar e construir políticas públicas”, declarou. Por conseguinte, ele assegurou que seu governo será “tanto mais assertivo quanto mais considerarmos os anseios, as propostas e as prioridades daqueles e daquelas para os quais as políticas se destinam”. Em suma, a conferência representa um pilar fundamental para a governança democrática e inclusiva.

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