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Lula assiste ‘Malês’, filme sobre revolta escrava, e faz pronunciamento

Neste sábado (6), presidente Lula assistirá ao filme 'Malês' no Cine Alvorada e fará pronunciamento em rede nacional por ocasião do 7 de setembro.
Filme Malês revolta escrava
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Neste sábado, dia 6 de setembro, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprirá uma agenda notável que mescla cultura e comunicação institucional. Antes de seu pronunciamento oficial em rede nacional de rádio e TV, agendado para celebrar o Dia da Independência do Brasil, o presidente assistirá a uma sessão especial do filme “Malês”, uma obra que narra um dos mais importantes levantes de escravizados na história do país.

Pronunciamento Oficial e Projeção Exclusiva

O pronunciamento do Presidente Lula, gravado previamente com uma duração de 5 minutos e 25 segundos, será transmitido às 20h30 (horário de Brasília). Esta mensagem ocorre por ocasião do feriado de 7 de setembro, um momento crucial para a reflexão sobre a soberania nacional. Contudo, mais cedo, às 18h, o presidente terá um contato direto com a história e a arte no Cine Alvorada, onde acompanhará a projeção do longa-metragem dirigido por Antônio Pitanga.

A estreia nacional do filme “Malês” está prevista para 2 de outubro, portanto a sessão presidencial configura-se como um evento exclusivo e de grande destaque. Esta antecipação ressalta a importância cultural e social que a obra carrega, abordando temas de profunda relevância para a memória e identidade brasileiras.

A Essência de “Malês”: Uma Insurreição Histórica

O enredo de “Malês” transporta o espectador para 1835, detalhando uma das maiores insurreições orquestradas por africanos e seus descendentes que viviam em condições de escravidão no Brasil. A produção cinematográfica não se limita à sessão com o presidente; além disso, uma pré-estreia em Brasília está marcada para este domingo, dia 7, no Cine Nave, seguida de um debate com a atriz Samira Carvalho, proporcionando uma interação mais aprofundada com o público.

Este filme já conquistou reconhecimento internacional e nacional, tendo sido exibido em diversos festivais. Por exemplo, em janeiro deste ano, a obra foi apresentada com sucesso ao público da Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. Tais exibições prévias demonstram o impacto e a repercussão que a narrativa vem gerando.

A Visão do Diretor: Para Além das Telas Comerciais

Em entrevista concedida à Agência Brasil durante o festival de Tiradentes, o diretor Antônio Pitanga expressou seu profundo desejo de que “Malês” transcenda o circuito comercial de cinema. Ele almeja que a história chegue a um público mais vasto e diversificado. “Meu sonho é humanizar essa história que as escolas frequentemente não abordam, tornando-a relevante para o século XXI”, afirmou Pitanga. Além disso, o diretor enfatizou a importância de levar o filme para “bancas de saberes, escolas, universidades e quilombos”, garantindo que a narrativa alcance as comunidades diretamente afetadas pela herança da escravidão, e não apenas as salas frequentadas por uma parcela específica da sociedade.

A Identidade dos Malês e os Detalhes da Rebelião

Os Malês, como eram conhecidos os muçulmanos negros, destacavam-se por sua notável instrução e domínio do alfabeto árabe. Essa capacidade intelectual, ademais, permitiu-lhes planejar meticulosamente a rebelião. A revolta, originalmente agendada para 25 de janeiro — data que marca o fim do Ramadã, um mês sagrado para os muçulmanos —, buscou o apoio de outros grupos escravizados, evidenciando uma estratégia de coalizão.

Os confrontos, uma vez iniciados, estenderam-se por mais de três horas, resultando na morte de mais de 70 africanos e na punição de centenas com penas que incluíam desde a morte e prisão até açoites e deportações. A reconstituição histórica desse episódio fundamental baseou-se principalmente na obra “Rebelião Escrava no Brasil”, publicada em 1986 pelo historiador João José dos Reis, que serviu como referência central para a produção cinematográfica.

Perspectiva Artística e Elenco Engajado

Conforme o próprio Pitanga ressalta, “Malês” não se limita a um mero registro factual dos eventos. Pelo contrário, o filme aprofunda-se nas individualidades dos personagens, revelando seus sonhos, suas angústias e seus amores, o que confere uma dimensão humana e complexa à narrativa. A produção, aliás, fez questão de subverter o estereótipo do escravo como uma vítima passiva, retratando-os como “cabeças pensantes”, dotados de agência e resistência.

O elenco do filme conta com talentos da própria família do diretor, incluindo o ator Rocco Pitanga e a atriz Camila Pitanga, filhos de Antônio Pitanga. Essa participação familiar adiciona uma camada de profundidade e conexão pessoal à obra, fortalecendo a mensagem e a autenticidade da representação.

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