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Logoterapia na Escola: Projeto da UnB Fortalece Saúde Emocional de Estudantes do DF

Logoterapia na Escola: Projeto da UnB Fortalece Saúde Emocional de Estudantes do DF

O aumento alarmante de sintomas como ansiedade, depressão, irritabilidade e, tragicamente, a ideação suicida entre adolescentes, mobiliza urgentemente escolas e famílias em todo o país. A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) reforça a gravidade do cenário ao apontar o suicídio como uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Diante dessa crise, a necessidade de intervenções preventivas que fortaleçam fatores de proteção desde o ambiente escolar se torna crucial.

Nesse contexto, a Universidade de Brasília (UnB), com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), lançou o projeto inovador “Educação existencial e sentido para a vida”. Coordenada pela professora Kátia Vanessa Pinto de Meneses, do curso de Terapia Ocupacional da UnB, a iniciativa atua em escolas públicas do DF partindo de uma premissa fundamental: ajudar os adolescentes a reconhecerem seus valores pessoais, a elaborarem experiências difíceis e a construírem projetos de vida com significado. Essa abordagem visa reduzir drasticamente a vulnerabilidade ao sofrimento emocional e aos comportamentos de risco.

“Os adolescentes estão entre os grupos mais vulneráveis ao sofrimento silencioso. Nossa intervenção busca ampliar a percepção de sentido da vida, fortalecendo fatores de proteção que previnem tédio, apatia, desesperança e impulsividade”, explica a pesquisadora Kátia Meneses. O projeto utiliza a Logoterapia saúde emocional estudantes, metodologia desenvolvida pelo psiquiatra e neurologista austríaco Viktor Frankl, adaptando conceitos existenciais complexos — como liberdade, responsabilidade, sofrimento e propósito — para o contexto pedagógico juvenil.

A Adaptação da Logoterapia para o Ensino Fundamental

A metodologia central do projeto tem origem em um modelo elaborado por Thiago Aquino, mas exigiu uma adaptação rigorosa para ser aplicada a estudantes mais jovens do ensino fundamental, que possuem menor capacidade de abstração e autorregulação. A equipe da UnB preservou a coerência teórica da Logoterapia, mas ajustou a linguagem e o formato para respeitar as características cognitivas e emocionais da adolescência inicial.

A versão revisada mantém os princípios centrais — reflexão existencial, discussão de valores e exploração do sentido da vida — mas reorganiza a apresentação por meio de dinâmicas curtas, lúdicas e exemplos concretos próximos à realidade escolar. Essas escolhas dialogam diretamente com teorias construtivistas e socioemocionais, reconhecendo que a elaboração simbólica ainda está em pleno desenvolvimento nessa fase. Em termos emocionais, a intervenção oferece espaços seguros de reflexão, promovendo acolhimento e a expressão guiada de sentimentos, tornando os conteúdos existenciais eticamente adequados e emocionalmente manejáveis.

O projeto mobiliza estratégias pedagógicas reconhecidas na educação humanista: os diálogos socráticos estimulam questionamentos abertos e a construção ativa de sentido; as analogias tornam conceitos abstratos tangíveis; as fábulas funcionam como espaços simbólicos seguros, permitindo a projeção emocional sem exposição direta; e os dilemas morais incentivam o raciocínio ético e a autonomia. Em conjunto, essas ferramentas fortalecem o autoconhecimento, a reflexão crítica e o propósito, pilares essenciais para o desenvolvimento integral do jovem.

Mensurando o Sentido da Vida: Avaliação Quanti-Qualitativa

Para mensurar os efeitos da intervenção de forma robusta, o estudo adotou um delineamento quanti-qualitativo rigoroso. As turmas participantes foram sorteadas entre grupo experimental e grupo controle, com aplicação de pré e pós-teste. O componente quantitativo utilizou instrumentos padronizados, como o Questionário de Sentido da Vida, uma ferramenta validada internacionalmente que avalia dimensões como presença de propósito, clareza de metas e coerência existencial.

No entanto, a equipe reconhece que os números sozinhos não contam a história completa. O componente qualitativo aprofundou as transformações subjetivas por meio de narrativas, desenhos, produções escritas e falas espontâneas. “Os dados quantitativos mostram a mudança. As narrativas mostram o caminho. Precisamos dos dois para compreender como o estudante elabora sentido, reconhece valores e transforma a forma de olhar para a própria vida”, enfatiza Kátia Meneses. Essa combinação de abordagens garante que fenômenos complexos como propósito e bem-estar emocional sejam avaliados de forma completa e rigorosa.

Impacto Estrutural e Políticas Públicas

Os resultados preliminares demonstram que fortalecer o sentido de vida dos estudantes produz efeitos concretos que vão além da saúde mental. Com maior clareza de propósito e capacidade de autorregulação, os adolescentes apresentam menos comportamentos impulsivos e agressivos, contribuindo significativamente para a redução de conflitos e a melhoria do clima escolar. O engajamento escolar também cresce, pois os estudantes passam a compreender o valor da educação para seus projetos pessoais, ampliando o foco, a organização e a persistência.

O presidente da FAPDF, Leonardo Reisman, destaca o papel da ciência aplicada na transformação educacional: “A pesquisa mostra que, quando oferecemos aos estudantes instrumentos para compreender quem são e o que valorizam, fortalecemos não apenas a saúde emocional, mas também a convivência, o engajamento e o desempenho escolar. Ciência de qualidade salva vidas e orienta políticas públicas, e a FAPDF vai continuar apoiando iniciativas que façam essa diferença.”

O financiamento da FAPDF foi crucial não apenas para viabilizar a intervenção, mas também para estruturar a metodologia para escalabilidade. Foram criados vídeos, cartilhas, guias pedagógicos e manuais destinados à formação docente. Essa estrutura robusta permite que a metodologia seja integrada ao Plano Distrital de Prevenção do Suicídio, à formação continuada de professores e a fluxos intersetoriais entre escola e saúde, pavimentando o caminho para uma política educacional continuada e eficaz.