Edição Brasília

Líderes impulsionam equidade de gênero e raça: desafios e avanços no trabalho

Em Brasília, nesta terça (2), mulheres líderes debateram desafios e avanços na promoção da equidade de gênero e raça no ambiente de trabalho, impulsionando melhores resultados.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mulheres líderes de todo o Brasil se reuniram em Brasília, nesta terça-feira (2), para um debate fundamental sobre os desafios e os progressos na promoção da equidade de gênero e raça no ambiente corporativo. A discussão, realizada por profissionais influentes, ressaltou como a inclusão e a diversidade são capazes de impulsionar resultados econômicos, financeiros e socioambientais superiores.

O encontro em Brasília reuniu figuras proeminentes que, a partir de suas próprias trajetórias, partilharam relatos poderosos. Elas enfatizaram a importância de combater ativamente as dinâmicas de discriminação e desigualdade que ainda persistem no cenário profissional, mostrando que um ambiente mais justo não é apenas uma questão de ética, mas também de eficiência e inovação.

Experiências e Perspectivas na Liderança Feminina

Alessandra Souza, vice-presidente de Marketing e Comunicação de Marca de uma renomada montadora de veículos multinacional, lidera uma equipe majoritariamente feminina, refletindo a diversidade de raças e regiões do Brasil. Embora hoje desfrute de uma carreira consolidada e bem-sucedida, ela recorda que o percurso nem sempre foi linear. Alessandra enfrentou uma sutil, porém constante, tendência de ter sua gestão “masculinizada” no início de sua jornada.

Consequentemente, sua grande virada ocorreu quando ela decidiu abraçar sua própria autenticidade. “Minha carreira de fato avançou quando eu parei de tentar ser algo que não me representava”, ela explica, acrescentando: “Deixei de me ajustar a padrões que não eram adequados para mim, nem para a organização, e que, na verdade, pouco agregavam valor à minha atuação.” Esse reconhecimento da própria identidade foi um divisor de águas para sua ascensão profissional.

Assim como Alessandra, Ana Paula Repezza, diretora de Negócio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), vivenciou um período de grande desenvolvimento pessoal e profissional após uma licença-maternidade. Essa fase lhe proporcionou experiências únicas, que não poderiam ter sido adquiridas exclusivamente no ambiente corporativo.

Nesse sentido, Ana Paula destaca que a conciliação entre família e trabalho é um catalisador para aprimorar as habilidades de liderança. “De fato, nós nos tornamos líderes mais eficazes quando encaramos o desafio de equilibrar a vida familiar e profissional”, ela aponta. Além disso, essa jornada ensina a delegar com eficiência, a priorizar tarefas importantes, a confiar na capacidade das equipes e, sobretudo, a desenvolver uma empatia maior, olhando para outras mulheres com a mesma compreensão e suporte que desejamos para nós mesmas.

Iniciativas e Resultados do Programa Pró-Equidade

Adicionalmente às suas trajetórias de sucesso, Alessandra e Ana Paula compartilham o fato de suas empresas terem aderido à 7ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça. Este é um importante programa de política pública que busca promover novas abordagens na gestão de pessoas e na cultura organizacional. Seu principal objetivo é combater as dinâmicas de discriminação e desigualdade de gênero e raça que ainda persistem no ambiente de trabalho brasileiro.

O Ministério das Mulheres é o responsável por promover esta iniciativa vital. O programa não apenas incentiva as boas práticas já existentes nas empresas e organizações, mas também confere o Selo Pró-Equidade de Gênero e Raça àquelas que demonstram um compromisso firme com a igualdade entre mulheres e homens no mundo do trabalho. Desse modo, a certificação funciona como um reconhecimento e um estímulo contínuo.

O debate entre as líderes foi parte integrante de um seminário mais amplo, concebido para apoiar a implementação das ações nas empresas e, consequentemente, discutir novas estratégias e desafios na criação de ambientes corporativos mais justos. Tais ambientes são cruciais para fazer frente a realidades desafiadoras, como a revelada no 4º Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Publicado no início de novembro, o relatório apresentou um dado alarmante: as mulheres ainda recebem, em média, 21,2% menos que os homens. Analisando o salário médio nas 54.041 empresas que enviaram dados, verificou-se que a remuneração média das mulheres é de R$3.908,76, enquanto a dos homens alcança R$4.958,43. Isso demonstra a persistência de uma significativa disparidade salarial.

Engajamento Empresarial e Impacto Social Profundo

Atualmente, 88 empresas de todas as cinco regiões do país estão ativamente envolvidas no Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça. Juntas, elas buscam desenvolver e implementar mais ações eficazes para enfrentar a desigualdade e a discriminação. Ao longo das sete edições do programa, um total de 246 organizações já aderiram, sendo nove delas participantes desde a primeira edição, o que demonstra um compromisso duradouro.

A Caixa Econômica Federal, por exemplo, é uma das instituições que aderiram ao programa. Glenda Nóbrega, gerente executiva de diversidade e inclusão na Caixa, acredita firmemente que as iniciativas promovidas pelas empresas têm o poder de transformar todo o ambiente corporativo, gerando mais oportunidades para todos. Ela enfatiza três pilares essenciais em sua própria trajetória: ter pessoas que a impulsionassem, estar sempre preparada para as oportunidades que surgiam e, fundamentalmente, contar com um ambiente empresarial favorável ao crescimento, seja para mulheres, pessoas pretas ou pessoas com deficiência.

Por outro lado, Tereza Cristina de Oliveira, diretora de administração da Embrapa Tabuleiros Costeiros, enxerga os resultados da política pública de equidade com uma dimensão ainda maior. Para ela, o impacto vai além do corporativo, tendo a capacidade de transformar indivíduos e, consequentemente, influenciar toda a sociedade. Entretanto, ela reforça a necessidade de que as próprias mulheres em cargos de liderança rompam barreiras e, ativamente, criem oportunidades para outras.

Em conclusão, Tereza Cristina finaliza com uma reflexão poderosa: “Se não tivermos a clareza de que as mudanças na sociedade dependem do nosso envolvimento, da nossa luta e das nossas escolhas, então não estaremos cumprindo nosso papel enquanto seres humanos nem contribuindo para as transformações que desejamos.” Assim, a responsabilidade de construir um futuro mais igualitário recai sobre o engajamento coletivo e a ação individual.