Diversidade avança no Executivo, mas desafios persistem
Um novo estudo do Núcleo Afro-Cebrap revela um cenário otimista, mas desafiador. A presença de lideranças negras no Executivo Federal aumentou nos últimos 25 anos, mas as barreiras sociais e institucionais ainda limitam o acesso a cargos de maior influência.
O relatório “Lideranças Negras no Estado Brasileiro (1995-2024)”, divulgado nesta sexta-feira (28), analisou trajetórias e perfis de 20 pessoas negras em funções de chefia, coordenação e direção entre 1995 e 2024. O grupo inclui ministros, secretários e assessores, todos com formação superior e ampla experiência profissional.
Perfil altamente qualificado e origem popular
A pesquisa revela que essas lideranças apresentam alto nível de qualificação técnica e acadêmica. Muitos estudaram em universidades públicas e possuem pós-graduação ou formação no exterior.
Segundo a coordenadora do estudo, Flavia Rios, da Universidade Federal Fluminense, a maioria das pessoas entrevistadas veio de classes sociais populares. “Raramente encontramos alguém com origem elitizada. São histórias de superação, de quem trilhou um caminho difícil até chegar ao topo”, afirma.
Essa origem social, combinada com uma qualificação expressiva, mostra que o mérito individual é evidente. Mas, mesmo com preparo técnico, o acesso aos espaços de poder esbarra em falta de redes de influência.
Barreiras invisíveis e constrangimentos no cotidiano
Muitos relataram situações constrangedoras durante o exercício de suas funções. Alguns foram confundidos com seguranças ou porteiros, mesmo ocupando cargos estratégicos.
Além disso, a ausência de “capital social” — como ter parentes em cargos públicos — ainda dificulta a ascensão. “Eles são os primeiros de suas famílias a ocupar esses espaços. Isso limita o alcance em redes de confiança que facilitam nomeações”, explica Rios.
Apesar disso, os entrevistados afirmaram circular bem em diferentes ambientes e defenderam de forma unânime as ações afirmativas, como cotas raciais e o letramento racial institucional.
Ações afirmativas e novos espaços de inclusão
Mesmo sem terem sido beneficiados diretamente por cotas, todos destacaram sua importância para uma gestão pública mais plural. Eles apontam que ações afirmativas garantem o ingresso, mas não asseguram mobilidade na carreira pública, ainda marcada por desigualdades.
A criação de assessorias de Participação Social e Diversidade, implementadas a partir de 2023, surge como oportunidade concreta de ascensão. Esses espaços permitem que profissionais qualificados proponham políticas de diversidade nos ministérios.
Lideranças negras como referência e ponto de virada
A presença de pessoas negras em cargos de liderança também representa um ponto de virada para novas gerações. Um dos entrevistados destacou que foi indicado para um cargo apenas após o convite de uma mulher negra em posição de liderança.
Outros mencionaram que a experiência técnica, a troca de governo e a articulação política foram fatores-chave para suas nomeações.
O estudo reforça que o fortalecimento de políticas públicas voltadas à diversidade é essencial para consolidar uma administração pública mais justa e representativa.