A Justiça fluminense proferiu uma decisão crucial ao revogar o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) imposto ao bicheiro Rogério Andrade. Com essa determinação, ele será transferido da penitenciária federal de segurança máxima em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde estava detido desde novembro do ano passado, para uma unidade prisional no Rio de Janeiro. Essa mudança representa um desdobramento significativo em seu processo judicial.
Decisão Judicial e os Critérios para o RDD
A 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro foi a responsável por essa revogação. Segundo o entendimento dos desembargadores, Rogério Andrade não se enquadra no perfil que justifica sua permanência no sistema penitenciário federal. O relator do processo, desembargador Marcius da Costa Ferreira, assinalou a natureza “excepcionalíssima” do RDD. Ele enfatizou, portanto, que tal regime deve ser aplicado apenas quando sua “efetiva indispensabilidade” é comprovada, uma condição que, neste caso, não foi verificada.
Dessa forma, a decisão judicial conclui que “o custodiado não apresenta perfil compatível aos critérios do sistema penitenciário federal, evidenciando a existência de constrangimento ilegal”. Consequentemente, a medida ordena a transferência de Andrade para o sistema prisional estadual do Rio, onde ele deverá continuar cumprindo sua custódia cautelar.
Manutenção da Prisão Preventiva
Apesar da revogação do RDD e da iminente transferência, é importante ressaltar que a prisão preventiva de Rogério Andrade permanece plenamente fundamentada. As investigações em curso não foram descaracterizadas pelo decreto de prisão. Portanto, a Justiça argumenta que subsistem “riscos concretos à ordem pública e à instrução criminal”. Essa avaliação judicial sublinha a continuidade da cautela processual em relação ao bicheiro e a relevância das apurações em andamento.
Legado Familiar e o Jogo do Bicho
Rogério Andrade, por sua vez, carrega um sobrenome de peso no submundo carioca, sendo sobrinho de Castor de Andrade. Castor foi uma figura emblemática, um dos mais influentes chefes do jogo do bicho no Rio de Janeiro e o respeitado patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Sua morte, em 1997, decorrente de uma doença cardíaca, marcou o fim de uma era no universo da contravenção.
Em seguida, o falecimento de Castor deflagrou uma intensa e sangrenta disputa familiar pela herança e pelo controle dos negócios ilícitos. Nesse contexto, Paulinho de Andrade, filho de Castor, foi assassinado na Barra da Tijuca em 1998, crime que foi atribuído a Rogério. Além disso, Fernando Iggnácio, genro de Castor e casado com sua filha, também foi vítima de assassinato, em um trágico desdobramento dessa rivalidade familiar.
O Assassinato de Fernando Iggnácio
A ligação de Rogério Andrade com o assassinato de Fernando Iggnácio é um dos pontos centrais de sua prisão mais recente. Ele foi detido em outubro de 2024, acusado de ser o mandante da morte de Iggnácio, ocorrida em 2020. Os detalhes do crime são particularmente chocantes. O homicídio aconteceu no estacionamento de um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, momento em que Iggnácio acabara de desembarcar de seu helicóptero, retornando de sua casa de praia em Angra dos Reis.
Ademais, a vítima foi atingida por três tiros de fuzil, sendo um deles fatalmente na cabeça, resultando em morte instantânea. O atirador, segundo as investigações, estava emboscado em um terreno baldio adjacente ao heliporto. O caso ilustra a brutalidade e a complexidade das disputas no universo do jogo do bicho, que historicamente envolvem nomes de grande influência na cidade do Rio de Janeiro e frequentemente culminam em episódios de violência extrema.



