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Junho Quente: Europa Triplica Mortes em Ondas de Calor Recordes

Ondas de calor recordes em junho triplicaram o número de mortes na Europa, com Milão, Paris e Barcelona entre as cidades mais afetadas.
Foto: Dados do Copernicus Sentinel (2025), processados ​​pela ESA

O mês de junho de 2024 ficará marcado na história da Europa como um período de calor extremo, com ondas de calor recordes que triplicaram o número de mortes em comparação com anos anteriores. Cidades como Milão, Paris e Barcelona foram particularmente afetadas, enfrentando um aumento alarmante na mortalidade relacionada ao calor.

Ondas de Calor Excepcionais Atingem o Continente

A Europa experimentou duas ondas de calor “excepcionais” durante o mês de junho. A primeira ocorreu entre 17 e 22 de junho, e a segunda a partir de 30 de junho. Durante esses períodos, as temperaturas ultrapassaram consistentemente os 40 graus Celsius em diversos países, chegando a atingir 46°C em algumas regiões da Espanha e de Portugal.

De acordo com o Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas da União Europeia, o Copernicus, o dia 30 de junho foi considerado “um dos dias de verão mais quentes de que se tem registro” na Europa. Além disso, a sensação térmica ao norte de Lisboa atingiu alarmantes 48°C, indicando um nível de “stress térmico extremo”.

Estudo Revela Impacto Devastador nas Taxas de Mortalidade

Um estudo preliminar, com a colaboração de diversas organizações como o Instituto Grantham, do Imperial College de Londres, revelou que as ondas de calor foram responsáveis por triplicar o número de mortes em junho na Europa. Os cientistas descreveram a onda de calor no final de junho como “silenciosamente devastadora”, alertando para os perigos ocultos do calor extremo.

Milhares de Mortes Atribuídas ao Calor Intenso

Análises preliminares das temperaturas registradas em 12 cidades europeias indicam que o calor foi diretamente responsável por 2,3 mil mortes. Os pesquisadores alertam que este elevado número de mortes, registrado em um único evento de calor extremo, pode indicar que o verão de 2024 será um dos mais perigosos dos últimos tempos.

Entre 23 de junho e 2 de julho, Milão foi a cidade com o maior número de óbitos relacionados ao calor, registrando 317 mortes. Paris, Barcelona e Londres também apresentaram números alarmantes, enquanto Lisboa contabilizou 21 mortes no mesmo período.

Idosos são os Mais Vulneráveis

A análise dos dados também revelou que a mortalidade é significativamente mais alta entre pessoas com mais de 65 anos. Nessa faixa etária, estima-se que 88% das mortes foram causadas pelo clima extremo. Os autores do estudo enfatizam que o calor extremo representa uma ameaça “subestimada”, pois a maioria das vítimas falece em casa ou em hospitais, “longe dos olhos do público”.

Ben Clarke, climatologista do Imperial College de Londres e coautor da pesquisa, explicou que, embora as “ondas de calor não deixem um rastro de destruição visível como incêndios florestais ou tempestades”, elas podem ser ainda mais letais. Segundo ele, os impactos são frequentemente invisíveis, mas “silenciosamente devastadores”, e uma pequena mudança de temperatura pode significar a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas.

Calor Extremo em Escala Global

Além da Europa, o mês de junho também registrou um aumento significativo nas “noites tropicais” perigosas, nas quais as temperaturas noturnas permanecem acima de 20°C, conforme apontam as conclusões do serviço de observação da Terra da União Europeia, o Copernicus.

De acordo com cálculos da Agência France-Presse, baseados em dados do Copernicus, 12 países e cerca de 790 milhões de pessoas em todo o mundo vivenciaram o junho mais quente já registrado. Essa tendência foi observada no Japão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Paquistão e Tajiquistão.

A climatologista do Copernicus, Samantha Burgess, alertou em comunicado que “as ondas de calor serão mais frequentes, mais intensas e atingirão cada vez mais pessoas na Europa”, reforçando a urgência de medidas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Impacto no Ecossistema Marinho

A onda de calor não se limitou à terra firme. No Mediterrâneo ocidental, o Copernicus registrou uma onda de calor marinha “excepcional”, com a temperatura média diária da superfície do mar atingindo um recorde histórico. Em junho, as temperaturas da superfície do Mediterrâneo dispararam, alcançando uma média de 27°C no dia 30.

Essas temperaturas elevadas têm um impacto significativo no ecossistema marinho, desequilibrando a vida marinha, afetando os peixes e dizimando plantas marinhas que servem de alimento para diversas espécies.

Em conclusão, o verão de 2024 na Europa, e em outras partes do mundo, representa um alerta preocupante sobre os efeitos cada vez mais intensos das mudanças climáticas, exigindo ações urgentes para proteger a saúde humana e o meio ambiente.