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Japão desenvolve primeiro frango de laboratório com corte inteiro e aponta futuro da alimentação sustentável

Avanço científico pode revolucionar a indústria alimentícia, oferecendo carne mais sustentável e reduzindo impactos ambientais causados pela pecuária tradicional.
Carne de laboratório no japão
Foto: Shoji Takeuchi/Universidade de Tóquio

Frango de laboratório marca nova era da produção de carne

Pesquisadores da Universidade de Tóquio conquistaram um feito inédito: criaram o primeiro pedaço inteiro de frango cultivado em laboratório. O resultado, publicado na revista Trends in Biotechnology, também ganhou espaço na Nature, mostrando a relevância internacional do estudo.

Liderada pelo engenheiro Shoji Takeuchi, a equipe desenvolveu um nugget de 11 gramas e sete centímetros. Diferente de outras experiências anteriores, que produziam apenas carne moída ou desfiada, os cientistas conseguiram gerar um corte real, semelhante ao que encontramos nos mercados.

Biorreator simula sistema circulatório e permite cultivo saudável

Produzir carne em laboratório exige mais do que células e nutrientes. É preciso simular as condições do corpo animal, especialmente a distribuição de oxigênio. Muitas tentativas falharam porque as células morriam antes de formar um tecido consistente.

Para superar essa limitação, a equipe desenvolveu um biorreator que imita o sistema circulatório dos animais. O equipamento usa fios ocos, semelhantes a canudos, que funcionam como vasos sanguíneos artificiais. Por eles, passam oxigênio e nutrientes, mantendo o tecido vivo e em crescimento.

Veja o passo a passo do processo:

  • A equipe misturou células de frango com hidrogel;
  • Em seguida, inseriu a mistura no biorreator;
  • Fibras finas transportaram nutrientes e oxigênio diretamente às células;
  • Esse fluxo constante manteve o tecido muscular saudável;
  • O resultado foi um pedaço de carne real, pronto para análise.

Impacto ambiental positivo e benefícios sociais

O avanço representa mais do que uma inovação científica. Ele aponta caminhos concretos para reduzir os impactos da pecuária no meio ambiente. A criação de gado, por exemplo, responde por grandes volumes de emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, essa emissão supera o dobro do limite necessário para atender acordos climáticos internacionais.

Além disso, o cultivo de carne em laboratório pode ajudar regiões com escassez de proteína animal. Em vez de depender de grandes fazendas e longas cadeias logísticas, os países poderiam produzir carne localmente, com menor custo ambiental.

Pesquisadores projetam cortes maiores no futuro

A criação desse primeiro nugget comprova que é possível produzir cortes inteiros em laboratório. Por isso, a equipe agora planeja aplicar a mesma técnica a carnes bovinas, suínas e peixes.

Embora ainda exista um longo caminho até a produção em escala comercial, o desenvolvimento marca um passo promissor. Afinal, a ciência oferece uma alternativa viável à criação convencional de animais, com potencial de transformar a indústria alimentícia nas próximas décadas.o importante rumo a uma alimentação mais sustentável e acessível para todos.