A usina hidrelétrica de Itaipu, um empreendimento binacional situado na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, concluiu a primeira fase de montagem de sua ilha solar flutuante. Este projeto inovador, localizado no vasto reservatório do Rio Paraná, foi idealizado para gerar energia limpa destinada ao consumo próprio da usina, com a expectativa de iniciar suas operações já em novembro.
Detalhes Técnicos e Próximos Passos do Projeto
O empreendimento consiste na instalação de 1.568 painéis fotovoltaicos ancorados no leito do reservatório. Este mesmo corpo hídrico é crucial, pois suas águas movem as 20 turbinas de Itaipu, responsáveis pela geração de energia elétrica. A etapa inicial de montagem foi finalizada em 26 de setembro, conforme anunciado pela empresa na última sexta-feira, dia 3 de outubro.
A ilha solar abrange uma área de 7,6 mil metros quadrados, dimensão que equivale aproximadamente a um campo de futebol. Com a conclusão da montagem, os próximos passos do projeto piloto incluem a instalação dos equipamentos finais e a conexão dos cabos de energia e comunicação, processo que deve ocorrer nas próximas duas semanas. Posteriormente, serão realizados testes: primeiramente os “frios”, sem geração de energia, e em seguida os “quentes”, já com energização para verificar o pleno funcionamento do sistema.
A estimativa de Itaipu é que a operação efetiva comece no próximo mês de novembro. Nesse sentido, a ilha deverá produzir 1 MWp (megawatt-pico), uma medida que representa a capacidade máxima de geração de energia. Essa quantidade de eletricidade limpa é suficiente para abastecer cerca de 650 residências e será integralmente direcionada ao consumo interno da hidrelétrica, otimizando sua eficiência energética.
Ajustes no Cronograma e Segurança Operacional
A Agência Brasil, ao visitar o local em julho, verificou que a construção estava com 60% de conclusão. Naquele momento, a previsão inicial de entrega do projeto era para setembro. Entretanto, o cronograma sofreu pequenos ajustes em decorrência de fatores climáticos e de segurança.
O engenheiro Márcio Massakiti Kubo, da Superintendência de Energias Renováveis de Itaipu, esclareceu que “o cronograma sofreu pequenos ajustes devido às chuvas e à necessidade de garantir a segurança dos trabalhadores e da operação da hidrelétrica”. Adicionalmente, ele ressaltou que a montagem da ilha solar exigiu cuidados especiais, uma vez que a estrutura está localizada em uma área próxima ao vertedouro — dispositivo responsável por liberar o excesso de água do reservatório — e também junto à zona náutica de segurança operativa da usina.
O investimento total para este projeto é de US$ 854,5 mil, o que corresponde a aproximadamente R$ 4,5 milhões. As obras estão sendo executadas por um consórcio binacional, formado pela empresa brasileira Sunlution e pela paraguaia Luxacril, que foi a vencedora da licitação pública.
Período de Avaliação e Potencial de Expansão
Após o início da operação, a ilha solar entrará em um período de avaliação que se estenderá por um ano. Durante esse tempo, serão analisadas a viabilidade técnica do sistema, os benefícios gerados e, igualmente importante, os possíveis impactos ambientais. Esta análise aprofundada será fundamental para subsidiar futuras decisões sobre uma eventual expansão do sistema fotovoltaico no reservatório.
Estimativas internas de Itaipu sugerem que a cobertura de apenas 1% da área total do reservatório poderia gerar até 3,6 TWh (terawatts-hora) por ano. Esse volume representa cerca de 4% da produção anual da hidrelétrica registrada em 2023. Do ponto de vista ambiental, a empresa destacou que “não foram identificados impactos significativos na literatura especializada, o que encorajou a realização do projeto”. Dessa forma, o projeto-piloto prevê monitoramentos contínuos para avaliar quaisquer efeitos sobre a biodiversidade local, incluindo alterações no habitat de aves e peixes, na qualidade da água e na ocorrência de floração de algas, entre outros aspectos.
Visão Futura: Ampliação da Capacidade Energética
Durante a visita da Agência Brasil, Rogério Meneghetti, superintendente da Assessoria de Energias Renováveis de Itaipu, compartilhou uma visão ambiciosa. Ele estimou que, se no futuro a usina conseguir cobrir 10% de seu reservatório com placas solares, seria possível gerar 14 mil MW. Tal capacidade representaria uma duplicação da atual produção da empresa, transformando-a em uma fonte de energia muito mais diversificada, para além de sua função hidrelétrica primordial.
No entanto, Meneghetti ponderou que nem todas as áreas do reservatório são adequadas para a instalação de painéis. Por exemplo, regiões destinadas à navegação e à reprodução de peixes são consideradas exclusivas e, portanto, não seriam utilizadas para esse fim. Além disso, a estratégia de diversificação de fontes energéticas de Itaipu não se limita à energia solar; a empresa também pesquisa a produção de hidrogênio verde e biocombustíveis. Uma iniciativa notável, por exemplo, envolve a conversão de apreensões de contrabando em biogás, demonstrando um compromisso com soluções inovadoras e sustentáveis.
O Legado de Itaipu e Seus Marcos de Produção
Responsável por aproximadamente 9% da produção de energia elétrica consumida no Brasil, a hidrelétrica de Itaipu é, de fato, um marco da engenharia binacional, com sua parte brasileira localizada em Foz do Iguaçu, no Paraná. Recentemente, a usina alcançou um feito histórico: em 5 de setembro, totalizou a marca de 3,1 bilhões de megawatts-hora (MWh) produzidos desde o início de suas operações em 1984.
Para ilustrar a grandiosidade desse número, a produção acumulada de 3,1 bilhões de MWh seria suficiente para abastecer o mundo inteiro por 44 dias ou, alternativamente, o Brasil por um período de seis anos e um mês. Portanto, a integração da energia solar flutuante representa mais um passo da usina em direção à otimização e diversificação de sua matriz energética, solidificando seu papel como um dos pilares da segurança energética da região.