Edição Brasília

Inteligência Artificial e a Penicilina

Imagem: Freepik

Em setembro de 1928, um cientista estava conduzindo experimentos com bactérias e por um descuido deixou algumas placas de Petri, contendo as bactérias em sua bancada de trabalho antes de sair de férias. Ao retornar das férias, notou que uma das placas estava contaminada com mofo, e ao observar mais de perto, percebeu que as bactérias ao redor do mofo estavam sendo destruídas. O cientista identificou que esse mofo produzia uma substância antibacteriana. Ele dedicou tempo ao isolamento e estudo dessa substância, demonstrando suas propriedades antibacterianas contra uma variedade de bactérias. O mofo em questão foi identificado como sendo do gênero Penicillium. A substância descoberta foi denominada de Penicilina e o cientista em questão, Alexander Fleming, posteriormente recebeu o prêmio Nobel.

A penicilina teve um impacto transformador na medicina, proporcionando um tratamento eficaz para infecções bacterianas que anteriormente eram muitas vezes fatais. A descoberta da penicilina não apenas revolucionou a prática médica, mas também abriu o caminho para o desenvolvimento de outros antibióticos e teve um impacto profundo na luta contra doenças infecciosas em todo o mundo. Trata-se de uma descoberta que aumentou significativamente a expectativa de vida de toda a humanidade e que foi fruto de um mero acaso.

A história da ciência está repleta de descobertas que ocorreram dessa forma, muitas vezes por acidente, algum descuido ou quando os pesquisadores estavam procurando algo completamente diferente. Esses eventos fortuitos revolucionaram campos inteiros da ciência.

Além da penicilina pode-se citar o caso do raio-x (quando um pedaço de papel especial brilhou mesmo estando dentro de uma gaveta), do Viagra (quando durante os testes clínicos de um medicamento para tratar doenças cardiovasculares notou-se efeitos colaterais inesperados relacionados à função erétil), do micro-ondas (quando uma barra de chocolate derreteu no bolso do cientista que conduzia o experimento), entre muitos outros.

Pois bem, nessa última quarta-feira, dia 29/11, ocorreu um marco importante e que poderá aumentar exponencialmente o volume de novas descobertas científicas e o aprimoramento de tecnologias no mundo. A revista científica Nature, publicou um artigo de autoria da equipe do DeepMind, empresa controlada pelo Google, que conseguiu prever a estrutura de mais de dois milhões de novos materiais utilizando técnicas de Inteligência Artificial.

Foi utilizada uma tecnologia chamada GNN (Graph Neural Network) para modelar as interações entre os átomos e as moléculas dos materiais, estimando propriedades como a energia de formação, a dureza, a condutividade térmica e elétrica, a densidade, o coeficiente de Poisson, entre outras propriedades de mais de 2 milhões de materiais hipotéticos, que ainda não foram nem sintetizados nem testados experimentalmente, ou seja, nunca existiram.

Eles validaram as previsões da GNN com dados experimentais e teóricos disponíveis, e encontraram uma boa concordância entre eles, indicando que o algoritmo é capaz de capturar as relações físico-químicas dos materiais. A GNN também identificou materiais candidatos para aplicações específicas, como baterias, células solares, sensores e catalisadores, entre outros.

Se antes contávamos com o acaso para destravar grandes descobertas científicas, agora temos a Inteligência Artificial, que testa e filtra previamente as inúmeras possibilidades de novos materiais e nos apresenta um universo mais assertivo de materiais possíveis para cada tipo de aplicação.

Prezado leitor, isso é absolutamente revolucionário e representa uma expansão, numa escala sem precedentes no universo de materiais e moléculas que poderão ser sintetizados pela humanidade.

Em um ano repleto de notícias negativas como guerras, catástrofes e muitos outros problemas, o artigo publicado pela Nature é um verdadeiro alento e renova minha esperança em um futuro melhor para a humanidade.

Para quem se interessar o artigo pode ser acessado pelo link: https://www.nature.com/articles/s41586-023-06735-9

Bruno Brito – Colunista Edição Brasília

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