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Indústria: Empresas com IA crescem 163% em 2 anos, diz IBGE

A pesquisa Pintec do IBGE revela que empresas industriais com IA saltaram 163% em dois anos, totalizando 4.261 companhias e 41,9% do setor.
Crescimento IA indústria Brasil
Foto: Rawpick/Freepick

O cenário industrial brasileiro testemunhou um avanço notável na adoção da inteligência artificial (IA) nos últimos dois anos. Uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o número de empresas industriais que incorporam essa tecnologia em suas operações mais que dobrou, registrando um crescimento de impressionantes 163%. Consequentemente, o total de companhias com IA atingiu a marca de 4.261 em 2024, representando expressivos 41,9% do setor.

Expansão Acelerada da IA na Indústria

Entre 2022 e 2024, a quantidade de empresas industriais brasileiras que utilizam inteligência artificial saltou de 1.619 para 4.261. Esse incremento substancial indica uma transformação significativa no panorama tecnológico do setor. Em particular, a porcentagem de empresas industriais pesquisadas que já empregavam IA subiu de 16,9% para 41,9% durante o primeiro semestre do ano passado, evidenciando uma rápida curva de adoção.

Essas descobertas são provenientes da Pesquisa de Inovação Semestral (Pintec), divulgada pelo IBGE. O levantamento envolveu uma amostra representativa de 1.731 empresas do setor industrial, dentro de um universo de 10.167 companhias com cem ou mais funcionários. Além disso, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), uma organização sem fins lucrativos, financiou o estudo, que contou também com o apoio técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A Ascensão da IA Generativa Impulsiona o Crescimento

Flávio José Marques Peixoto, gerente de pesquisas temáticas do IBGE, atribui grande parte desse avanço da IA na indústria ao uso crescente das inteligências artificiais generativas. Ele destaca que estas são tecnologias capazes de criar conteúdos variados, como textos e imagens, um fenômeno impulsionado pela popularização de ferramentas como o ChatGPT.

Em seguida, Peixoto contextualiza que o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022 e sua ampla difusão em 2023 coincidiram com o período das duas pesquisas. Portanto, ele sugere que a maior disponibilidade e acessibilidade dessas IAs generativas estão diretamente relacionadas ao aumento observado. Além disso, a facilidade de integração dessas soluções tem contribuído para sua rápida disseminação no ambiente corporativo.

Diversidade de Aplicações de IA no Setor Industrial

Flávio Peixoto também listou uma série de outras modalidades de inteligência artificial que conquistaram espaço significativo nas empresas industriais. Entre elas, destacam-se a mineração de dados, o reconhecimento de fala, o reconhecimento de processo de imagem, a geração de linguagem natural (GLN), o aprendizado de máquina (machine learning) e a automatização de processos e fluxos de trabalho.

Adicionalmente, uma aplicação que demonstra ser particularmente relevante para a indústria é a manutenção preditiva. Peixoto explica que se trata do uso da IA em sistemas de produção para otimizar a movimentação física de máquinas e auxiliar na tomada de decisões, muitas vezes de forma autônoma. Essa capacidade de prever falhas e otimizar operações representa um grande valor agregado para o setor.

Perfil das Empresas que Adotam IA

O estudo do IBGE delineou um perfil claro das empresas que mais utilizam inteligência artificial no Brasil, mostrando uma correlação direta com o tamanho do negócio.

Tamanho e Adoção

De acordo com os dados, a utilização da IA tende a ser mais comum em companhias de maior porte. Por exemplo, 57,5% das empresas com 500 ou mais empregados já incorporam IA em suas operações. Em contrapartida, esse percentual diminui para 42,5% nas companhias com 250 a 499 funcionários e para 36,1% naquelas com 100 a 249 trabalhadores. Portanto, o acesso a recursos e a capacidade de investimento parecem ser fatores determinantes para a adoção.

Áreas de Aplicação Interna

Internamente, as áreas que mais empregam IA nas empresas são a administração, com impressionantes 87,9%, e a comercialização, que atinge 75,2%. Essas estatísticas sugerem que a inteligência artificial é amplamente utilizada para otimizar processos gerenciais e estratégias de vendas, melhorando a eficiência e o alcance de mercado.

Setores Industriais Destaque

O IBGE também identificou os ramos de atividade onde a IA possui maior e menor penetração. Entre os líderes na adoção, figuram:

  • Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos: 72,3% das empresas utilizam.
  • Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 59,3% de uso.
  • Produtos químicos: 58% das empresas empregam IA.

Por outro lado, dos 25 ramos pesquisados, os três com a menor taxa de adoção de IA são:

  • Fumo: 22,9% das empresas utilizam.
  • Couro: 20,7% de uso.
  • Manutenção, reparação e instalação de mecanismos e equipamentos: apenas 19,2% adotam.

Panorama das Tecnologias Digitais Avançadas

Além da IA, a pesquisa Pintec explorou a adesão das empresas a outras tecnologias digitais avançadas, revelando que 89% das empresas industriais (equivalente a 9.054 companhias) utilizam pelo menos uma delas.

Comparativo de Tecnologias

Embora a IA tenha crescido significativamente, outras tecnologias digitais avançadas apresentam maior penetração no setor. Apenas duas delas são usadas por mais da metade das empresas. A computação em nuvem (serviço pago) lidera, com 77,2% de adoção, seguida pela Internet das Coisas (IoT), com 50,3%. Posteriormente, vêm a robótica (30,5%), a análise de big data (27,8%) e a manufatura aditiva (impressão 3D), com 20,3%. A IA, nesse contexto, ocupa a sexta posição, com 41,9%.

Setores com Maior e Menor Uso Tecnológico

Em termos de adoção geral de tecnologia digital, os setores mais avançados são:

  • Outros equipamentos de transporte: 98,3%.
  • Máquinas, aparelhos e materiais elétricos: 97%.
  • Impressão e reprodução de gravações: 96%.

Na outra ponta, os setores com menor utilização são:

  • Fumo: 77,8%.
  • Madeira: 76,2%.
  • Celulose, papel e produtos de papel: 73,5%.

A média da indústria para o uso de tecnologia digital avançada é de 89,1%.

Combinação de Tecnologias

Os pesquisadores também mapearam a forma como as empresas combinam essas tecnologias. Constatou-se que 20,8% das empresas utilizavam apenas uma tecnologia digital avançada, enquanto 27,3% empregavam duas. Em contraste, somente 5% das companhias conjugavam as seis tecnologias investigadas. A computação em nuvem, por sua vez, destacou-se como a tecnologia mais utilizada isoladamente, sendo adotada por 64,5% das empresas que optaram por apenas uma solução.

Benefícios e Motivações da Adoção Tecnológica

A pesquisa Pintec não apenas identificou a adoção, mas também investigou os benefícios e as motivações por trás da decisão das empresas em incorporar tecnologias digitais.

Resultados Concretos

Quase nove em cada dez empresas citaram o aumento da eficiência como principal benefício do uso de tecnologias digitais (90,3%). Outros ganhos significativos incluem:

  • Maior flexibilidade em processos administrativos, produtivos e organizacionais: 89,5%.
  • Melhoria no relacionamento com clientes e/ou fornecedores: 85,6%.
  • Maior eficácia no atendimento ao mercado: 82,9%.
  • Maior capacidade de desenvolvimento de produtos ou serviços novos: 74,7%.
  • Redução do impacto ambiental: 74,1%.

Entretanto, menos da metade das empresas (43,8%) relatou a entrada em novos mercados como um benefício, enquanto 1,5% mencionou “outros” resultados.

Fatores Impulsionadores

Ao analisar as motivações, o IBGE observou que 88,6% das empresas consideraram a adesão às tecnologias como uma decisão estratégica autônoma. Além disso, 62,6% foram influenciadas por fornecedores e/ou clientes, e 51,9% apontaram a concorrência como um fator motivador. Programas de apoio, tanto públicos quanto privados, atraíram 28% das empresas, um aumento em relação aos 26% de 2022. Ainda assim, o IBGE ressalta que “poucas empresas (9,1%) se beneficiaram de programas de apoio público”, indicando um potencial subaproveitado nesse quesito.

IA como Questão de Sobrevivência

Para o analista Flávio Peixoto, os resultados da pesquisa sinalizam que a adesão às tecnologias digitais avançadas é, antes de tudo, uma questão de sobrevivência no mercado atual, e não apenas uma busca por novos mercados. Ele enfatiza que a demanda por integração tecnológica, frequentemente vinda de fornecedores e clientes, é crucial.

Em seguida, Peixoto argumenta que, se uma empresa não se move para utilizar tecnologias que permitam a integração, especialmente na logística e na cadeia de suprimentos, ela corre o risco de ser excluída. Ele exemplifica com a indústria automobilística, onde um pedido do cliente final se reflete em toda a cadeia de produção, um processo que só funciona se as tecnologias estiverem de fato integradas. Consequentemente, a adaptabilidade se torna um imperativo para a manutenção da competitividade.

Desafios na Implementação Tecnológica

Apesar dos claros benefícios e da pressão por adoção, as empresas enfrentam obstáculos significativos na implementação de tecnologias digitais avançadas.

Obstáculos Reportados

Entre as empresas industriais que já utilizam essas tecnologias, 78,6% informaram aos pesquisadores que os altos custos das soluções tecnológicas dificultaram sua adoção. Além disso, a falta de pessoal qualificado foi um impedimento para 54,2% delas. Portanto, o investimento inicial e a carência de talentos representam barreiras importantes.

Razões para Não Adoção

Para as empresas que ainda não utilizam tecnologias digitais avançadas, os desafios são semelhantes. Os altos custos foram o principal fator impeditivo, apontado por 74,3% das companhias. Similarmente, a falta de pessoal qualificado foi a segunda justificativa mais mencionada, com 60,6% das empresas. Esses dados reforçam a necessidade de políticas de incentivo e formação de mão de obra.

Queda no Teletrabalho na Indústria

Paralelamente à ascensão da IA, os pesquisadores do IBGE identificaram uma tendência de queda no percentual de empresas industriais que adotam o teletrabalho. Em 2022, 47,8% das companhias trabalhavam remotamente. Contudo, em 2024, esse número diminuiu para 43%, o que representa 4.357 empresas. Essa retração pode refletir uma reavaliação das práticas de trabalho pós-pandemia, especialmente em um setor com forte componente físico.

Perfil das Empresas com Teletrabalho

O teletrabalho ainda é mais prevalente em companhias de grande porte, com 65,3% das empresas com 500 ou mais empregados adotando o regime. Nas empresas com 250 a 499 trabalhadores, o patamar era de 39,1%, superando os negócios com 100 a 249 funcionários, que registravam 36,3%. Internamente, o teletrabalho era mais frequente em áreas como administração (94,6%) e comercialização (85%). Por outro lado, setores como produção (35,5%) e logística (51,7%) mostravam menor adesão, devido à natureza de suas atividades.