O Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelou uma projeção notável: um simples aconselhamento de apenas três minutos durante consultas médicas poderia remover meio milhão de fumantes das estatísticas brasileiras. Adicionalmente, essa medida preventiva geraria uma economia de R$ 1 bilhão para o sistema de saúde do país. A estimativa foi divulgada como um alerta crucial em celebração ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado anualmente em 29 de agosto.
O Impacto Financeiro e Social do Aconselhamento Breve
Ainda assim, a estimativa do Inca demonstra o potencial significativo de uma intervenção aparentemente pequena. Os 500 mil fumantes a menos representariam uma redução de 2,5% dos aproximadamente 20 milhões de consumidores de tabaco no Brasil. Além disso, essa diminuição não só melhoraria a saúde pública, mas também resultaria em uma economia substancial. O valor de R$ 1 bilhão abrange os custos associados a todas as condições de saúde que são provocadas ou agravadas pelo uso do cigarro.
André Szklo, pesquisador da Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco do Inca e um dos autores do estudo, expressa sua preocupação. “São números impressionantes para um país que tem tanta limitação de recursos e tantos lugares em que precisa aplicar esses recursos”, afirma. Posteriormente, ele complementa, ressaltando que essa “é uma oportunidade que estava na frente de um profissional de saúde e que se perdeu”, evidenciando a urgência de capacitar e incentivar os profissionais a atuar na prevenção.
Dados Reveladores e Oportunidades Perdidas no Atendimento
As estimativas do Inca foram embasadas em dados de pesquisas oficiais sobre a saúde da população brasileira. Por exemplo, a mais recente edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicada pelo IBGE em 2019, trouxe à tona uma realidade preocupante. Conforme o levantamento, 30,9% dos fumantes que procuraram atendimento médico ou odontológico não foram questionados sobre sua dependência de tabaco. Além disso, 18,1% desses pacientes, apesar de terem sido perguntados sobre o fumo, não receberam nenhuma orientação ou aconselhamento após admitirem o hábito.
Somadas, essas duas proporções representam um contingente de quase 10 milhões de pessoas que passaram por consultas sem receber o devido suporte. André Szklo enfatiza que indivíduos que receberam aconselhamento demonstraram uma probabilidade maior de tentar parar de fumar, em comparação com aqueles que não foram orientados. Portanto, a ação dos profissionais de saúde é crucial na luta contra o tabagismo, que, segundo o pesquisador, ainda causa 174 mil mortes por ano e gera custos de R$ 153,5 bilhões anualmente no Brasil.
Iniciativas do Inca e Recomendações Globais
Diante desse cenário, o Inca tem implementado estratégias para ampliar o alcance do aconselhamento. Este ano, por exemplo, a instituição lançou uma cartilha desenvolvida especificamente para agentes comunitários de saúde. Esses profissionais são considerados elementos importantes na oferta de aconselhamento breve durante suas visitas de rotina às residências. Em seguida, outro programa recente do Inca, o “Agora Tem Especialistas”, foca em especialidades como ginecologia, ortopedia e oftalmologia. Entretanto, os especialistas dessas áreas também são incentivados a aproveitar as consultas para oferecer o aconselhamento breve.
Adicionalmente, o aconselhamento breve em todas as consultas de rotina, com duração entre 30 segundos e 3 minutos, é uma prática recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a entidade, evidências científicas sólidas indicam que essa interação aumenta significativamente os níveis de abstinência. Além disso, a OMS destaca que o aconselhamento pode estimular os pacientes a buscarem serviços de apoio especializados para cessar o tabagismo. Felizmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento multidisciplinar e gratuito para os tabagistas, facilmente acessível nas unidades básicas de saúde em todo o país.