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IBGE: Censo 2022 revela 391 etnias e 295 línguas indígenas no Brasil

Censo 2022 do IBGE mostra 391 etnias e 295 línguas indígenas no Brasil. População cresceu 88,82% em 12 anos, e a maioria vive em cidades.
Censo 2022 etnias línguas indígenas
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Brasil é um caldeirão de culturas e identidades, conforme revelam os mais recentes dados do Censo Demográfico 2022. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta sexta-feira (24), que o país abriga um impressionante mosaico de 391 etnias e 295 línguas indígenas distintas. Os números apontam não apenas um crescimento expressivo da população indígena nas últimas doze anos, que saltou 88,82%, mas também uma mudança significativa no perfil de moradia, com a maioria dos povos residindo agora em áreas urbanas.

Aumento Notável na Diversidade Indígena

O levantamento do IBGE, intitulado “Etnias e línguas indígenas”, destaca uma ampliação considerável na identificação desses grupos e idiomas em comparação com o Censo de 2010. Naquela época, foram registradas 305 etnias e 274 línguas, um indicativo claro de que as metodologias aprimoradas permitiram uma captação mais abrangente da riqueza cultural indígena brasileira. No total, 1.694.836 pessoas indígenas estão distribuídas em 4.833 municípios, o que representa 0,83% da população total de 203 milhões de habitantes do Brasil. Este crescimento substancial significa que, em doze anos, a população indígena ganhou 896.917 novos membros.

Adicionalmente, os dados detalham as etnias mais populosas do Brasil. A etnia Tikuna lidera com 74.061 indivíduos, seguida pelos Kokama, que somam 64.327 pessoas. Em terceiro lugar, encontram-se os Makuxí, com uma população de 53.446. No âmbito linguístico, a língua Tikúna também se sobressai, sendo falada por 51.978 pessoas. Posteriormente, a língua Guarani Kaiowá é utilizada por 38.658 falantes, enquanto o Guajajara é a terceira língua mais expressiva, com 29.212 falantes.

Metodologia Aprimorada e Seus Impactos

O IBGE esclarece que a definição de etnia indígena é determinada por afinidades linguísticas, culturais e/ou sociais. Para as línguas, foram consideradas aquelas empregadas na comunicação dentro dos domicílios. Em virtude das demandas apresentadas pelos próprios povos indígenas, a pesquisa considerou dados de extrema importância para suas comunidades. Marta Antunes, Gerente de Povos e Comunidades Tradicionais e Grupos Populacionais Específicos da Diretoria de Pesquisas do IBGE, enfatiza que os resultados do censo são fundamentais para a criação e implementação de políticas públicas mais assertivas e culturalmente adaptadas a cada povo. Segundo ela, “agora, será possível analisar cada povo de maneira individualizada, entendendo sua localização, acesso a terras indígenas, residência em áreas urbanas ou rurais, o que permitirá uma adaptação étnica e cultural das políticas públicas que considere tanto a etnia quanto sua localização específica.”

No que concerne à declaração étnica, 73,08% dos indígenas afirmaram pertencer a uma única etnia, e 1,43% a duas. Por outro lado, 9,85% não declararam etnia alguma, e 13,05% disseram não saber. As declarações mal definidas e não determinadas representaram 1,60% e 0,98%, respectivamente. Comparativamente a 2010, os percentuais mantiveram-se estáveis, com uma notável redução no grupo que não sabia sua etnia (de 16,41% para 13,05%) e um aumento naqueles que não a declararam (de 6% para 9,85%). As modificações metodológicas entre os censos de 2010 e 2022 foram cruciais; vinte e cinco etnias foram desagregadas, oito etnias anteriormente agrupadas foram individualizadas, uma etnia foi criada para agregar duas isoladas em 2010, e 73 novos etnônimos foram adicionados em 2022.

Perfil Demográfico e Localização dos Povos

Uma das transformações mais significativas reveladas pelo Censo é a mudança no padrão de moradia. Em 2010, a maioria da população indígena (63,78%) vivia em áreas rurais. Entretanto, em 2022, esse panorama se inverteu, com 53,97% dos indígenas residindo em áreas urbanas. Grandes centros urbanos se destacam na concentração de diversidade étnica. São Paulo, por exemplo, é a cidade com o maior número de etnias indígenas (194), seguida por Manaus (186), Rio de Janeiro (176), Brasília (167) e Salvador (142). Fora das capitais, Campinas (SP) se destaca com 96 etnias, Santarém (PA) com 87 e Iranduba (AM) com 77.

Além disso, o número de etnias dentro das Terras Indígenas (TIs) também cresceu, passando de 250 em 2010 para 335 em 2022. Fora das TIs, foram contabilizadas 373 etnias em 2022, em contraste com as 300 registradas em 2010. Em particular, o Amazonas lidera em número de etnias identificadas dentro de TIs, com 95 em 2022 (contra 75 em 2010). O estado é seguido pelo Pará (88 em 2022, frente a 57 em 2010), Mato Grosso (79, eram 64 em 2010), Rondônia (69, ante 46 em 2010) e Roraima (62, comparado a 28 no censo anterior).

A Ocupação por Etnias em Terras Indígenas e Fora Delas

A etnia Tikúna, a mais numerosa do país com 74.061 indivíduos, tem a maioria de seus membros (71,13%) vivendo em Terras Indígenas. A Kokama, segunda maior etnia com 64.327 pessoas, apresenta um perfil diferente: apenas 12,89% residem em TIs. Grande parte, 67,65%, encontra-se em áreas urbanas fora de TIs, e 19,47% em áreas rurais fora de TIs. Já os Makuxí, com 53.446 pessoas, têm 68,31% de sua população em TIs. Em seguida, os Guarani Kaiowá, que somam 50.034 indivíduos, veem 70,46% de seus membros habitando Terras Indígenas.

A Vitalidade das Línguas Indígenas

Similarmente ao cenário das etnias, o IBGE aprimorou a coleta de dados sobre as línguas indígenas, o que contribuiu para o registro do aumento no número de idiomas falados no Brasil entre os censos. Segundo Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, esse crescimento é atribuído, em parte, ao esforço dos próprios indígenas em resgatar suas línguas, além de processos migratórios. Por exemplo, a língua Warao, pouco frequente em 2010, teve um aumento significativo de falantes devido à migração venezuelana na última década.

A língua Tikúna registrou o maior número de falantes, com 51.978 pessoas, sendo que 87,69% delas residem em Terras Indígenas. A Guarani Kaiowá aparece em segundo lugar, com 38.658 falantes, e a maioria (81,83%) também vive em TIs. Em terceiro, a língua Guajajara é utilizada por 29.212 pessoas, com uma expressiva maioria de 90,43% em TIs. Contudo, a Nheengatu se destaca como a língua indígena mais falada em áreas urbanas, com 13.070 falantes, dos quais 41,94% vivem em cidades.

Quem Fala e Onde: Panorama dos Falantes

Do total de 295 línguas identificadas, 248 são faladas dentro de Terras Indígenas, um aumento em relação às 214 registradas em 2010. Em 1.990 municípios brasileiros, pelo menos uma pessoa indígena com dois anos ou mais de idade fala uma língua indígena. Em 2022, 474.856 pessoas, ou seja, 29,19% da população indígena com dois anos ou mais, utilizavam línguas indígenas no domicílio. Desse contingente, a maior parte, 372.001 indivíduos (78,34%), estava em TIs, representando 63,35% de toda a população indígena residente nessas áreas. Fora das TIs, tanto em áreas urbanas quanto rurais, há 102.855 falantes de línguas indígenas, o que equivale a 21,66% do total de falantes. Nas cidades, este número é de 68.675 (8,36% do total), e nas áreas rurais, 34.180 (15,67%).

Manaus se firma como o município com a maior concentração de línguas indígenas declaradas, somando 99. Em seguida, aparecem São Paulo, com 78 línguas, e Brasília, com 61. Fora das capitais, São Gabriel da Cachoeira (AM) se sobressai com 68 línguas, Altamira (PA) com 33, e Iranduba (AM) com 31, consolidando a riqueza linguística do Brasil.