Um estudo publicado na revista Nature Medicine revelou um caso excepcional de resistência ao Alzheimer. Um homem, portador da mutação genética PSEN2, manteve suas funções cognitivas preservadas por décadas, mesmo apresentando placas beta-amiloides no cérebro – uma das principais características da doença.
O caso, estudado por cientistas há mais de dez anos, pode trazer novas perspectivas para o tratamento e prevenção do Alzheimer, abrindo caminho para novas estratégias terapêuticas.
Predisposição genética e resistência surpreendente
A mutação PSEN2 está diretamente associada ao desenvolvimento precoce do Alzheimer, com sintomas geralmente aparecendo por volta dos 50 anos. Na família do paciente, 11 de seus 13 irmãos manifestaram a doença. No entanto, ele permaneceu cognitivamente saudável até os 67 anos, quando faleceu por outras causas.
Pesquisadores observaram que, apesar do acúmulo significativo de placas beta-amiloides, o paciente apresentava níveis reduzidos de inflamação cerebral, um fator que pode ter sido essencial para sua proteção contra o avanço da doença.
Pesquisadores estudam a família desde 2011
O estudo foi liderado pela geneticista Maria Victoria Fernandez, da Universidade Internacional da Catalunha, na Espanha, e pelos neurocientistas Jorge Llibre-Guerra e Nelly Joseph-Mathurin, da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos.
Desde 2011, cientistas monitoram a família do paciente para entender os mecanismos que podem impedir ou retardar o desenvolvimento do Alzheimer. Entre as descobertas, destacou-se que a proteína tau, normalmente espalhada pelo cérebro de pacientes com a doença, estava restrita ao lobo occipital, área responsável pela visão. Essa limitação pode ter ajudado a preservar sua cognição.
Fatores genéticos e ambientais podem ter influenciado
Além das características genéticas, os cientistas acreditam que a profissão do paciente pode ter influenciado sua resistência à doença. Ele trabalhou por anos como mecânico naval em um navio da Marinha, onde foi exposto constantemente a altas temperaturas.
Estudos anteriores sugerem que o calor intenso pode ativar mecanismos celulares que ajudam no controle de proteínas e na resposta ao estresse térmico, fatores já associados à resistência contra doenças neurodegenerativas.
Os pesquisadores também identificaram nove variantes genéticas exclusivas no paciente, seis delas nunca antes relacionadas ao Alzheimer. Essas variantes estão ligadas a processos como inflamação cerebral e dobramento de proteínas, áreas que podem ser exploradas para o desenvolvimento de novos tratamentos.
Novas perspectivas para o tratamento do Alzheimer
Embora esse seja um caso isolado, ele abre novas possibilidades para a pesquisa sobre prevenção e tratamento do Alzheimer. Cientistas acreditam que entender como o paciente resistiu à doença pode ajudar a identificar novos alvos terapêuticos para retardar ou até impedir sua progressão.
Ainda há muito a ser descoberto sobre os mecanismos que levam ao Alzheimer. No entanto, casos como esse reforçam a importância de continuar explorando diferentes abordagens para combater a doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.