No feriado de 7 de setembro, o Rio de Janeiro foi palco de uma série de manifestações que ecoaram múltiplas pautas sociais e políticas. Enquanto o tradicional desfile cívico-militar ocupava o centro da cidade, o Grito dos Excluídos emergiu como um contraponto popular, levantando questões urgentes. Adicionalmente, um protesto de cunho bolsonarista também se fez presente em Copacabana, evidenciando a diversidade de vozes e reivindicações que marcaram a data na capital fluminense.
A Mobilização do Grito dos Excluídos
O Grito dos Excluídos, um evento já consolidado no calendário de mobilizações sociais, aconteceu a poucos metros do desfile cívico-militar, no coração do Rio. Embora a soberania nacional constituísse o tema central deste ano, o movimento articulou uma ampla gama de pautas defendidas por sindicatos e diversos movimentos sociais.
Justiça para Vítimas da Violência Estatal
Entre as vozes mais pungentes, mães de jovens vitimados por agentes do estado erguiam suas fotos, clamando por justiça. Nívia do Carmo Raposo, fundadora do Movimento de Mães e Familiares de Vítimas da Violência Letal do Estado e Desaparecidos Forçados, e mãe de Rodrigo Tavares — um militar do Exército assassinado por milicianos em 2015 —, destacou a luta por perícias independentes e julgamentos em júri popular. Ela explicou que a mesma força policial que supostamente investiga muitas vezes é a responsável pelos atos, e que, em muitas ocasiões, os casos são remetidos a júris militares, criando um conflito de interesses. Por conseguinte, o movimento busca incessantemente garantir o direito à vida para os jovens e evitar que outras mães experimentem a mesma dor.
Solidariedade Internacional e Luta Anti-imperialista
Muitos participantes também expressaram forte oposição às ofensivas do estado de Israel na Faixa de Gaza, solidarizando-se com o povo palestino. Leandro Longo, do Comitê em Defesa da Palestina do Sindicato dos Servidores do Colégio Federal Pedro II, fez uma conexão entre o Grito dos Excluídos e a soberania do povo brasileiro. Ele argumentou que o principal adversário é o imperialismo, caracterizando essa luta como uma batalha que une todos os povos oprimidos. Ademais, Longo enfatizou a urgência da questão em Gaza, onde o povo está sendo dizimado, e ressaltou que a solidariedade a essa causa fortalece a luta global por libertação.
Pautas Trabalhistas e Econômicas em Destaque
Neste ano, as centrais sindicais e movimentos sociais de todo o país uniram-se sob o lema “7 de Setembro do Povo – quem manda no Brasil é o povo brasileiro”. José Ferreira, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, sublinhou a intrínseca relação entre a soberania e a participação popular. Portanto, ele afirmou que quando o governo americano, por exemplo, ataca a nação brasileira, na verdade, ele ataca todo o seu povo.
Além disso, as pautas trabalhistas ocuparam um espaço central nas reivindicações. Uma demanda fundamental, conforme Ferreira, era o fim da escala de trabalho 6×1, que impacta significativamente grande parte da população. Dessa forma, o dia serviu como uma oportunidade crucial para dialogar com a sociedade, manifestar-se e impulsionar esse debate para que ele avance no Parlamento, em defesa da classe trabalhadora.
O vereador carioca Rick Azevedo (PSOL), que iniciou o movimento contra a escala 6×1, demonstrou profunda gratidão pelo acolhimento da pauta pelos manifestantes. Ele os encorajou a não desistirem, a continuarem lutando por um Brasil que, de fato, respeite a classe trabalhadora. Assim sendo, Azevedo declarou que não haveria recuo e que a pressão sobre o Congresso Nacional seria mantida.
Paralelamente, a taxação dos super-ricos e a isenção do imposto de renda para trabalhadores com rendimentos de até R$ 5 mil também ganharam grande destaque. Em meio a essas reivindicações, muitos manifestantes empunhavam cartazes e adesivos exigindo a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que está sendo julgado por suposta tentativa de golpe de Estado. Frequentemente, o protesto ressoava as palavras de ordem “sem anistia”.
Uma intervenção artística da Escola de Teatro Popular encenou, por exemplo, a luta entre a população, representada por um cardume de peixes, e os poderosos, simbolizados por tubarões. Ao final da encenação, após se unirem em prol de pautas como a reforma agrária, o trabalho digno e a defesa da Amazônia, os “peixes” conseguiram vencer seus atacantes. Posteriormente, após o término do desfile cívico-militar, o Grito dos Excluídos seguiu em marcha pelas Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, concluindo sua jornada na Praça Mauá.
O Desfile Cívico-Militar Tradicional
O desfile oficial de 7 de setembro no Rio de Janeiro foi realizado na Avenida Presidente Vargas, com seu ponto de partida em frente ao Palácio Duque de Caxias, antiga sede do Ministério do Exército e atual Quartel-General do Comando Militar do Leste.
Aproximadamente 5 mil integrantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, além de membros das polícias Militar e Civil do estado do Rio de Janeiro, do Corpo de Bombeiros Militar, da Secretaria de Administração Penitenciária e da Guarda Municipal, participaram da apresentação. Alunos de escolas públicas e privadas também desfilaram para o público. Além disso, a plateia assistiu à passagem de 250 veículos, que incluíam blindados, viaturas e motocicletas, bem como a cavalaria. Simultaneamente, aeronaves sobrevoaram a região central da cidade, proporcionando um espetáculo aéreo.
Manifestação Bolsonarista em Copacabana
Outro protesto, convocado por lideranças religiosas e partidos de direita, ocorreu em Copacabana, na zona sul da cidade. Os manifestantes reivindicavam anistia para os indivíduos condenados pelos atos golpistas e a liberdade para o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ademais, muitos dos participantes exibiam mensagens de apoio ao ex-presidente americano Donald Trump, reforçando um alinhamento político internacional.