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Governo permite certificação internacional de créditos de carbono em florestas públicas

Governo Lula permite a certificação internacional de créditos de carbono em florestas públicas, visando gerar renda e mitigar mudanças climáticas, conforme decreto publicado nesta sexta.
Certificação internacional carbono florestas públicas
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva implementou recentemente uma medida significativa para o setor ambiental e econômico brasileiro, autorizando a certificação internacional de créditos de carbono em florestas públicas. Essa iniciativa, formalizada por meio de um decreto presidencial, visa primordialmente impulsionar a geração de receita para o país, ao mesmo tempo em que fortalece os esforços de mitigação das mudanças climáticas globais. Publicada na última sexta-feira, dia 17 de outubro, a nova regra promete integrar as florestas brasileiras de forma mais robusta no crescente mercado global de carbono.

Abertura para o Mercado Global de Carbono

De acordo com as diretrizes estabelecidas, projetos de conservação e restauração ambiental que operam em florestas públicas concedidas a empresas, cooperativas e associações de comunidades locais agora terão a flexibilidade de escolher o método de certificação para seus créditos de carbono. Essa autonomia representa um avanço importante, uma vez que permite a adaptação às melhores práticas e padrões reconhecidos internacionalmente. Consequentemente, a expectativa do governo federal é que esta medida se traduza em uma substancial geração de renda para as comunidades envolvidas e para o Brasil, ao monetizar a capacidade de suas florestas de capturar gases de efeito estufa.

Adicionalmente, o processo de certificação é essencial para o funcionamento do mercado de carbono. Em outras palavras, essa documentação comprova cientificamente a habilidade de uma área florestal em absorver dióxido de carbono da atmosfera, impedindo assim o acúmulo desse gás e o consequente agravamento do aquecimento global. Nesse sentido, a introdução da certificação internacional para florestas públicas não apenas valida o trabalho de conservação, mas também infunde maior credibilidade e transparência ao incipiente mercado de carbono do país, atraindo investimentos e parceiros globais interessados em soluções climáticas.

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), por meio de uma nota oficial, destacou os benefícios da decisão. A pasta afirmou que a possibilidade de empregar metodologias reconhecidas mundialmente facilitará enormemente a capacidade dos projetos de concessão florestal – tanto aqueles voltados para o manejo sustentável quanto os focados na restauração ecológica – de produzir créditos de carbono de maneira mais ágil e com uma estrutura mais sólida. Essa declaração sublinha a visão de que a padronização internacional é um catalisador para a eficiência e a escalabilidade dos projetos.

Marco Legal e Impacto Prático da Medida

A base legal para essa importante alteração foi o Decreto nº 12.679, assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e divulgado no Diário Oficial da União na última sexta-feira, dia 17 de outubro. Este instrumento legal promove modificações substanciais na Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei nº 11.284/2006). Para tanto, o decreto não apenas atualiza a legislação existente, mas também aprofunda os detalhes da lei que instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), conhecido popularmente como o mercado de carbono brasileiro.

Na prática, as entidades privadas que são responsáveis pela gestão de florestas públicas por meio de concessões agora terão autonomia para selecionar a empresa certificadora de sua preferência. Entretanto, essa liberdade é condicionada: ela só se aplica se o edital de concessão correspondente não tiver estabelecido previamente um método específico de certificação, o qual seria definido pela Comissão Nacional para REDD+. Esta comissão é a instância responsável por monitorar e guiar as políticas públicas relacionadas ao pagamento por redução de emissões de gases do efeito estufa, garantindo a conformidade e a eficácia das ações.

Além disso, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, esta medida é crucial para viabilizar o reconhecimento e a consequente transferência dos créditos de carbono no âmbito internacional. Consequentemente, isso facilita a participação do Brasil em mecanismos globais de descarbonização. O MMA enfatiza, por outro lado, que essa integração ao mercado global ocorrerá “sem abrir mão da observância das regras nacionais”, garantindo que a soberania e as especificações locais sejam sempre respeitadas, mesmo em um contexto de cooperação internacional.

Fortalecimento Institucional e Desafios Futuros

Em uma ação complementar e igualmente estratégica, um decreto anterior, datado de 15 de outubro, formalizou a criação da Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono (Semc). Este novo órgão está vinculado diretamente ao Ministério da Fazenda, evidenciando a crescente importância econômica e fiscal atribuída ao setor de descarbonização. A Semc foi concebida com a missão ambiciosa de estruturar e desenvolver o mercado de descarbonização no Brasil até o ano de 2030.

Para tanto, a secretaria não apenas buscará impulsionar a sustentabilidade ambiental, mas também se dedicará a estimular o desenvolvimento econômico de forma equitativa, contribuindo ativamente para a redução das desigualdades sociais no país. A liderança da Semc foi confiada à economista Cristina Reis, que já possuía experiência no Ministério da Fazenda como subsecretária de Desenvolvimento Econômico Sustentável. Sua nomeação sinaliza a expertise técnica e o compromisso necessários para a complexa tarefa.

Entre os desafios mais prementes a serem enfrentados pela nova gestora e sua equipe, destacam-se a elaboração de critérios claros e robustos para o reconhecimento de créditos de carbono, a definição de regras eficazes para o monitoramento contínuo do mercado e, crucialmente, a criação de um banco de dados centralizado para o registro de todos os créditos ativos. Assim, a Semc terá um papel fundamental na construção de um arcabouço sólido e transparente para o mercado de carbono brasileiro, solidificando a posição do país como um ator relevante na economia verde global.