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Golpistas planejaram culpar governo Lula por atos de 8 de janeiro, revela PF

Relatório destaca estratégias para influenciar investigações e desacreditar o governo e o STF. Documentos foram encontrados na residência de general da reserva.
Atos de 8 de janeiro
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Documento detalha plano de manipulação

Materiais apreendidos pela Polícia Federal (PF) na casa do general da reserva Mário Fernandes revelaram estratégias para desviar a culpa dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo o relatório da PF, tornado público nesta terça-feira (26) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o objetivo principal era culpar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos eventos que culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília.

O documento, datado de maio de 2023, foi elaborado enquanto Fernandes trabalhava no gabinete do deputado federal General Pazuello. Ele contém orientações denominadas “ideias-forças”, que direcionavam ações da oposição para desgastar o governo Lula, avançar pedidos de impeachment e atacar instituições como o STF.

Estratégias de desinformação e intimidação

O plano incluía medidas para desacreditar o STF, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, e anular prisões realizadas após os atos golpistas. Trechos do documento sugerem criar uma narrativa de “abuso de poder” contra a corte e a Polícia Federal.

Um dos textos compara as prisões realizadas em janeiro de 2023 com ações nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, buscando fortalecer uma retórica de vitimização dos envolvidos nos atos golpistas. Além disso, as estratégias visavam coagir a Polícia Federal ao acusá-la de prisões ilegais e abuso de autoridade.

“Mostrar o abuso de poder do STF, principalmente de Alexandre de Moraes, na prisão de cerca de 1.500 patriotas”, descreve um dos trechos, evidenciando o uso do termo “patriotas” para tentar legitimar os atos criminosos.

Foco no desgaste político

Outro ponto central do plano era criar narrativas contra o então ministro da Justiça, Flávio Dino, responsabilizando-o por uma suposta omissão nos eventos de 8 de janeiro. O objetivo era enfraquecê-lo politicamente e criar ambiente favorável à sua destituição.

Essas estratégias, segundo o relatório, também buscavam instrumentalizar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, direcionando a oposição a colocar o governo como principal responsável pelos atos antidemocráticos.

Resposta das autoridades

O ministro Alexandre de Moraes enfatizou que os documentos reforçam a necessidade de aprofundar as investigações sobre os envolvidos nos atos golpistas e suas redes de apoio. Ele destacou a gravidade das tentativas de obstrução das investigações e manipulação da opinião pública.

A Polícia Federal segue trabalhando na identificação de outros participantes desse esquema, incluindo possíveis financiadores e articuladores.

Próximos passos na investigação

Com a retirada do sigilo, as informações do relatório deverão ser analisadas pela CPMI e outras instâncias judiciais. A investigação busca garantir que todos os responsáveis pelos atos de 8 de janeiro sejam responsabilizados de forma justa e transparente.