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Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é um passo para trás numa franquia sem nada a acrescentar

CRÍTICA

Lá pela metade de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, Winston (Ernie Hudson) fala para Stantz (Dan Aykroyd) que eles estão muito velhos para continuar se arriscando a caçar fantasmas. A clássica frase de filmes-de-veteranos é, infelizmente, um retrato do novo filme que leva o nome do grupo, quarenta anos depois do original.

Digo infelizmente porque o ótimo Ghostbusters – Mais Além já havia feito uma excelente passagem de bastão dos antigos para o novo elenco, encabeçado pela sempre excelente McKeena Grace e o queridinho dos fãs de Stranger Things, Finn Wolfhard. Aliás, um dos grandes méritos do filme anterior é justamente entender que a vibe da série da Netflix estava em alta e transportar a história de Manhattan para o interior dos Estados Unidos. Junta-se a isso uma homenagem tocante ao falecido Harold Ramis, o carisma de Paul Rudd, a nostalgia na medida certa e pronto: a Sony conseguiu um produto tão divertido quanto o Caça-Fantasmas original de 1984.

Claro que o estúdio não deixaria uma das marcas mais famosas do cinema presa em uma cidadezinha de Oklahoma e já na cena pós-créditos de Mais Além, vemos o Ecto-1 cruzando uma das pontes de Manhattan, de volta ao seu icônico prédio de tijolinhos. A verdade é que, por mais que tenha mais efeitos especiais, mais gente no elenco e um escopo aparentemente maior, Apocalipse de Gelo nunca chega perto do filme anterior.

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo | Trailer Oficial Legendado

Estabelecidos em Nova York, a família Spengler e Mr. Grooberson (Rudd) são os Caça-Fantasmas da vez. Eles precisam lidar com a ameaça de um espírito aprisionado desde a antiguidade que está querendo libertar todas as assombrações presas na sede deles. Até aí, nada de novo na franquia.

O problema de Apocalipse de Gelo está em não aproveitar o que foi construído de novo, se mantendo preso numa nostalgia que nunca paga realmente o preço que ela cobra do filme. A piada com Aykroyd e o ótimo Logan Kim (o Podcast do filme anterior) funciona na primeira vez, mas teima em se repetir ao longo do filme todo. Winston aparece com um laboratório secreto e diversas novas bugigangas que em quase nada servem para a história. Bill Murray surge em uma cena perdida no meio do filme para só dar as caras novamente no clímax.

Mas nada, nada disso se compara ao personagem de Kumail Nanjiani. Com um sotaque irritante, ele entra na história para, sem spoilers, ser uma força mística que vai roubar o espaço de quem mais importa na história; aqueles que dão nome ao filme. É uma das piores decisões todos os cinco filmes da série.

Fato é que, os momentos que realmente salvam o filme são aqueles focados em Phoebe (Grace). Quando está nos holofotes, sua curiosidade da personagem pelo além e humor involuntário enchem a tela. Paul Rudd continua divertido interpretando Grooberson, que poderia facilmente ser substituído por Scott Lang e não faria diferença. Sua dinâmica com Carrie Coon é ótima. Patton Oswalt faz uma participação especial divertida, e os efeitos especiais são bacanas como sempre.

Falta ao diretor Gil Kenan, porém, enxergar além do óbvio, como fez Jason Reitman. Vemos o Ecto 1 passando pela mesma ponte algumas vezes e aquilo não significa nada se você não for um aficionado pelo carro. A piada dos mini bonecos de marshmallow é repetida a cada 15 minutos. Todo o dinheiro que a Sony investiu nessa continuação fica perdido em cenas que parecem filmadas em cenários minúsculos, blocadas com vários atores se apertando dentro do mesmo quadro. São ao menos 13 personagens na trama principal e sem motivo nenhum.

Caça-Fantasmas já tentou se reinventar com um filme divertido em 2016, e acabou dando com os burros no ódio desenfreado da internet e na misoginia. Acertou novamente em 2021 ao reduzir o tamanho e apostar no talento do ótimo elenco e em cenas de ação pontuais e enxutas: a primeira caçada dos irmãos com o Ecto-1 é uma das melhores cenas de toda a franquia.

Agora, com Apocalipse de Gelo, volta ao patamar que estava antes dos dois últimos filmes: uma marca sem muito mais a acrescentar. Divertida, porém cansada e com passos curtos. Presa ao passado e sem poder ousar demais, assim com seu elenco de veteranos.

Fonte: Chippu

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