A crise humanitária na Faixa de Gaza se agrava, impulsionada por severas restrições impostas por Israel à distribuição de ajuda essencial. Organizações não governamentais (ONGs) denunciam que essa política tem levado a um aumento alarmante de mortes por inanição e ataques violentos contra civis em busca de alimentos. A situação, já crítica, é vista como uma forma de “aniquilação” do povo palestino, segundo as ONGs.
Redução Drástica de Pontos de Distribuição Aprofunda Crise
Mais de 200 ONGs de diversas partes do mundo emitiram um alerta sobre a redução drástica, por iniciativa israelense, dos pontos de distribuição de alimentos em Gaza. Anteriormente, existiam 400 locais de distribuição, mas esse número foi reduzido para apenas quatro, conforme divulgado em uma carta pelas organizações nesta terça-feira. Essa diminuição acentuada tem gerado uma concentração de aproximadamente dois milhões de pessoas em áreas de aglomeração insalubre e fortemente militarizadas, intensificando o sofrimento da população.
A carta, intitulada “Fome extrema ou tiroteio”, destaca que, em menos de um mês, mais de 500 palestinos foram mortos e 4 mil ficaram feridos enquanto tentavam obter alimentos. As organizações denunciam que militares israelenses e grupos armados têm aberto fogo contra civis desesperados, com o respaldo das autoridades de Israel. A ação é vista como uma promoção deliberada da fome, inanição e sede como armas para o extermínio do povo palestino, além de deslocamentos forçados e desumanização.
ONGs Exigem Fim do Bloqueio e Retomada de Mecanismos da ONU
As entidades signatárias da carta exigem o fim da chamada Fundação Humanitária de Gaza e do bloqueio imposto pelo governo israelense à ajuda humanitária e suprimentos. Além disso, pedem a retomada de mecanismos comandados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir a distribuição eficiente e segura de alimentos e assistência à população.
As organizações descrevem um cenário caótico e perigoso, onde civis famintos são forçados a percorrer longas distâncias em áreas de conflito ativo para competir por suprimentos limitados em cercas e locais de distribuição militarizados. “Essas áreas têm se tornado sítios de sucessivos massacres, em flagrante desrespeito ao direito internacional”, afirmam na carta.
Combustível Escasso Agrava a Crise nos Serviços Essenciais
Além da escassez de alimentos, a carta também alerta para o esgotamento do combustível em Gaza, o que afeta serviços essenciais como sistemas de fornecimento de água, ambulâncias, hospitais e padarias. Essa situação agrava ainda mais a crise humanitária, colocando em risco a vida de milhares de pessoas.
De acordo com as ONGs, muitas pessoas estão tão debilitadas que não conseguem sequer participar da disputa por alimentos. Outras conseguem obter apenas itens insuficientes para cozinhar ou sem água potável, perpetuando o ciclo de fome e sofrimento.
Relatos de Testemunhas Revelam Tratamento Desumano
Em uma coletiva de imprensa, uma especialista da Anistia Internacional relatou que um palestino a informou que eles estão sendo tratados como animais por Israel, que os força a competir por comida. “Quando os portões se abrem, todos correm e perseguem os alimentos. Ninguém nos olha nos olhos”, relatou o palestino. A especialista classificou a situação como “absolutamente, genocídio”.
Fady Abed, da MedGlobal, organização que atua em contextos de crise humanitária, informou que sua equipe atende diariamente crianças com graves problemas de saúde, resultado da desnutrição e da falta de acesso a cuidados médicos. As equipes de ajuda humanitária enfrentam entraves constantes, desde o impedimento de entrar em Gaza até o cerceamento de suas atividades no local.
Abed relatou que mães não conseguem mais amamentar seus recém-nascidos e não têm como alimentar seus filhos adequadamente, não por falta de vontade, mas porque a comida não está disponível ou é vendida a preços exorbitantes. “Os preços de itens básicos estão de cinco, dez, cem vezes maiores do que o praticado anteriormente”, lamentou.
ONU Aponta que Crianças e Mulheres são as Principais Vítimas
Um levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), que analisou dados de novembro de 2023 a abril de 2024, revelou que quase 70% das vítimas mortas em Gaza eram crianças e mulheres. Além disso, cerca de 80% dessas vítimas estavam em edifícios residenciais no momento em que foram mortas, evidenciando a gravidade da situação e o impacto desproporcional sobre a população mais vulnerável.
Diante desse cenário alarmante, as ONGs e a comunidade internacional intensificam os apelos por um cessar-fogo imediato, o fim do bloqueio a Gaza e a garantia de acesso irrestrito à ajuda humanitária para evitar uma catástrofe ainda maior.