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Gato de energia: R$ 10,3 bilhões em perdas, mortes e tarifa mais cara

Furto de energia no Brasil causou perdas de R$ 10,3 bilhões, 45 mortes e 69 feridos em 2024, elevando as tarifas para consumidores, segundo Aneel e Abradee.
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Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O furto de energia, popularmente conhecido como “gato”, impôs um ônus financeiro alarmante de R$ 10,3 bilhões ao Brasil em 2024, conforme dados revelados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Ademais, essa prática ilegal não se limita a prejuízos econômicos, pois resultou em 45 mortes e 69 feridos no mesmo período, ao passo que eleva indiscriminadamente os custos da tarifa de energia para todos os consumidores regulares.

Impacto Bilionário e Riscos Diretos do Furto de Energia

As “perdas não técnicas de energia elétrica”, como são tecnicamente designadas, representaram um custo exorbitante de R$ 10,3 bilhões no ano de 2024, um valor substancialmente documentado pela Aneel. Em primeiro lugar, o “gato” ocorre majoritariamente no mercado de baixa tensão, ou seja, em residências, pequenos estabelecimentos comerciais, escritórios e pequenas indústrias. Por conseguinte, essa prática fomenta um consumo descontrolado da carga distribuída.

Além disso, uma miríade de aparelhos, frequentemente precários e sem as devidas homologações, conectam-se a essa energia furtada. Consequentemente, essa situação não apenas danifica seriamente o sistema elétrico nacional, mas também compromete a qualidade e a continuidade do atendimento prestado aos demais consumidores, gerando instabilidade. Nesse sentido, grandes concessionárias, que operam em mercados superiores a 700 gigawatt-hora (GWh), assumem a responsabilidade pela gestão desses níveis de perdas comerciais. Entretanto, a vasta amplitude do mercado de distribuição e a inerente complexidade no combate a essas irregularidades representam desafios consideráveis para essas empresas.

A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) aprofunda-se nessa temática por meio de seu recém-lançado estudo “Furto de energia: Perdas não técnicas”. Dessa forma, a entidade detalha a complexidade intrínseca e os desafios operacionais impostos por essa prática criminosa. Com efeito, o material elucidativo demonstra como os custos provenientes desses furtos são, em última análise, repassados e impactam diretamente a tarifa de energia de todos os consumidores que pagam suas contas em dia.

A Escalada das Perdas Não Técnicas e Seus Efeitos Colaterais

O sistema elétrico brasileiro convive diariamente com diversas modalidades de perdas de energia. Primeiramente, parte dessas perdas é de natureza técnica, inerente aos processos de transporte e transformação da eletricidade. Por outro lado, outra parcela significativa, as chamadas perdas não técnicas, origina-se de ligações clandestinas, fraudes diversas e, também, de erros de medição ou faturamento. De fato, o volume dessas perdas não técnicas tem exibido um crescimento preocupante, alcançando 16,02% do mercado de baixa tensão apenas em 2024.

Adicionalmente ao impacto financeiro direto na conta de luz dos consumidores brasileiros, o furto de energia desencadeia uma série de problemas operacionais. Em suma, essa prática cria um consumo desordenado e incontrolável, capaz de sobrecarregar criticamente o sistema de distribuição. Consequentemente, ela provoca danos substanciais à infraestrutura energética e, por sua vez, degrada a qualidade do serviço ofertado aos usuários que utilizam o serviço legalmente. Para ilustrar, dados da Aneel revelam que, em 2024, as interrupções no fornecimento de energia motivadas por furtos totalizaram impressionantes 88.870 ocorrências, cada uma delas com uma duração média de 8,64 horas, evidenciando a gravidade do problema.

A Tragédia Humana e o Custo Social das Ligações Clandestinas

A segurança da população também figura entre as maiores vítimas do furto de energia. Nesse sentido, um levantamento recente da Abradee trouxe à tona dados alarmantes: no ano de 2024, 45 pessoas perderam suas vidas e 69 ficaram feridas em decorrência de acidentes diretamente ligados a furtos ou ligações clandestinas. Esses números sublinham o perigo iminente e a irresponsabilidade associados a essas práticas.

Marcos Madureira, presidente da Abradee, enfatiza veementemente que o combate ao furto de energia transcende a mera questão financeira, configurando-se como uma responsabilidade compartilhada por toda a sociedade. De acordo com ele, as ligações irregulares não apenas geram prejuízos econômicos, mas, mais crucialmente, expõem vidas a riscos inaceitáveis e provocam a sobrecarga do sistema elétrico. Além disso, ele ressalta que essa conduta acaba por penalizar severamente os consumidores regulares, que são forçados a arcar com tarifas de energia mais elevadas para compensar as perdas. Para Madureira, é imperativo implementar políticas públicas integradas, fomentar a conscientização popular e intensificar a fiscalização, visando assegurar um fornecimento de energia que seja seguro, equitativo e sustentável para todos os cidadãos brasileiros. Ele ilustra a magnitude do problema ao comparar o volume de energia furtada no Brasil ao total gerado pela Usina de Tucuruí, no Tocantins, que se posiciona como a segunda maior usina hidrelétrica do país, demonstrando a colossal dimensão do desafio.

Estratégias de Combate e o Futuro da Segurança Energética

Em resposta a esse cenário complexo, a Abradee, em parceria com suas distribuidoras associadas, atua de forma proativa e incessante no combate ao furto de energia. Por exemplo, a entidade promove iniciativas como a Campanha Nacional de Segurança, cujo foco principal reside na prevenção de acidentes e na elevação do nível de conscientização da população sobre os perigos e consequências dessas práticas. Paralelamente, as empresas do setor investem significativamente na identificação e coibição de furtos, utilizando tecnologias avançadas, incluindo equipamentos mais robustos e a implementação de sistemas de inteligência artificial. Portanto, a luta contra o furto de energia é uma batalha contínua que exige tanto engajamento comunitário quanto inovação tecnológica, visando proteger vidas, estabilizar o sistema e garantir tarifas justas para todos.