Em alusão ao Dia da Consciência Negra (20), o Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentaram, nesta sexta-feira (18), o boletim A situação dos trabalhadores negros do DF no pós-covid.
O levantamento, realizado anualmente, trouxe uma ótica diferente das edições anteriores. O intervalo de tempo entre 2020 e 2022 foi demarcado pela pandemia da covid-19 e impactou, severa e negativamente, o emprego e a renda das pessoas, em especial, da população negra.
Nos seis primeiros meses de 2022, a população em idade ativa (PIA) do Distrito Federal era em sua maioria negra: 63,1% das pessoas se autodeclararam pretas e pardas com 14 anos ou mais. As mulheres negras presentes na PIA eram referentes a 33,5% e os homens negros, 29,6%. Por outro lado, a população não negra representava 20,6% e 16,3% entre mulheres e homens, respectivamente.
Assim como na PIA, a força de trabalho distrital também era majoritária para as pessoas negras, onde a presença de pretos e pardos foi ainda maior (65%).
Já a população economicamente ativa (PEA) representou nuances. Os homens negros foram mais introduzidos na PEA (34,1%) do que na PIA (16,3%), enquanto o engajamento das mulheres negras (30,9%) ficou aquém da correspondência populacional.
Neste período, os trabalhadores negros desempregados permaneceram sobrerrepresentados no contingente da capital frente a presença que mantinham na força de trabalho (65%). O percentual dessas pessoas sem emprego foi de 70,5% – 5,5 pontos percentuais acima. Tal resultado evidenciou o mesmo cenário anterior à pandemia da covid-19, vigente no primeiro semestre de 2019 (75,5%).
A taxa de participação dos negros e não negros de 14 anos e mais na população economicamente ativa do DF havia alcançado, respectivamente, 66,6% e 61,2%, confirmando a tendência de pressão relativamente mais acentuada das pessoas negras sobre o mercado de trabalho regional.
Os homens negros foram os mais presentes nessa taxa no primeiro semestre de 2022, com quase 75%. Em números, a cada 100 homens negros de 14 anos e mais, 75 estavam no mercado de trabalho como ocupados ou desempregados, seguidos dos 67,5% dos não negros, 59,6% das mulheres negras e 56,1% das não negras.
A ampliação das diferenças no pós-covid
O grupo de ocupados apontou uma relevância do setor de serviços na inserção ocupacional de ambos os grupos no DF, absorvendo 71,3% dos trabalhadores negros e 77,9% dos não negros. Outros segmentos em destaque na atividade econômica foram: comércio e reparação, com 18,1% e 14,7% entre negros e não negros, respectivamente; construção (6,7%); e indústria de transformação (3,7%), ambos representados em maior proporção por homens negros.
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Quando comparados os primeiros semestres de 2021 e 2022, o nível de ocupação cresceu 7,2% para a população negra e 1% para a não negra. Por outra perspectiva, colocando os anos de 2019 e 2022 frente a frente, é possível notar que a ocupação dos trabalhadores negros continua abaixo do nível identificado no período anterior à pandemia (-0,8%), situação notavelmente desvantajosa em relação aos não negros, que viram suas oportunidades de trabalho crescerem (22,1%).
A trajetória ocupacional do grupo que agrega os setores que mais geram trabalho na região proporciona um quadro nítido dos impactos gerados pelo auge da pandemia do coronavírus e período de arrefecimento do mesmo sobre a inserção dos grupos de raça e sexo. Assim, observando todo esse período pandêmico, é possível observar que o nível de ocupação da capital voltou a acelerar a partir do segundo semestre de 2020. E este movimento, que se estende de forma gradual e moderada, resultou no patamar mais elevado da absorção da força de trabalho, no primeiro semestre de 2022 frente a igual semestre de 2019.
Segundo a técnica e economista do Dieese Lúcia Garcia, “o exame que fizemos sobre a condição econômica da população negra, neste momento, destacou a ampliação das desigualdades raciais no período pós-covid, pois a recuperação ocupacional recente ainda é nitidamente desfavorável para este segmento. Neste sentido, verificamos que a crise sanitária, assim como a estagnação de forma geral, se não mira, sempre acerta nos mesmos segmentos: no primeiro semestre de 2022, 39% dos desempregados do DF eram mulheres negras e o nível ocupacional dos trabalhadores negros, em geral, permanecia aquém do identificado em 2019”.
Acesse aqui a publicação na íntegra.
*Com informações do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal
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