A Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) de 2025, realizada em Salvador, inovou significativamente ao incorporar o universo do cosplay e da cultura pop em sua programação. Pela primeira vez em nove edições, o evento abraçou essa vertente, com o objetivo de atrair e engajar um público jovem. Nesse sentido, um vibrante desfile de personagens marcou a noite de quinta-feira, 7 de agosto, na Vila Literária, localizada no Largo Tereza Batista, no centro histórico da capital baiana, confirmando o sucesso da iniciativa.
O cosplay, termo que combina as palavras em inglês “costume” (fantasia) e “roleplay” (interpretação), consiste na prática de pessoas se vestirem e atuarem como seus personagens favoritos de diferentes mídias. Assim, figuras icônicas como o Menino Maluquinho, criação de Ziraldo, os irmãos Mário e Luigi dos jogos Super Mario, e o Doutor Facilier, do filme A Princesa e o Sapo, ganharam vida no palco. Este evento inédito reflete uma tentativa da Flipelô de se conectar com as novas gerações, que consomem conteúdo não apenas em livros, mas também em animes, games, mangás e filmes.
Inclusão e o Apelo do Cosplay na Flipelô
Um dos participantes que exemplificou o sucesso dessa nova abordagem foi Deivid Aquino, um influenciador digital, ator e cantor de 20 anos. Ele desfilou na Vila Literária caracterizado como o Menino Maluquinho. Em suas palavras, a experiência o cativou profundamente, evocando memórias da própria infância. Além disso, Deivid expressou grande entusiasmo pela iniciativa do desfile, ressaltando o caráter inclusivo do cosplay, uma atividade que, por sua natureza, já promove diversidade e aceitação. Ele ainda brincou sobre sua identificação com o personagem, afirmando que, assim como o Menino Maluquinho, ele também tem um lado “maluquinho”.
Apesar de residir em Salvador, Deivid revelou que nunca havia participado da Flipelô antes. A presença do desfile de cosplay foi o fator determinante para sua estreia no evento. Consequentemente, ele enfatizou que, embora não seja um leitor assíduo, está começando a desenvolver o hábito da leitura, o que demonstra o potencial da cultura pop como porta de entrada para o universo literário. Após o desfile, com bom humor, Deivid comentou sobre o uso de um adereço de sua fantasia – uma panela – para preparar uma feijoada em casa, arrancando risadas do público.
A Transformação e Expansão da Vila Literária
A Vila Literária, um espaço estratégico dentro da Flipelô, está localizada no Largo Tereza Batista e foi originalmente concebida para dar visibilidade a autores independentes. No entanto, nos últimos anos, o local expandiu seu escopo, acolhendo entusiastas e criadores de quadrinhos. Um exemplo dessa ampliação é Samuel de Gois Martins, um quadrinista paraibano que participou da Flipelô pela primeira vez. Ele aproveitou a oportunidade para expor e comercializar seus trabalhos, que incluíam desde quadrinhos e coletâneas de tirinhas até gravuras em serigrafia e cartas de tarot, e ainda participaria de um bate-papo com o público.
Samuel de Gois ressaltou a importância de feiras independentes de arte e quadrinhos alternativos, especialmente para a Região Nordeste. Segundo ele, a presença de tantos autores de diversas regiões do Nordeste na Flipelô é um indicativo do fortalecimento e da união gradual do cenário artístico local. Ademais, neste ano, a Vila Literária se ampliou ainda mais, não se limitando ao desfile de cosplay e aos quadrinhos. O espaço promoveu uma imersão completa no universo pop, com atividades como batalhas de desenhos e apresentações musicais, sempre mantendo, entretanto, seu pilar literário.
Durante toda a programação da Flipelô, a Vila Literária oferece uma rica agenda cultural. Essa programação inclui lançamentos e vendas de livros, debates e bate-papos com renomados escritores, ilustradores, cineastas e artistas amplamente conhecidos pelo público. Entre os nomes que marcaram presença estavam Lázaro Ramos, Thalita Rebouças, Rafael Calça e Rosane Svartman, proporcionando um ambiente dinâmico para os visitantes.
O Diálogo entre Redes Sociais e Leitura na Juventude
Deco Lipe, curador da Vila Literária, destacou que o espaço é verdadeiramente inclusivo, abrangendo desde o público das redes sociais e do cosplay até os amantes da literatura tradicional. Segundo ele, a Vila Literária serve como prova de que o interesse dos jovens não se restringe apenas à cultura pop ou às plataformas digitais; eles também buscam a literatura ativamente. De fato, Deco mencionou o fenômeno do BookTalk, uma comunidade virtual para leitores, que tem potencializado significativamente o hábito da leitura entre os jovens. Ele também observou que muitos mediadores e autores presentes na Vila, inclusive ele próprio, vêm das redes sociais.
Essa perspectiva desafia o paradigma de que os jovens contemporâneos não leem devido ao uso de redes sociais. Pelo contrário, Deco Lipe argumenta que não há oposição entre as mídias sociais e a literatura, pois ambas podem coexistir e, inclusive, impulsionar-se mutuamente. Durante a pandemia, por exemplo, houve um grande boom das redes sociais, período em que as pessoas, reclusas, começaram a criar e consumir conteúdo. Desse movimento, emergiram comunidades literárias fortes no TikTok e Instagram.
O curador ainda salientou que as redes sociais, como o TikTok, desempenham um papel crucial na divulgação de livros, influenciando listas de mais vendidos no país e até mesmo promovendo a tradução de obras internacionais para o mercado brasileiro. Desse modo, o movimento dos “book talkers” tem atraído multidões, evidenciando uma grande potencialidade de leitores que podem ser alcançados e engajados por meio das plataformas digitais. A programação da Vila Literária é inteiramente gratuita e se estenderá até o domingo, 10 de agosto. Informações adicionais sobre a programação completa da Vila e da Flipelô estão disponíveis no site oficial do evento.