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Fiocruz: Chikungunya afeta crianças e jovens com sequelas crônicas

Fiocruz conclui, após pesquisa de quatro anos em Simões Filho (BA), que o vírus da chikungunya afeta crianças e adolescentes, deixando sequelas crônicas.
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Foto: Frame EBC

Uma pesquisa aprofundada da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), conduzida ao longo de quatro anos em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (BA), trouxe à luz um dado preocupante: o vírus da chikungunya não apenas infecta crianças e adolescentes, mas também pode deixar sequelas crônicas significativas nessa faixa etária. O estudo, que envolveu 348 jovens participantes, revelou que a maioria das infecções é sintomática e que os impactos da doença persistem mesmo após a fase aguda.

Detalhes do Estudo e Metodologia Aplicada

Para desvendar como a chikungunya se manifesta em indivíduos mais jovens, a Fiocruz empreendeu este extenso levantamento. Conforme os pesquisadores, o trabalho foi realizado em paralelo a um ensaio clínico de fase III da vacina Butantan-Dengue, aproveitando a infraestrutura e o acompanhamento dos participantes. Os objetivos centrais incluíram a análise da proporção de pacientes sem sintomas clínicos, conhecida como infecção assintomática, a avaliação da resposta imunológica ou soroconversão, e a identificação de casos de dores articulares persistentes após a infecção viral, categorizadas como sintomas crônicos.

A chikungunya é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, notoriamente responsável por causar febre alta e dores intensas nas articulações, tanto durante quanto após a fase aguda da infecção. Entretanto, enquanto os efeitos em adultos são amplamente documentados, havia uma lacuna significativa no conhecimento sobre como a doença afetava especificamente crianças e adolescentes.

Os participantes do estudo, com idades variando entre 2 e 17 anos, foram submetidos a um monitoramento rigoroso. De fato, foram realizadas coletas periódicas de sangue e um acompanhamento contínuo dos sintomas em consultas médicas regulares, especialmente nos casos de febre ou outros sinais clínicos sugestivos da doença. Ademais, conforme a Fiocruz informou, as amostras coletadas foram testadas para a presença de chikungunya, dengue e zika. Para isso, utilizaram-se técnicas como RT-PCR, que detecta o material genético dos vírus, sorologia (Elisa) e ensaio de neutralização viral, todos essenciais para avaliar a presença e a eficácia dos anticorpos protetores no organismo dos jovens.

Análise dos Sintomas e Atribuição da Pesquisa

A pesquisa teve a coordenação de Viviane Boaventura, pesquisadora da Fiocruz Bahia. De acordo com a coordenadora, em todos os casos onde houve suspeita de infecção, os sintomas e sinais foram detalhadamente registrados através da aplicação de um questionário específico. Posteriormente, esses dados foram cruciais para a análise do impacto da doença nesse grupo etário, fornecendo informações valiosas sobre a intensidade dos sintomas e, além disso, sobre o tempo de duração da resposta imunológica após a infecção viral.

Os achados iniciais do estudo revelaram que 23 indivíduos já apresentavam anticorpos IgG protetores contra o vírus da chikungunya antes mesmo do início da pesquisa. Entre os 311 participantes que completaram o período de acompanhamento, 17% testaram positivo para o vírus. Destes, 25 casos foram confirmados por RT-PCR e outros 28 casos foram identificados por sorologia. É importante notar que 9,4% desses indivíduos infectados não manifestaram sintomas, ou seja, eram casos assintomáticos. Por outro lado, três dos casos confirmados (equivalente a 12%) desenvolveram artralgia crônica, caracterizada por dores nas articulações que persistiram por vários meses e, em alguns casos, chegaram a impedir a realização de atividades diárias essenciais. A taxa de soroconversão entre os casos positivos alcançou 84%, indicando que a maioria dos infectados desenvolveu anticorpos protetores.

Implicações dos Resultados e Vulnerabilidade Pediátrica

Esses resultados apontam que, embora a maioria dos indivíduos infectados tenha desenvolvido anticorpos após a exposição ao vírus, uma parcela notável não apresentou uma resposta imunológica detectável, segundo o que a Fiocruz informou. Contudo, a pesquisa também revelou um dado intrigante: apesar de surtos locais da doença terem ocorrido durante o período do estudo, apenas um quinto (20%) dos participantes foi efetivamente exposto ao vírus. Tal constatação, portanto, levanta sérias questões sobre a vulnerabilidade da população pediátrica e, consequentemente, a necessidade imperativa de desenvolver e implementar estratégias de prevenção mais eficazes e direcionadas.

Em conclusão, o estudo da Fiocruz sublinha a urgência de uma atenção maior à chikungunya em crianças e adolescentes. Assim sendo, a compreensão aprofundada de seus efeitos crônicos e da resposta imunológica nesse grupo etário é fundamental para a formulação de políticas de saúde pública mais robustas e para a proteção da saúde dos jovens frente a esta doença viral.