Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em Belém, o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Luiz Antonio Elias, enfatizou a urgência de uma colaboração sinérgica entre a ciência e os conhecimentos ancestrais. Ele defende que esta união é essencial para desenvolver soluções eficazes e duradouras no combate aos desafios impostos pelo aquecimento global e pelas alterações climáticas. A Finep, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), desempenha um papel crucial ao financiar a pesquisa e a inovação no país.
A Aliança entre Ciência e Saberes Ancestrais
Luiz Antonio Elias, economista e pesquisador do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), com vasta experiência como secretário executivo do MCTI nos governos Lula e Dilma Rousseff, reiterou a importância de integrar o saber tradicional à pesquisa científica. Ele argumenta que a capacidade de aprendizado com a ancestralidade, por exemplo, de povos indígenas e quilombolas, já demonstrou resultados práticos. Em diversas áreas, como a dermatologia e o estudo da biodiversidade, esses conhecimentos têm revelado elementos naturais valiosos para a saúde e o bem-estar da sociedade.
Adicionalmente, o presidente da Finep sublinhou a necessidade de respeitar os códigos de propriedade intelectual relativos a esses saberes. Ele defende, portanto, que se estabeleçam mecanismos claros para a repartição de benefícios com as comunidades tradicionais que detêm e transmitem esses conhecimentos milenares. Essa abordagem, em suma, não apenas valoriza a cultura ancestral, mas também potencializa a busca por inovações sustentáveis, essenciais para o futuro.
A COP30 e a Agenda Climática Global
O encontro em Belém, previsto para ocorrer entre 10 e 21 de novembro, reunirá delegações governamentais e organizações da sociedade civil de todo o mundo. A agenda climática será o ponto central das discussões, buscando estratégias para enfrentar a crise climática. Nesse contexto, Elias, que será um dos participantes da COP30, destacou o papel indispensável da ciência. Ele ressaltou que a pesquisa científica fornece os parâmetros e os elementos construtivos necessários para formular políticas públicas robustas. Por conseguinte, essas políticas devem abordar os impactos das mudanças climáticas na qualidade de vida, na saúde, na economia global e, em particular, em setores como o agronegócio e as áreas urbanas do Brasil.
A entrevista com a Agência Brasil, realizada em 3 de novembro na sede da Finep no Rio de Janeiro, ocorreu durante uma série de painéis temáticos com representantes do setor científico. Elias enfatizou que a elevação da temperatura global é uma realidade inegável. Consequentemente, isso acarretará consequências fundamentais para a qualidade de vida, os negócios e a economia, demandando ações coordenadas e baseadas em evidências científicas para mitigar seus efeitos.
Identidade e Soberania da Ciência Brasileira
No debate sobre a identidade da ciência brasileira, Luiz Antonio Elias vislumbra uma oportunidade ímpar para o país demonstrar sua capacidade ao mundo. Ele acredita que o Brasil pode liderar as transições ecológica, socioambiental e energética, impulsionado pela riqueza de seu bioma amazônico. A Amazônia, considerada uma parte sensível do planeta, torna-se, assim, um elemento decisivo para essa transformação global. Além disso, a construção de políticas públicas densas e fortes na região, que integram inclusive países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), reforça a capacidade brasileira de liderança e colaboração regional.
Nesse sentido, o presidente da Finep relembrou uma declaração do Presidente Lula na ONU, que afirma: “sem ciência, não tem inovação; sem inovação, o Brasil não se desenvolve”. Essa perspectiva, portanto, sublinha a importância estratégica do investimento em ciência e tecnologia para a soberania e o progresso nacional, fortalecendo a identidade científica do país no cenário internacional.
O Papel Estratégico da Finep no Desenvolvimento Nacional
Questionado sobre se a agenda climática seria o foco principal da Finep, Elias esclareceu que, embora central, não é o único. A Finep, afinal, possui um leque abrangente de atuações, que vão desde o fortalecimento de laboratórios nacionais e pesquisas até questões econômicas de grande impacto. Entre essas áreas prioritárias, destacam-se o Complexo Industrial da Saúde (CEIS), a dimensão da biodiversidade brasileira e a análise de minerais estratégicos, de grande relevância na geopolítica internacional, impactando inclusive a indústria.
Ainda assim, temas como a descarbonização, o hidrogênio verde, as energias renováveis e a transição ecológica são, sem dúvida, pontos nevrálgicos das políticas da Financiadora. A instituição busca, por exemplo, impulsionar uma taxa de investimento mais efetiva, que melhore a produtividade, diminua o custo unitário de produção e agregue maior valor à manufatura brasileira. Portanto, todos esses elementos compõem a visão estratégica da Finep para o desenvolvimento multifacetado do país.
Investimento e Fortalecimento da Finep
Em relação ao orçamento da Finep, Luiz Antonio Elias afirmou que a instituição vive um momento de inflexão positiva. Ele atribuiu esse cenário ao apoio do Presidente da República e à coordenação da Ministra Luciana Santos, do MCTI, destacando uma mudança radical em comparação ao governo anterior. Conforme Elias, a Finep nunca teve tantos recursos, tanto nos instrumentos reembolsáveis quanto nos não reembolsáveis, o que demonstra um compromisso renovado com a inovação.
Posteriormente, um projeto de lei de iniciativa do governo federal, com participação dos senadores Jaques Wagner e Rogério Carvalho, permitiu à Finep acessar um superávit financeiro. Este acesso a recursos anteriormente represados resultou na incorporação de mais R$ 22 bilhões em crédito ao orçamento, conforme a Lei 15.184/2025. Consequentemente, essa injeção de capital robustece a capacidade da Finep de financiar projetos transformadores. O presidente finalizou enfatizando que as políticas públicas devem gerar impacto não apenas na inclusão social, mas também no mundo do trabalho. Desse modo, a Finep está mais forte do que nunca, com a determinação de se consolidar como uma política de Estado.