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Famílias lançam movimento nacional em SP para exigir ações por desaparecidos

No Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, famílias lançaram neste sábado (30), na Catedral da Sé em São Paulo, o Movimento Nacional de Familiares para cobrar ações efetivas do Poder Público.
Movimento Familiares Desaparecidos
Foto: Paulo Pinto/Agencia Brasil

Famílias de pessoas desaparecidas uniram suas vozes em São Paulo neste sábado (30), data que marca o Dia Internacional das Pessoas Desaparecidas, para lançar oficialmente o Movimento Nacional de Familiares. A iniciativa, concretizada em um ato simbólico nas históricas escadarias da Catedral da Sé, tem como principal objetivo pressionar o Poder Público a adotar medidas eficazes e urgentes para solucionar os milhares de casos de desaparecimentos que afligem o país.

Contexto da Mobilização na Capital Paulista

Neste sábado, o coração da capital paulista pulsou com a presença de diversas entidades da sociedade civil, coletivos e instituições dedicadas à causa. O encontro na Catedral da Sé não apenas serviu como palco para a oficialização do movimento, mas também proporcionou um momento crucial para dar visibilidade à profunda dor e à incessante busca que milhares de famílias enfrentam diariamente por seus parentes desaparecidos. Além disso, a mobilização reforçou a demanda por uma resposta mais robusta e coordenada das autoridades.

Durante o evento, os participantes carregavam cartazes e fotografias, transformando o espaço em um memorial ao ar livre. As imagens e mensagens não só recordavam os entes queridos, mas também serviam como um poderoso lembrete da urgência de agir, humanizando as estatísticas e personificando cada história de ausência. Consequentemente, a emoção tomou conta do local, unindo a todos em um propósito comum.

O Nascer de uma Força Unificada

O lançamento do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas representa um marco significativo. Esta nova articulação busca consolidar e unificar os esforços de diversos grupos que há anos se dedicam à verdade, memória, justiça e solidariedade. Portanto, a união visa potencializar a capacidade de incidência junto aos órgãos governamentais e à sociedade em geral. Entre os movimentos que aderiram a esta importante causa, destacam-se: Mães da Sé, Mães em Luta, União de Vítimas, Esperança da Rua, Instituto Mercia Nakashima, Abrace, Mães do Paraná e Instituto Giorgio Renan por Justiça, entre outros, evidenciando a amplitude e a força da nova coalizão.

Relatos Tocantes: A Luta Diária das Famílias

As histórias de vida e a perseverança das mães e familiares presentes ilustram a complexidade e a profundidade do problema. Suas narrativas oferecem um panorama doloroso da realidade enfrentada por aqueles que buscam incansavelmente por respostas, muitas vezes sem o devido suporte do Estado.

O Testemunho de Vera Lúcia Ranu

Vera Lúcia Ranu, militante ativa pelo grupo Mães em Luta, compartilhou sua angustiante experiência. Há 33 anos, sua filha desapareceu aos 13 anos, no bairro do Jaraguá, enquanto ia para a escola. Ela nunca mais retornou. Ranu enfatizou que, na época do desaparecimento de sua filha, o tema era praticamente invisível, o que dificultava ainda mais a busca. Segundo ela, mesmo hoje, a polícia frequentemente trata os boletins de ocorrência de desaparecimento como meros registros numéricos; se não há indício direto de crime, a investigação, lamentavelmente, não avança. Consequentemente, a busca recai pesadamente sobre os ombros das famílias.

Ainda assim, Vera Lúcia destacou que, ao longo de mais de três décadas de persistência e mobilização familiar, importantes leis foram criadas. Contudo, ela ressaltou que a criação de legislações não é suficiente; ações governamentais contínuas e robustas são essenciais para combater efetivamente o desaparecimento de pessoas e, sobretudo, para evitar retrocessos em políticas públicas a cada mudança de gestão. Por exemplo, ela citou o Cadastro Nacional dos Desaparecidos, uma ferramenta crucial que, até o momento, não conta com a adesão plena do estado de São Paulo, o que compromete sua eficácia.

A Trajetória de Ivanise Esperidião da Silva

Outra voz potente no movimento é Ivanise Esperidião da Silva, presidente e fundadora da renomada Associação Mães da Sé. Sua jornada na luta começou em dezembro de 1995, quando sua filha, também com 13 anos, desapareceu. Ivanise descreveu um cenário inicial de completa desatenção social; por três meses, ela peregrinou sozinha por hospitais e necrotérios de São Paulo, em uma busca solitária e desesperadora. Naquela época, a sociedade em geral e até mesmo os veículos de comunicação demonstravam pouca compreensão sobre a seriedade e a complexidade do problema dos desaparecimentos.

Portanto, com quase 30 anos de engajamento contínuo nesta causa, Ivanise vê a fundação do Movimento Nacional como um momento de união e fortalecimento vital para todas as organizações e laços familiares. Ela argumenta que, ao unir forças, será possível cobrar com mais veemência das autoridades uma mudança substancial na realidade. Além disso, um dos grandes propósitos do movimento é oferecer suporte às famílias que, em sua maioria, desconhecem seus direitos e encontram nas associações seu último fio de esperança e amparo.

Uma Voz Unida por Mudanças Efetivas

Em conclusão, o lançamento do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, no Dia Internacional dedicado ao tema, simboliza a crescente força e organização de uma causa que clama por justiça e visibilidade. Através da união de diversas entidades e do compartilhamento de histórias pessoais de luta, o movimento busca não apenas a responsabilização do Estado, mas também a implementação de políticas públicas que realmente façam a diferença na vida de milhares de famílias. Consequentemente, a esperança é que, com esta nova plataforma, a busca pelos desaparecidos ganhe um novo capítulo de esperança e efetividade, transformando a dor em ação e resultados concretos.

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