O Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte se tornou palco de uma profunda reflexão sobre identidade e história com a exposição “Entre Olhares da Arte, Detalhes que Encantam e Histórias que Inspiram”. A mostra exibe trabalhos de alunos do 9º ano que foram muito além da simples produção artística. Eles conseguiram transformar o modo como se relacionam com a arte, integrando de maneira coesa a literatura, a história e as artes visuais, e produzindo obras que dialogam ativamente com a ancestralidade, a diversidade e, crucialmente, com práticas antirracistas.
Este projeto interdisciplinar teve um impacto significativo na postura dos estudantes ao longo do ano. Segundo a coordenadora pedagógica, Andréia Modtkowski, o avanço mais notável foi o reconhecimento do valor intrínseco da criação. “Eles entenderam que a arte transforma e mostra que todos são capazes de produzir. Não se trata de ser excelente, mas de perceber que conseguem fazer coisas incríveis”, afirma Modtkowski. Ela ressalta que a exposição é a materialização desse processo, mostrando que o reconhecimento da própria capacidade é uma construção gradual e contínua.
As obras expostas foram desenvolvidas a partir de eixos transversais cuidadosamente definidos pelos professores de literatura, história e artes. O foco recaiu intensamente na leitura de autoras negras e na investigação de temas ligados às ancestralidades africanas e afro-brasileiras. O repertório teórico dos jovens foi ampliado por meio de referências de criadores negros e pesquisas aprofundadas sobre símbolos culturais importantes, como o Baobá, tema investigado pelo professor e pesquisador André Lúcio Bento.
Integração Curricular e o Compromisso Antirracista
Para a professora de português, Luane Almeida, essa integração entre as diferentes áreas do conhecimento é indispensável para expandir a leitura de mundo dos estudantes. Ela contextualiza o projeto dentro das diretrizes nacionais: “Quando você fala de eixos transversais, fala da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do Currículo em Movimento, que cobram eixos da educação inclusiva.” A metodologia adotada priorizou múltiplas linguagens – pintura, visual, gestual, icônico – pois, conforme explica Almeida, não é possível desenvolver uma perspectiva artística integrada sem considerar essas diversas semióticas, que são claramente visíveis nas telas e instalações da mostra.
A produção dos estudantes não apenas segue as orientações pedagógicas do componente curricular, mas também coloca em evidência temas essenciais para o cotidiano escolar, como diversidade, inclusão e o combate ativo ao racismo. A docente enfatiza que o projeto cumpre rigorosamente os mandatos educacionais.
“O Currículo em Movimento exige que os alunos saiam do 9º ano com um repertório crítico bem fundamentado. Nada mais interessante do que trazer projetos que tornem isso visível na prática”, pontua. A equipe docente trabalhou no cruzamento entre os eixos curriculares e a legislação que torna obrigatório o ensino das matrizes africanas e afro-brasileiras na educação básica. Segundo a professora, esse compromisso com a história e a cultura afro-brasileira “ficou muito evidente no desenvolvimento da mostra”, provando que a arte é uma ferramenta poderosa não apenas para a expressão, mas também para a conscientização e a formação de cidadãos mais críticos e engajados com a diversidade.



