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Ex-ministro alerta Bolsonaro sobre golpe em 2022

Ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira depôs no STF e afirmou ter alertado Bolsonaro sobre a gravidade de um possível golpe em 2022, negando participação na elaboração de minuta golpista. O general também se desculpou por críticas anteriores ao sistema eleitoral.
Depoimento Paulo Sérgio Nogueira golpe 2022
Foto: Fellipe Sampaio/STF

O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, prestou depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF) na terça-feira, 10 de junho, e revelou ter alertado o então presidente Jair Bolsonaro sobre a gravidade de um possível golpe de Estado em 2022. Durante o interrogatório, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, o general negou veementemente ter participado da elaboração de qualquer minuta golpista, além de se retratar por críticas anteriores ao sistema eleitoral brasileiro.

A versão do ex-ministro sobre a trama golpista

Acusado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de apoiar críticas ao sistema eleitoral, incentivar a tentativa de golpe e apresentar uma versão do decreto golpista para obter apoio dos comandantes militares, Nogueira confirmou sua presença em uma reunião convocada por Bolsonaro para discutir a possibilidade de medidas de estado de sítio visando reverter os resultados das eleições. Entretanto, ele refutou a acusação de ter apresentado o referido documento. Segundo o seu relato, o objetivo da reunião era, na verdade, uma troca de ideias sobre possíveis cenários. “Alertei da seriedade, da gravidade, caso ele [Bolsonaro] estivesse pensando em estado de defesa, estado de sítio. Estávamos conversando ali numa tempestade de ideias, sobre as consequências de uma ação futura que eu imaginava que poderia acontecer se as coisas fossem em frente”, declarou o ex-ministro.

Além disso, Nogueira afirmou ter deixado a reunião com o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, extremamente preocupado com a possibilidade de ações radicais. Sua preocupação, segundo ele, centrava-se nas potenciais consequências negativas de tais medidas para o país.

Negações e pedido de desculpas

Em sua defesa, o ex-ministro negou categoricamente ter levado qualquer minuta golpista para os comandantes das Forças Armadas. “Eu nunca tratei de minuta de golpe com meus ex-comandantes”, declarou firmemente. De forma similar, ele refutou as alegações de ter sofrido pressão de Bolsonaro para manipular o relatório de auditoria das urnas eletrônicas das eleições de 2022, insinuando a possibilidade de fraudes. Segundo Nogueira, o relatório foi elaborado com base em pareceres técnicos das Forças Armadas, e Bolsonaro jamais o pressionou para alterá-lo ou direcioná-lo apenas ao segundo turno das eleições.

Finalmente, demonstrando arrependimento, o general pediu desculpas publicamente ao ministro Alexandre de Moraes pelas críticas infundadas que fez às urnas eletrônicas e a membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “Queria me desculpar publicamente por ter feito essas colocações. Nessa reunião, utilizei palavras totalmente inadequadas para descrever o trabalho do TSE”, admitiu.

O contexto dos interrogatórios no STF

O depoimento de Paulo Sérgio Nogueira faz parte de uma série de interrogatórios conduzidos por Alexandre de Moraes a oito réus acusados de participação no “núcleo crucial” da trama golpista. Antes dele, já foram ouvidos Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; e o próprio Jair Bolsonaro. Ainda falta o depoimento de Walter Braga Netto, general do Exército e ex-ministro de Bolsonaro, que será ouvido por videoconferência devido à sua prisão preventiva desde dezembro passado, acusado de obstrução de justiça e obtenção de informações privilegiadas da delação de Mauro Cid.

Por fim, o interrogatório dos réus representa uma das últimas etapas da ação penal. Estima-se que o julgamento, que definirá a condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais acusados, ocorra no segundo semestre de 2025. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.