Na última quinta-feira (12), indígenas do povo Tupinambá participaram do evento final de recepção do Manto Sagrado Tupinambá, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Durante o encontro, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, as lideranças Tupinambá reforçaram pedidos pela demarcação de terras e a retirada de intrusos de territórios indígenas.
A anciã Yakuy Tupinambá, uma das vozes mais atuantes do evento, criticou o processo de devolução do manto e defendeu que a peça sagrada seja oficialmente devolvida ao território Tupinambá, na Bahia, ao invés de permanecer no museu. Além disso, Yakuy manifestou a insatisfação da comunidade com a tese do marco temporal, que limita os direitos territoriais dos povos indígenas ao exigir que estejam ocupando suas terras na data da promulgação da Constituição de 1988.
“Nossas reivindicações são claras: queremos o retorno do manto para a aldeia mãe em Olivença [Bahia], e exigimos respeito aos nossos direitos, autonomia para o Ministério dos Povos Indígenas e a demarcação imediata de nossas terras”, afirmou Yakuy, que também destacou a necessidade de reparação histórica e a reestruturação da Funai.
Posicionamento do Presidente Lula
Em seu discurso, o presidente Lula reafirmou seu compromisso com os povos indígenas e criticou a tese do marco temporal. “Eu também sou contra essa tese. Fiz questão de vetar esse atentado aos povos indígenas, mas o Congresso Nacional derrubou o veto, favorecendo grandes proprietários e fazendeiros”, afirmou Lula, destacando que o governo tem dado prioridade às questões indígenas.
O presidente também mencionou os esforços para a homologação de novas terras e a desintrusão de áreas ocupadas ilegalmente por não indígenas. “Estamos enfrentando desafios, mas estamos comprometidos em garantir os direitos dos povos indígenas, sempre com diálogo e transparência”, reforçou.
Lula ainda defendeu que o Manto Tupinambá, temporariamente abrigado no Museu Nacional, seja transferido para a Bahia. “O manto está aqui, mas todos sabemos que o lugar dele é no território Tupinambá. Vamos trabalhar para que esse espaço seja criado na Bahia, com o apoio do governo estadual”, disse o presidente, se referindo à necessidade de um espaço adequado para abrigar a peça sagrada.
O Retorno do Manto Tupinambá e sua Importância Cultural
O Manto Tupinambá, uma peça de grande valor cultural e espiritual, foi devolvido ao Brasil após mais de 300 anos guardado no Museu Nacional da Dinamarca. Com 1,80 metros de altura e confeccionado com penas de guará, o manto foi produzido pelos indígenas Tupinambá no século 17 e chegou à Europa como um item valioso para coleções de museus.
A doação do manto ao Brasil foi oficializada em 2023, após um ano de negociações entre as instituições brasileiras e dinamarquesas. O artefato chegou ao país em julho de 2024, sendo recebido com celebrações e rituais de acolhimento por líderes espirituais Tupinambá.
Durante o evento no Museu Nacional, lideranças indígenas expressaram a importância da peça não apenas como patrimônio cultural, mas também como símbolo de resistência e luta pelos direitos dos povos originários.
Demarcação de Terras e Futuro dos Povos Indígenas
O evento serviu também como um espaço para as lideranças indígenas reafirmarem suas reivindicações em relação à demarcação de terras. A tese do marco temporal foi amplamente criticada pelas lideranças presentes, que pediram ao governo mais agilidade na regularização de territórios.
“Nossa luta é pela terra, pelos nossos direitos e pela nossa existência. Não vamos parar até que todas as terras indígenas sejam demarcadas”, declarou Yakuy Tupinambá.
O governo federal, por sua vez, garantiu que continuará a trabalhar para a demarcação de novas terras e para a retirada de ocupantes não indígenas de territórios já homologados. A criação do Ministério dos Povos Indígenas foi destacada como um marco na política de reconhecimento e proteção aos povos originários.