Um novo estudo realizado por pesquisadores brasileiros e australianos revelou que todas as dez áreas marinhas de proteção integral do Brasil estão contaminadas por microplásticos. Essas regiões, destinadas à preservação ambiental com restrições severas de uso, apresentaram partículas plásticas mesmo onde não há presença humana direta.
A pesquisa, publicada na revista Environmental Research, indica que a poluição por microplásticos atinge até locais remotos como o Atol das Rocas, onde não há atividade econômica nem turismo autorizado. Os pesquisadores apontam que as partículas podem chegar por correntes oceânicas e ventos, tornando o problema um desafio global.
Contaminação ainda é menor do que em áreas urbanas
Apesar da presença de microplásticos, os pesquisadores observaram um dado encorajador. A concentração média nas áreas protegidas é inferior à média internacional para essas regiões e muito abaixo da encontrada em zonas urbanas brasileiras.
Em locais como Santos e algumas praias do Rio de Janeiro, a contaminação chega a ser 50 vezes maior. Já no Refúgio de Vida Silvestre de Alcatrazes, onde a poluição foi mais intensa entre as áreas estudadas, a média foi de 0,90 partícula por grama de tecido úmido. No Atol das Rocas, o índice foi de 0,23.
Moluscos indicam níveis de poluição nos mares
Os pesquisadores usaram ostras e mexilhões como bioindicadores. Esses moluscos filtram a água do mar e acumulam microplásticos, permitindo identificar o grau de contaminação. As análises encontraram partículas menores que um milímetro, compostas por polímeros como PET, teflon e celulose.
Segundo Ítalo Braga, coordenador do estudo e professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os moluscos fornecem um retrato confiável da poluição marinha, porque acumulam contaminantes ao longo do tempo.
Soluções dependem de cooperação internacional
A presença de microplásticos em áreas marinhas protegidas revela que apenas criar zonas de preservação não basta. Para Braga, é essencial que essas áreas tenham uma gestão ambiental efetiva e fiscalização constante.
Mas, como a poluição pode vir de regiões distantes, o pesquisador destaca a importância de acordos internacionais. Ele menciona o Tratado Global dos Plásticos, ainda em fase de negociação, como uma oportunidade para reduzir a presença de plásticos nos oceanos de forma coordenada e duradoura.