Diferença de aprendizado entre ricos e pobres atinge patamar crítico
A nova análise do estudo internacional PIRLS, conduzida pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), revela uma grave desigualdade no aprendizado da leitura entre alunos brasileiros. Apenas 26,1% dos estudantes com menor nível socioeconômico (NSE) atingem um nível considerado adequado de leitura no 4º ano do ensino fundamental.
Enquanto isso, entre os estudantes mais ricos, 83,9% demonstram leitura adequada, o que evidencia uma diferença de 58 pontos percentuais — a maior entre os países avaliados com dados disponíveis. Portanto, o Brasil aparece como o país com maior desigualdade educacional nesse aspecto.
Contato precoce com livros faz diferença significativa
Além da renda, o acesso à leitura antes da entrada na escola influencia diretamente o desempenho. Entre os alunos que tiveram contato frequente com livros na infância, 49,7% alcançaram o nível adequado. Por outro lado, entre os que tiveram contato apenas “às vezes”, esse percentual cai para 36%.
Ou seja, quanto mais cedo a criança tem contato com a leitura, maiores são as chances de bom desempenho escolar. O hábito de leitura dos pais também impacta os resultados. Filhos de pais que afirmam “gostar muito de ler” alcançam 47,6% de leitura adequada, contra 32,6% dos filhos de pais que “não gostam de ler”.
Meninas têm desempenho melhor que os meninos
A pesquisa também identificou diferenças de desempenho entre gêneros. Entre os meninos, 44,1% têm desempenho abaixo do básico, enquanto entre as meninas esse índice é de 33,3%.
Além disso, no grupo de alto desempenho, 12,7% das meninas se destacam, frente a 9,7% dos meninos. Esses dados mostram que as desigualdades de gênero também devem ser consideradas nas políticas educacionais.
Leitura é base para todas as outras aprendizagens
Segundo Ernesto Martins Faria, diretor do Iede, a leitura não é apenas uma habilidade de linguagem. “Ela é fundamental para o aprendizado em todas as áreas: matemática, ciências e cidadania”, afirma.
Além disso, ele ressalta que, sem domínio da leitura, o aluno perde autonomia e enfrenta dificuldades em todas as etapas da vida escolar. Por isso, garantir leitura de qualidade desde cedo é essencial.
Políticas públicas devem buscar equidade e intencionalidade
De acordo com o Iede, é necessário olhar para além das médias nacionais. Embora o Brasil apresente avanços em alguns indicadores, as desigualdades internas são profundas e persistentes.
O país precisa investir mais em infraestrutura, formação de professores e incentivos para atuação em áreas vulneráveis. Políticas com foco em equidade e justiça social são fundamentais para mudar esse cenário. “A escola pública precisa ser boa onde mais se precisa dela”, conclui Faria.