A capital federal foi palco de uma tragédia que chocou a comunidade e reacendeu o debate sobre a segurança e a justiça juvenil. Isaac Moraes, um estudante de apenas 16 anos, perdeu a vida em Brasília após ser esfaqueado ao tentar recuperar o celular que havia sido roubado. Posteriormente, três adolescentes foram apreendidos suspeitos de envolvimento no crime, enquanto a família e os amigos de Isaac clamam por justiça e punição exemplar para os responsáveis.
O Trágico Assasinato de Isaac Moraes
O assassinato de Isaac ocorreu na última sexta-feira, dia 17, entre as quadras 112/113 da Asa Sul, uma área considerada nobre do Plano Piloto. Segundo relatos e a investigação inicial, o jovem foi vítima de uma facada fatal após tentar reaver seu aparelho telefônico de um grupo de adolescentes. O incidente lamentável aconteceu nas proximidades do Parque Maria Claudia Del’Isola, um local que, tristemente, carrega a memória de outra jovem vítima de violência em dezembro de 2004.
Inicialmente, Isaac estava jogando vôlei com amigos quando o grupo de adolescentes se aproximou. Eles teriam alegado precisar de conexão Wi-Fi para realizar uma ligação. Esta artimanha, conforme apurado pelas autoridades, configura uma prática recorrente utilizada pelos infratores para iniciar roubos na região.
O velório e o subsequente enterro de Isaac, que aconteceu no Cemitério Campo da Esperança, no centro de Brasília, foram marcados por profunda emoção. Colegas do Colégio Militar de Brasília, como Tiago, também de 16 anos, estavam “paralisados” e “atônitos”, buscando um momento de respiro diante da imensa dor. Em um gesto de despedida tocante, os amigos soltaram balões brancos, simbolizando a partida precoce do jovem estudante.
A Dor e o Clamor por Justiça da Família
Os pais de Isaac, ambos profissionais da área da saúde, encontravam-se visivelmente abalados e sem condições de conceder entrevistas. Por conseguinte, foi o irmão de Isaac, Edson Avelino, um analista em tecnologia da informação de 28 anos, quem expressou a dor e o desejo da família. Edson descreveu Isaac como uma “criança muito responsável e amada”, apesar da pouca idade, e revelou que o irmão nutria o desejo de seguir a mesma carreira que ele.
Em conversa com a Agência Brasil, Edson Avelino enfatizou a esperança de que a justiça seja feita. Ele argumentou que, mesmo sendo adolescentes os autores do crime, a punição deve ocorrer. “Em um país em que se vota aos 16 anos de idade, entendo que a pessoa deve pagar pelos seus atos”, declarou, traçando um paralelo com sua própria experiência de começar a trabalhar aos 14 anos com o pai. Essa declaração reflete a angústia da família e o anseio por responsabilidade.
O Medo na Comunidade e a Espera por Socorro
A tragédia de Isaac também ecoou na comunidade local, provocando tristeza e medo entre os moradores. Ricardo Montalvão, auditor e vizinho da família de Isaac, além de pai de um amigo do jovem, externou a consternação coletiva. Ele revelou que seu próprio filho teve o celular furtado recentemente, sublinhando a crescente insegurança na região. Além disso, Montalvão expressou preocupação com a demora no atendimento ao menino após o ataque, alegando que o socorro teria levado cerca de 30 minutos para chegar. A reportagem da Agência Brasil tentou obter informações da Secretaria de Saúde do Distrito Federal sobre o tempo de resposta, mas não conseguiu contato. Lucas, outro colega de escola de Isaac, de 16 anos, lembrou-se do amigo como alguém “muito divertido” e “um dos craques no vôlei da turma do 2º ano”. Ele, ainda em choque, expressou: “Ele brincou comigo um dia antes. Não entendo como isso foi ocorrer. Não caiu a ficha ainda”.
A Investigação e a Prática dos Infratores
As autoridades agiram rapidamente na apuração dos fatos. O delegado Rodrigo Larizzatti, da Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente (DCA), confirmou a inquirição de sete adolescentes e a apreensão de três suspeitos diretamente envolvidos no caso de Isaac. Larizzatti reiterou que a abordagem, com a justificativa de precisar de conexão à internet, é uma “prática recorrente do grupo para iniciar os roubos”. Posteriormente, o delegado observou que, durante a atuação policial, os apreendidos não demonstraram remorso, com apenas um deles questionando se a vítima havia falecido.
O Arcabouço Legal e o Debate sobre Punição Juvenil
A questão da punição de adolescentes infratores é um tema complexo e central neste caso. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um jovem entre 12 e 18 anos que comete um ato infracional grave, equiparado a crime como latrocínio (roubo seguido de morte), pode ser submetido a uma medida de internação. Esta internação possui um prazo máximo de três anos e, após este período, o adolescente deve ser liberado ou encaminhado para regimes de semiliberdade ou liberdade assistida. É importante ressaltar que a liberação compulsória ocorre aos 21 anos, independentemente de o período máximo de três anos ter sido cumprido integralmente.
Entretanto, há um movimento no Congresso Nacional para alterar essa legislação. Um projeto em tramitação propõe ampliar o tempo de internação para adolescentes que cometem atos infracionais graves, estendendo-o de três para cinco ou até dez anos em casos específicos. Esta proposta reflete a crescente demanda por respostas mais severas diante da criminalidade juvenil, embora o tema continue sendo objeto de intenso debate entre juristas e a sociedade civil.
Panorama da Criminalidade e Propostas de Prevenção
Estudos recentes sobre atos infracionais cometidos por menores de 18 anos apontam o roubo como o mais comum, seguido pelo tráfico de drogas e lesão corporal. Em contrapartida, os homicídios representam uma parcela mínima, inferior a 1% dos casos. É, portanto, crucial entender o perfil desses jovens. Geralmente, os adolescentes envolvidos em atos infracionais apresentam escolaridade abaixo do esperado para a idade, e muitos sequer frequentam a escola. Essa ausência da vida escolar pode ser resultado de expulsões ou da necessidade precoce de ingressar no mercado de trabalho para auxiliar no sustento familiar, fatores que os tornam mais vulneráveis. Nesse sentido, especialistas sugerem que o reforço da rede de proteção social e a garantia dos direitos previstos no ECA são medidas essenciais para evitar que adolescentes em situação de vulnerabilidade acabem cometendo atos infracionais, buscando, assim, prevenir futuras tragédias.