Megaoperações policiais no Rio de Janeiro, como a recente que resultou em 121 mortes, são alvo de severas críticas por especialistas. Eles argumentam que essas ações não só falham em desmantelar o crime organizado, mas também acarretam perdas humanas e econômicas incalculáveis para a região, sem oferecer uma solução duradoura para a criminalidade.
Contexto e Críticas à Estratégia Policial
A operação conduzida nos Complexos da Penha e do Alemão, em uma terça-feira fatídica, deixou um saldo trágico de 121 vidas perdidas, sendo 117 civis e quatro policiais. Além disso, 113 pessoas foram detidas e 118 armas, incluindo 91 fuzis, foram apreendidas. Essa ação se destaca como uma das mais letais já registradas no país.
A advogada criminalista Lorena Pontes critica veementemente essa abordagem, afirmando que o crime organizado possui uma estrutura multifacetada e complexa, enraizada em redes econômicas e sociais profundas. Portanto, operações policiais isoladas são intrinsecamente ineficazes para atacar suas raízes, que demandam uma resposta mais abrangente.
Ela defende, por outro lado, a imperativa necessidade de políticas públicas integradas, programas de prevenção social e uma articulação eficaz entre as esferas federal, estadual e municipal. Em sua análise, o Estado não pode medir o sucesso pela letalidade das operações, pois tais megaoperações frequentemente geram riscos significativos de abuso de poder e violações dos direitos humanos.
Ademais, Pontes ressalta a autonomia histórica das polícias do Rio de Janeiro. Embora essa característica possa conferir eficiência em ações rápidas, também cria o risco de descoordenação com políticas públicas mais amplas e uma fiscalização limitada, comprometendo a eficácia a longo prazo no combate ao crime.
Danos Econômicos e Sociais Duradouros
Pouco depois da operação policial, o Centro de Operações da Prefeitura (COR) do Rio de Janeiro declarou que a cidade retornava à “normalidade”. Isso incluía a desobstrução de 35 vias que haviam sido bloqueadas por barricadas e o restabelecimento do fluxo de trânsito em diversas áreas.
Entretanto, para o advogado Bruno Medeiros Durão, especialista em Direito Tributário, as repercussões das incursões policiais vão muito além das interdições viárias. Conforme ele explica, o fechamento de vias, a suspensão de serviços essenciais e o impacto negativo na logística urbana geram perdas fiscais e tributárias imensas, afetando tanto o estado quanto o município.
Nesse sentido, Durão enfatiza que os impactos dessas megaoperações são incalculáveis, atingindo o ecossistema social da cidade de maneira profunda. Além disso, eles minam oportunidades cruciais de negócios, a criação de empregos e a consequente geração de renda para a população.
A instabilidade crônica, por sua vez, afasta investimentos essenciais e sobrecarrega os contribuintes com custos emergenciais de segurança que poderiam ser evitados. Em suma, ele conclui que a paz social é um pré-requisito fundamental para o desenvolvimento econômico, e o Rio de Janeiro tem falhado consistentemente em garantir essa condição essencial.
A gravidade da situação é corroborada por dados robustos: um levantamento conjunto da Confederação Nacional do Comércio (CNC) em parceria com o Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) revela que o Estado do Rio de Janeiro perde anualmente cerca de R$ 11,5 bilhões devido a crimes violentos, o que representa aproximadamente 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) da unidade federativa.
 
								 
								 
							 
											 
								 
								 
								



