Uma escola de São Sebastião dá exemplo para o Brasil em relação à temática antirracista e aos conhecimentos sobre povos indígenas. O Centro de Educação Infantil 01, ou simplesmente Centrinho, trabalha desde cedo a inclusão social e nossos antepassados em sala de aula e por meio da arte. Os aprendizes: meninos e meninas de 4 e 5 anos de idade.
“Nosso projeto não se restringe ao Dia do Índio, em abril, ou da Consciência Negra, em novembro. Levamos isso para a sala de aula o ano todo, por meio de livros e imagens usados na escola”
Francineia Alves, coordenadora pedagógica do Centrinho
Uma iniciativa de encher os olhos e que foi reconhecida em outubro pelo Prêmio Educar – uma honraria concedida a escolas que trabalham a equidade racial e de gênero, criada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT).
O Centrinho foi um dos 16 premiados pelo Educar, em São Paulo, pela realização do projeto Valorização da Cultura Afro-Brasileira e Indígena. A professora Francineia Alves, uma das idealizadoras da proposta, também foi certificada.
A iniciativa da escola não é novidade para nenhuma das 23 turmas, que aprendem ao longo do ano lições sobre o tema e escutam histórias sobre heróis negros. Está na grade escolar desde 2013. E que culmina com um festival, no segundo semestre, em que os alunos fazem apresentações ligadas à temática.
“Nosso projeto não se restringe ao Dia do Índio, em abril, ou da Consciência Negra, em novembro. Levamos isso para a sala de aula o ano todo, por meio de livros e imagens usados na escola”, ressalta Francineia, hoje coordenadora pedagógica.
“Fazemos cumprir as leis nº 10.639/03, sobre a obrigatoriedade do estudo da cultura afro-brasileira, e nº 11.645/08, que inclui também os povos indígenas. Algo que se deve ensinar desde muito cedo”, acrescenta. Francineia é negra com orgulho e suas duas filhas estudaram no Centrinho também.
Festival é a “‘cereja do bolo”
Neste festival de 2022, cerca de 200 pequenos se alinharam para assistir à apresentação dos colegas. Alguns garotos trajando calça de capoeira. Já as meninas, com pintura indígena nos rostinhos. A turma da pré-escola 1 fez uma apresentação baseada no livro Olelê – Uma antiga cantiga da África, de Fábio Simões. Na história, um velho negro incentivava seu povo a vencer o mar agitado e eles interagiam por meio da cantiga Olelê. Em seguida, houve roda de capoeira com a participação de uma ex-aluna.
Lição de casa aprendida
Beleza e estética afro-brasileira e desfile de moda afro também estão no projeto. Uma ideia já absorvida pela sorridente Evelyn Bezerra, 6 anos. “Eu aprendi que não pode julgar a cor da pele e do cabelo, os negros são lindos do jeito que eles são”, conta. “Minha melhor amiga é a Débora, ela é preta. Tem que respeitar a cor do jeito que ela é”, reforça.
Diretora do centro de ensino, Cleyde Sousa explica que, a cada ano, professores novatos também levam os ensinamentos. “Trabalhamos com a formação de novos professores todos os anos, pois a rotatividade é grande”, afirma. O sucesso do festival, celebrado pelos pequenos, é resultado de pesquisa e vivência de todo corpo discente para imersão na história afro-brasileira e indígena.
Expansão
A gestora frisa ainda que há a preocupação em levar esse modelo para outros colégios do Distrito Federal. “Nossa missão é também divulgar essa ideia para as demais escolas que tenham interesse. Aqui, em São Sebastião, já tem uma interessada”, adianta.
Atenta aos comportamentos infantis, a professora Lediane Costa lembra exemplos do dia a dia e o esforço em fazer a criança reafirmar sua própria identidade. “Ensinamos a eles a se reconhecerem com sua cor de pele. Algumas negras pintam com tinta clara para se verem de outra cor. E é nos livros e vídeos que ensinamos o que é a diversidade”, finaliza.
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