“Tenho a convicção de que esta é a última vez que falamos de proibição do carnaval. Vamos superar esta situação. Quero agradecer o apoio do setor carnavalesco, com o qual estamos conversando desde junho do ano passado para fortalecer a folia de 2023”, aponta o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues
A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) pôs o bloco na rua nesta sexta-feira (25), que seria do tradicional carnaval, interrompido há dois anos por conta da covid-19. Com a presença de carnavalescos das agremiações do Distrito Federal, a pasta lançou o projeto Escola de Carnaval, cuja finalidade é capacitar, profissionalizar e articular a organização da cadeia produtiva das escolas de samba, que teve o desfile interrompido em 2015.
“Tenho a convicção de que esta é a última vez que falamos de proibição do carnaval. Vamos superar esta situação. Quero agradecer o apoio do setor carnavalesco, com o qual estamos conversando desde junho do ano passado para fortalecer a folia de 2023”, aponta o secretário Bartolomeu Rodrigues.
“A ideia da Escola de Carnaval é justamente pegar todos os elementos que fazem e formulam o Carnaval, os que administram as escolas de samba, e rearticular o setor, que se desorganizou”, explica a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes
O titular da Secec lembra que carnaval não é só festa. “Além de manifestação cultural importantíssima, é também instrumento de atividade econômica. O GDF não deixou o setor desamparado. Já investimos, sem a perspectiva do carnaval, em torno de R$ 5,5 milhões (em atividades que dão emprego e renda). Agora é a vez da Escola de Carnaval”.
“A ideia da Escola de Carnaval é justamente pegar todos os elementos que fazem e formulam o Carnaval, os que administram as escolas de samba, e rearticular o setor, que se desorganizou”, explica a subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural, Sol Montes. Ela reforça que um dos eixos principais do projeto é incentivar a gestão profissional da cadeia produtiva que envolve 7 mil trabalhadores no DF.
O projeto – lançado no edital nº 27/2021 – tem duração de oito meses, que podem ser prorrogados por igual período. Trata-se de um termo de colaboração, portanto, de iniciativa do GDF, executado pela organização da sociedade civil (OSC) Luta pela Vida, no valor de R$ 1,5 milhão.
Serão realizados três módulos formativos. O primeiro deles será focado em gestão (planejamento, elaboração de projeto, legislação de carnaval, captação de recursos públicos e privados, elaboração de plano de comunicação e prestação de contas).
No segundo, será discutido o universo lúdico do carnaval, como desenhos artísticos de fantasias/figurinos, maquiagem de carnaval, análise estrutural das alegorias e adereços e cenografia carnavalesca.
O último módulo versa sobre a musicalidade: dança do passista, samba enredo, mestre-sala e porta-bandeira, ritmistas de escola de samba e bateria de samba e percussão.
“O pressuposto deste projeto é o talento das comunidades. Esse é o legado que ficará para a cidade”, complementa o carnavalesco Milton Cunha
Ao todo, o projeto vai capacitar 500 agentes, que serão multiplicadores. Vai unir os 16 carnavalescos do DF no projeto de capacitação para qualidade do desfile de carnaval 2023. Parte das oficinas ocorrerá no Eixo Cultural Ibero-americano. Algumas, no entanto, ocorrerão nos barracões das escolas.
“O pressuposto deste projeto é o talento das comunidades. Esse é o legado que ficará para a cidade”, complementa Milton Cunha, revelando que o tema a ser trabalhado nos módulos é: “Brasília, Capital Ibero-americana das Culturas de 2022”.
Curadoria de primeira
A curadoria do projeto é de Milton Cunha, carnavalesco histórico (que passou por escolas como Beija-Flor), cenógrafo e comentarista de desfiles nas principais emissoras de TV, mestre e doutor em Letras, com pós-doutorado em narrativas do carnaval e professor universitário.
“O tripé da minha curadoria é constituído pela gestão administrativa, o artístico-visual e o artístico-musical. Primeiro, abordo a visão geral da escola de samba como fenômeno da modernidade, da sociedade do espetáculo. Em seguida, vem o resgate histórico, para que figurinista, carnavalesco, projetista de alegoria e compositor saibam que o tema tem um passado. Aí temos as aulas de croqui, risco, volumetria, ergonomia e também alegoria, com suas noções espaciais. A terceira parte é a musicalidade. Aí você trata de enredo, da harmonia musical”, resume.
“A Secec está ajudando na capacitação dos envolvidos com o carnaval do DF ao trazer para o curso a experiência de um grande curador na área, que é o Milton Cunha, que sabe tudo sobre carnaval”, explica Romulo Sulz, presidente da instituição Lute pela Vida.
“Chamo o carnaval de Brasília de carnaval candango. Acho que essa experiência reflete o Planalto Central. O artista popular planaltino expressa uma visão de mundo de capital federal. A festa se constrói numa ideia inicial da solidão do sertão, mas é preciso celebrar. Então ele vai misturar elementos de todos que vieram, de todas as regiões. É um carnaval multicultural e, ritmicamente, ele dialoga com muita coisa brasileira, não é um carnaval que ficou fechado em si. É um carnaval de contribuições”, define Cunha.
“Vai servir para preparar nossos componentes nas diversas áreas das escolas de samba para que o carnaval volte com força total em 2023. Estamos aguardando com muita expectativa o início dos cursos e acreditamos que será um grande sucesso”, complementa o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do DF, Hélio dos Santos
Sol lembra que “já havia carnaval na Cidade Livre [hoje, Núcleo Bandeirante], antes da inauguração da capital”. Ela concorda com Cunha que a diversidade marca o carnaval de Brasília. Cita o Cruzeiro, que reflete o carnaval carioca, os blocos, que lembram suas origens regionais, como o Galinho de Brasília, de inspiração pernambucana, ou as matrizes africanas do Recôncavo Baiano.
“Aqui os blocos no carnaval tocam até rock”, lembra Sol, em alusão, por exemplo, ao celebrado Eduardo e Mônica. A subsecretária também destaca os blocos alternativos que empunham alto bandeiras LGBTQIA+ e do feminismo. “São muito fortes e correspondem a 30% das agremiações que vão para as ruas”, afirma.
Projeto revolucionário
Paulo Henrique Nadiceo, presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília, elogia a iniciativa de Escola de Carnaval: “Acho o projeto revolucionário, inovador. Mostra que a gestão da cultura está preocupada com formação e profissionalização de toda a cadeia produtiva do carnaval. Isso nos enche com a sensação de um futuro promissor, brilhante”.
Hélio dos Santos, presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do DF (Liestra), aproveita para mencionar outros recursos do GDF que chegaram para o setor: “Podemos dizer que o carnaval de Brasília renasceu”. Refere-se ao edital nº 34/2021, que selecionou organizações da sociedade civil para desenvolver atividades de apoio às escolas de samba e blocos tradicionais.
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Com o recurso de R$ 2,75 milhões, a União das Escolas de Samba do DF vai atender pelo menos 15 localidades e territórios de escolas de samba. Já a Liga Carnavalesca dos Trios, Bandas e Blocos Tradicionais (LCTBBT) ficará a cargo de projeto voltado a oito localidades e territórios de blocos tradicionais, recebendo aporte de R$ 1,2 milhão.
Sobre a Escola de Carnaval, Hélio diz que “vai servir para preparar nossos componentes nas diversas áreas das escolas de samba para que o carnaval volte com força total em 2023. Estamos aguardando com muita expectativa o início dos cursos e acreditamos que será um grande sucesso”.
Serviço
Escola de Carnaval
– Onde: nas regiões administrativas de Ceilândia, Taguatinga, Santa Maria, Plano Piloto, Asa Norte e Cruzeiro
– Quando: de 21 de março a 15 de julho
– Inscrições: a partir de 25 de fevereiro no site do projeto, só para agentes das escolas de samba
– Para mais informações: www.escoladecarnaval.org.br
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF
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