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Economia cresce 0,1% no 3º trimestre; juro alto freia consumo

Economia brasileira cresceu 0,1% no 3º trimestre de 2025, estima FGV. Juros altos travam consumo e investimentos, impactando o desempenho.
PIB Brasil juros altos
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

A economia brasileira registrou um crescimento modesto de 0,1% no terceiro trimestre de 2025, conforme estimativas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Este desempenho contido, entretanto, revela o impacto de taxas de juros elevadas, que atualmente freiam o consumo das famílias e os investimentos, exercendo pressão sobre a atividade econômica nacional.

Monitor do PIB da FGV Detalha Cenário

O relatório “Monitor do PIB”, um estudo mensal elaborado pelo Ibre da FGV, foi divulgado nesta terça-feira, 18 de novembro, detalhando o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Segundo o estudo, embora o crescimento trimestral tenha sido mínimo em relação ao segundo trimestre, a economia acumulou um avanço de 2,5% nos últimos doze meses. Especificamente na transição de agosto para setembro, a variação foi nula, indicando uma estabilidade momentânea.

Para fins de comparação precisa entre diferentes períodos, os dados apresentados são dessazonalizados, ou seja, foram excluídas variações sazonais. Adicionalmente, a FGV projeta que o PIB brasileiro acumulado até o terceiro trimestre de 2025 totalizou expressivos R$ 9,370 trilhões em termos monetários.

Fatores de Desaceleração da Atividade Econômica

Juliana Trece, economista e coordenadora da pesquisa, explicou que o setor de serviços e o consumo das famílias, que representam as maiores parcelas do PIB, permaneceram estagnados. Outros componentes da economia, por sua vez, pouco contribuíram para um ritmo de crescimento mais robusto. Ao analisar as informações anuais – que tendem a ser menos voláteis que os períodos imediatamente seguidos – a FGV observou uma desaceleração perceptível no consumo das famílias ao longo de 2025. Este indicador, que crescia acima de 3% anualmente desde 2021, expandiu-se em apenas 0,2% no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2024.

A pesquisa aponta que, apesar do leve incremento geral, o consumo de bens apresentou declínio, abrangendo tanto itens duráveis quanto não duráveis. O consumo de serviços, ainda que positivo, perdeu fôlego consideravelmente no último trimestre, contribuindo para o cenário de estagnação.

Investimento Produtivo em Queda

Concomitantemente à desaceleração do consumo, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), um indicador crucial da capacidade produtiva do país, registrou uma retração de 0,4% na comparação entre os terceiros trimestres de 2024 e 2025. Este recuo foi fortemente influenciado pelo desempenho fraco do segmento de máquinas e equipamentos. Vale ressaltar que esta é a primeira queda da FBCF desde o trimestre móvel que terminou em janeiro de 2023, sinalizando um alerta sobre o investimento produtivo no Brasil.

A Influência Direta dos Juros Elevados

Juliana Trece, que também coordena o Núcleo de Contas Nacionais do Ibre, atribui essa desaceleração do consumo e a diminuição da capacidade de investimento diretamente à política monetária, ou seja, ao elevado patamar dos juros. “Certamente, os juros elevados contribuem de forma significativa para este resultado”, afirmou a economista à Agência Brasil. Essa estratégia de juros altos alinha-se aos objetivos do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que tem mantido a taxa básica em 15% ao ano.

Este é o patamar mais alto da Selic desde julho de 2006, quando atingiu 15,25%, com a escalada da taxa tendo início em setembro do ano anterior. A política monetária restritiva visa primordialmente conter a inflação, que tem superado o limite máximo da meta governamental (atualmente em 4,5% ao ano) por treze meses consecutivos. Trece complementa que, “embora o patamar de 15% já esteja consolidado, os efeitos defasados na atividade econômica estão se manifestando de maneira mais evidente agora, nos resultados do terceiro trimestre”, explicando a demora na percepção dos impactos.

Crescimento das Exportações Apesar de Desafios Globais

Em contraste com a fraqueza interna, as exportações brasileiras demonstraram notável resiliência, crescendo 7% no mesmo período de comparação interanual. Este é o maior aumento desde o trimestre móvel encerrado em maio de 2024. O incremento foi generalizado entre todos os grupos de produtos exportados, com destaque para a indústria extrativa, que contribuiu com aproximadamente 44% do crescimento total das exportações.

Juliana Trece também salientou que as exportações avançaram no terceiro trimestre, mesmo diante da imposição do “tarifaço” americano, que aplica taxas de até 50% sobre alguns produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. A economista considera que a política protecionista dos EUA não gerou um impacto generalizado sobre as exportações do Brasil. “É provável que alguns segmentos tenham sido mais afetados, como o madeireiro, que possui forte direcionamento para os Estados Unidos, mas isso não se refletiu no resultado agregado, não causando um impacto tão abrangente nas exportações”, explicou.

Outros Indicadores e Divulgação Oficial do PIB

O Monitor do PIB da FGV representa um importante termômetro da conjuntura econômica nacional, porém não é o único. Outro índice relevante é o de atividade econômica do Banco Central (IBC-BR), divulgado na segunda-feira, 17 de novembro, que já havia indicado recuos de 0,2% de agosto para setembro e de 0,9% no terceiro trimestre, em comparação com o segundo. Contudo, em uma perspectiva de doze meses, o IBC-BR apontou uma expansão de 3%, mostrando uma visão diferente no longo prazo.

O resultado oficial do Produto Interno Bruto, entretanto, será apresentado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A próxima divulgação, referente ao terceiro trimestre de 2025, está agendada para 4 de dezembro, ocasião em que os dados serão consolidados e validados oficialmente.