Por redação Edição Brasília
O título desta matéria, que parece um slogan de campanha publicitária, vem chamar a atenção para um tema conhecido, que requer muito cuidado e diálogo. Um assunto sensível, acompanhado de complexidade, tabu social e muitos questionamentos, em torno da decisão pela doação de órgãos de uma pessoa amada, que acaba de falecer.
Em Brasília, ações da sociedade civil e do poder público, estão acontecendo no sentido de promover reflexão e conscientização, em torno desse tema.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal criou a Frente Parlamentar para atuar na defesa das pessoas pré e pós transplantadas e na promoção de ações de conscientização para a doação de órgãos e tecidos. O evento que marcou o lançamento da Frente Parlamentar aconteceu no mês de junho, no plenário da Câmara, por iniciativa do deputado distrital Eduardo Pedrosa. “O objetivo da frente é ser um espaço de debate e de interlocução permanente entre os poderes legislativo, executivo e judiciário e a sociedade civil, visando a construção de propostas concretas para a melhoria da saúde pública do Distrito Federa, em especial no diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados das pessoas pré e pós transplantadas”, afirmou o deputado Eduardo Pedrosa, durante a cerimônia. “Esperamos que o espaço promova, também, o debate em torno da conscientização da relevância da doação de órgãos e tecidos.” – acrescentou.
Integram a frente parlamentar, além de Eduardo Pedrosa, os deputados Roosevelt Vilela (PL), Paula Belmonte (Cidadania), Robério Negreiros (PSD) e Hermeto (MDB).
A criação da Frente Parlamentar é uma conquista para grupos que atuam na assistência e acompanhamento desses pacientes, como é o caso da CTx-DF – Comissão de Transplantados do DF. “A frente vai nos ajudar bastante, no trabalho de conscientização da população para a doação de órgãos”, relata o presidente da comissão, o empresário Robério Melo.
O Instituto de Cardiologia e Transplantes do Distrito Federal – ICT-DF, é uma das unidades de saúde que realizam transplantes pelo SUS, em Brasília. “No Distrito Federal, cerca de 90% dos transplantes realizados, são pelo SUS”, informa Robério, que também é transplantado há 6 anos. “Transplante é um tratamento. É a forma de dar continuidade à vida do paciente”, completa.
Entre janeiro e junho de 2023, o ICT-DF realizou um total de 126 transplantes, sendo 5 em crianças. Já em 2022, foram 226 adultos e 05 crianças transplantadas.
No período pós-operatório, o paciente deve seguir fielmente as orientações médicas, além de tomar, diariamente, medicamentos que atuam na recuperação da cirurgia e na manutenção diária da saúde. “O transplantado vive em uma condição especial, pois precisa de acompanhamento constante, o que não é possível conseguir em locais que não tenham o serviço estruturado e qualificado para o atendimento”, ressalta Robério.
No Distrito Federal, são cerca de dezoito mil pessoas transplantadas. Faz toda a diferença ter uma rede de apoio que ajude na qualidade de vida dessas pessoas. A rede de proteção necessária para os pré e pós transplantados, precisa ser estabelecida desde os profissionais de saúde, que dão orientações importantes no momento do diagnóstico, até a assistência psicológica, financeira e logística para acolher e hospedar as famílias dos pacientes não residentes no DF.
Para atender essa demanda, em outubro de 2020, alguns transplantados se juntaram e criaram a CTx-DF, com o objetivo de prestar suporte ao trabalho que é desenvolvido, com excelência, pelo ICT-DF. A comissão está instalada no hospital, em uma sala cedida pelo Instituto. “São 12 membros voluntários, também transplantados e conhecem bem as necessidades que surgem após o recebimento do novo órgão”, ressalta o presidente da CTx-DF. A equipe de voluntários se reveza, diariamente, dando suporte, orientações e assistência, para pacientes e familiares. Muitas vezes, o auxílio acontece na forma de cestas básicas, no pagamento de conta de energia elétrica e outras necessidades financeiras.
Com as atuações do dia a dia das atividades da comissão e na identificação de muitas ações que precisam ser realizadas em defesa dessas pessoas, nasceu a ideia da criação do Instituto Brasileiro de Transplantados, o IBTx. “Vamos trabalhar com o compromisso de atuar na concretização de cinco projetos importantes”, informa Robério.
Os projetos propostos para o IBTx são:
- Conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos, para salvar vidas. O projeto será realizado a partir de palestra que serão apresentadas para jovens e adultos;
- Prestar suporte humanitário às famílias dos pacientes, oferecendo prestação de serviços de assessoria jurídica;
- Criar casa de passagem, com a viabilização de local próximo ao ICT-DF, para hospedar pacientes e familiares, que não residam no Distrito Federal.
- Estruturar estratégias que capacitem tecnicamente todos os profissionais das unidades de saúde, para o atendimento específico de pacientes pré e pós transplantados, principalmente em casos de urgência.
- Fazer ações no sentido da reinserção de pessoas transplantadas no mercado de trabalho e a alteração de Lei pela equiparação dessas pessoas, à condição dada para pessoas com deficiência.
Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.613/20, que propõe estabelecer os mesmos direitos concedidos às pessoas com deficiência, para pacientes transplantados. O Projeto de Lei foi apensado ao PL nº 1074/2019, que visa dar aos portadores de doenças graves, igualdade dos mesmos direitos concedidos às pessoas com deficiência. O PL 1074 já foi aprovado na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados e sua tramitação atual está na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.
“A criação da frente parlamentar vai nos ajudar bastante, na conscientização da população sobre a doação de órgãos. Já com o IBTx e os projetos que realizaremos, pretendemos dar suporte para diversas pessoas que passarão ou já passaram pela cirurgia de transplante e precisam se adaptar à nova vida.” – afirma Robério Melo.
A história de Robério Melo mudou completamente quando foi diagnosticado com cirrose no fígado, devido à absorção excessiva de ferro no sangue, que sobrecarregava as funções do órgão. Depois de ficar esperando na fila de doação por quase um ano, quando o fígado já estava em seu limite de funcionamento, a cirurgia foi realizada. A necessidade de fazer um transplante, ressignificou sua vida em todos os sentidos: pai de duas filhas, foi surpreendido com a chegada de mais um filho. Para finalizar, Robério dá um recado para você, que nos lê: “Torne-se um doador. Converse com sua família. Doe órgãos e salve vidas!!”.
*Com informações da CLDF e do ICT-DF