A história de William Placides, de 35 anos, é um exemplo de superação e determinação. Criado no Sol Nascente, região do Distrito Federal que já foi considerada a maior favela da América Latina, ele acaba de tomar posse como terceiro-secretário do Itamaraty.
A trajetória de William é marcada por desafios. Mesmo conquistando uma das melhores notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2007, ele recusou a chance de cursar medicina para seguir sua vocação em Relações Internacionais. Agora, depois de anos de estudo e dedicação, ele realiza o sonho de representar o Brasil na diplomacia.
Superação e escolha pela diplomacia
Natural de Itapecerica da Serra (SP), William mudou-se para o Distrito Federal aos 10 anos, quando sua mãe decidiu recomeçar a vida com os três filhos após um divórcio. No Sol Nascente, enfrentou dificuldades financeiras, mas nunca abandonou os estudos.
Em 2007, foi um dos alunos de escola pública com as melhores notas do Enem no DF. Ele conquistou uma bolsa pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) e ingressou na Universidade Católica de Brasília. Com sua pontuação, poderia ter optado por cursos mais concorridos, mas seguiu sua paixão por relações internacionais.
Desafios financeiros e persistência nos estudos
A jornada de William na universidade não foi fácil. Além das dificuldades para bancar os estudos, ele precisou conciliar o curso com trabalhos paralelos. Em 2009, aos 19 anos, foi aprovado no concurso público para a Polícia Penal do DF, onde trabalhou por 14 anos.
Mesmo com um emprego estável, ele não desistiu do sonho de ser diplomata. Buscou oportunidades de intercâmbio, participou do Programa Brasília Sem Fronteiras e, em 2018, estagiou na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na Suíça.
Ao longo dos anos, enfrentou cinco reprovações no concurso do Instituto Rio Branco, incluindo quatro em fases finais. Mas, com perseverança, foi aprovado na edição de 2024 e tomou posse no último dia 23 de janeiro.
Uma conquista histórica e inspiração para jovens
William destaca que a diplomacia é tradicionalmente um ambiente elitista, mas tem passado por mudanças para ampliar a representatividade. Segundo ele, o concurso exige fluência em três idiomas estrangeiros, além de um português impecável, o que representa um grande desafio para candidatos de baixa renda.
“Minha vivência não se encaixava no perfil mais comum dos aprovados, e isso pode inspirar outros jovens em situação de vulnerabilidade a não desistirem dos seus sonhos”, afirma.
Agora, como diplomata, William quer levar sua experiência como exemplo de que é possível superar barreiras e alcançar grandes objetivos. “Minha conquista não me resume apenas de onde eu vim. A origem de uma pessoa não define o que ela é e o que pode conquistar”, conclui.