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Dilma: Ninguém quer assumir o lugar dos EUA, mas mercado se diversifica

NDB diversificação monetária

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, afirmou neste sábado que o cenário financeiro global está passando por uma diversificação, com um aumento notável nas transações comerciais realizadas em moedas locais. No entanto, durante o encerramento da décima Reunião Anual do NDB, no Rio de Janeiro, ela enfatizou que este movimento não representa uma tentativa de substituir a hegemonia do dólar americano, mas sim uma busca por alternativas no mercado internacional.

Diversificação Monetária em Vez de Desdolarização

Em sua análise, Dilma Rousseff esclareceu que não há um esforço coordenado para destituir o dólar como a principal moeda de reserva e comércio do mundo. “Hoje não tem ninguém querendo assumir o lugar dos Estados Unidos”, declarou a presidente do também conhecido como Banco do Brics. A ex-presidente do Brasil foi categórica ao afirmar que não percebe “nenhum sinal de desdolarização”, mas sim uma tendência crescente de países que optam por utilizar suas próprias moedas em negociações bilaterais e regionais.

Posteriormente, ela atribuiu essa mudança não a uma decisão política de instituições como o NDB, mas a uma movimentação orgânica do próprio mercado financeiro. “Quem decide isso não é nenhum investidor externo, é o mercado”, explicou, ressaltando que, apesar dessa diversificação, o sistema financeiro internacional permanece predominantemente dolarizado. Essa discussão ganha relevância em um contexto no qual figuras como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, já ameaçaram impor tarifas retaliatórias a países do Brics que abandonassem o dólar em suas transações.

NDB Anuncia Expansão e Apresenta Balanço de Atividades

Durante o evento, um anúncio importante foi a aprovação, pelo Conselho de Governadores do banco, da entrada de dois novos membros: Uzbequistão e Colômbia. Com essa adição, o NDB, fundado em 2015, passa a contar com 11 países-membros, que incluem os fundadores Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de Emirados Árabes Unidos, Bangladesh, Egito e Argélia.

Além disso, Dilma apresentou um balanço das operações do banco desde sua criação. Até o momento, a instituição já aprovou 122 projetos de investimento, que somam um montante aproximado de US$ 40 bilhões. O Brasil, em particular, foi beneficiado com a aprovação de 29 projetos, totalizando US$ 7 bilhões em financiamentos. Desse valor, cerca de US$ 4 bilhões já foram desembolsados, o que corresponde a 18% do total liberado pelo banco a todos os seus membros.

Foco Estratégico em Inovação e Energia Limpa

A presidente do NDB destacou que as prioridades de financiamento da instituição estão voltadas para áreas estratégicas que podem diminuir a lacuna de desenvolvimento entre os países-membros e as nações mais avançadas. “Para nós, hoje, é fundamental o financiamento de inovação, ciência e tecnologia”, afirmou. O objetivo, segundo ela, é capacitar os países em desenvolvimento para que se tornem produtores de tecnologias de ponta, como a inteligência artificial, em vez de serem meros consumidores de plataformas e soluções criadas na Europa ou nos Estados Unidos.

Nesse contexto, Dilma defendeu a necessidade de uma industrialização de qualidade, intrinsecamente ligada à adoção de ciência e tecnologia. Ela ressaltou que é preciso criar condições para que os países-membros sejam “sujeitos ativos” na economia global, e não apenas fornecedores de commodities. Adicionalmente, o financiamento de energias renováveis, como a eólica e a solar, foi apontado como outra área crucial. Relembrando uma antiga declaração sua sobre a necessidade de “estocar vento”, Dilma sublinhou que o armazenamento de energia é hoje uma das tecnologias mais importantes para garantir a estabilidade das redes elétricas e viabilizar a transição energética.

O Papel do BRICS no Cenário Global

As atividades do NDB estão inseridas no contexto mais amplo do BRICS, um bloco que atualmente reúne 11 países-membros permanentes e uma lista de nações parceiras. Sob a presidência do Brasil, a 17ª Cúpula do grupo ocorre no Rio de Janeiro, consolidando a importância do bloco no cenário internacional. Juntos, os países do BRICS representam 39% da economia mundial e abrigam 48,5% da população do planeta.

Portanto, a força econômica e demográfica do grupo confere um peso significativo às suas iniciativas. Em 2024, por exemplo, os países do BRICS foram o destino de 36% de todas as exportações brasileiras, enquanto o Brasil importou 34% de seus produtos desses mesmos parceiros. Esses números demonstram a relevância comercial e estratégica do bloco, reforçando o papel de instituições como o NDB no fomento a um desenvolvimento mais sustentável e equitativo entre as nações emergentes.

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