Edição Brasília

DF: Modelos acusam agência Brain de golpe e pedem R$ 53 mil na Justiça.

Modelos do DF acusam agência Brain de golpe por promessas de trabalho não cumpridas e pedem R$ 53 mil na Justiça.
Agência Brain golpe
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Modelos atuantes no Distrito Federal denunciam a agência Brain por alegadas práticas enganosas, reivindicando um montante de R$ 53 mil na Justiça. As acusações se concentram em promessas de trabalho não concretizadas e em prejuízos financeiros significativos, impactando a vida profissional e pessoal de diversas jovens que aspiravam a uma carreira no mundo da moda.

Acusações de Engano e Prejuízo Financeiro

Em junho, Ana*, uma trabalhadora autônoma de 28 anos, recebeu um convite através de uma rede social para se tornar modelo da agência Brain em Brasília. A proposta, que inicialmente representava uma esperança de nova oportunidade, rapidamente se transformou em uma experiência de perda financeira e frustração. Conforme a agência, Ana realizaria trabalhos como modelo, mas, primeiramente, deveria desembolsar aproximadamente R$ 2 mil. Esse valor seria destinado a um agenciador encarregado de divulgar suas fotos a potenciais clientes. Acreditando nas promessas da agência, ela utilizou até mesmo seu cheque especial, impulsionada pelo desespero e por suas dívidas.

O único trabalho que Ana conseguiu, supostamente para uma ótica, renderia R$ 700. Contudo, essa quantia foi apenas um desconto no valor que ela pagaria ao agenciador. Após essa única experiência, ela não obteve mais nenhuma oferta de trabalho. “Senti-me muito enganada”, afirmou a modelo, expressando sua decepção profunda com a situação. Aliás, esta narrativa de engano e oportunidades inexistentes ecoou com outras jovens nos meses seguintes, revelando um padrão preocupante de conduta por parte da agência.

A Unidade das Vítimas e a Busca por Justiça

À medida que essas clientes compartilhavam suas experiências, elas descobriram que haviam passado por situações idênticas: prejuízos financeiros e ausência de trabalhos como modelo. Consequentemente, formaram um grupo em um aplicativo de mensagens, intitulado “Enganados pela Brain”, onde puderam trocar relatos e constatar a similaridade de suas vivências. Embora algumas pessoas tenham optado por absorver o prejuízo, um grupo de pelo menos 10 clientes decidiu levar o caso adiante, ingressando com uma ação em um processo cível.

A agência Brain possui um prazo até a próxima semana para apresentar sua defesa formalmente. Amanda Cristina Barbosa, advogada que representa o grupo, explicou que o processo visa a rescisão contratual e a devolução integral dos valores pagos pelas modelos. O montante total reivindicado neste processo atinge a marca de R$ 53 mil. Até o momento, não houve qualquer iniciativa para uma conciliação entre as partes envolvidas. Além dos valores financeiros, este episódio provocou uma profunda frustração nas expectativas dessas pessoas. “Recebi uma mensagem pelo Instagram prometendo trabalhos remunerados devido ao meu perfil”, contou Ana, destacando como as promessas iniciais geraram grandes expectativas.

Relatos de Outras Modelos e Promessas Não Cumpridas

Ana, que estava desempregada e enfrentando problemas financeiros consideráveis, viu na proposta da agência uma possível saída para sua exaustão. Na Brain, pediram-lhe que decorasse um texto, sugerindo que a melhor performance seria escolhida para uma campanha publicitária. Embora ela tenha desconfiado quando soube que o cachê das fotos abateria parte de sua dívida com o agenciador, optou por parcelar os R$ 1,3 mil restantes no cartão de crédito. Semelhantemente, semanas e meses se passaram sem a aparição de qualquer outra oportunidade de trabalho. “Eles apenas receberam meu dinheiro e esqueceram que eu existo”, desabafou.

Outro caso similar é o de Iara*, de 25 anos, que foi abordada por uma produtora da Brain via rede social em julho. A produtora elogiou o perfil de Iara, garantindo-lhe que “ganharia dinheiro” e que teria de dois a três trabalhos por mês, caso fechasse contrato. Iara também pagou R$ 1,3 mil em dez prestações. “Eu me inscrevi em todos os castings e eles nunca me chamaram”, lamentou. Posteriormente, a empresa teria sugerido que ela pagasse mais R$ 5 mil para “comprar seguidores” no Instagram, a fim de aumentar suas chances de contratação, uma sugestão que ela recusou.

Já no caso de Teresa*, de 25 anos, a agência Brain ofereceu trabalhos para ela e seu filho de 8 anos, prometendo pelo menos três oportunidades mensais para ambos. Teresa assinou um contrato de R$ 5 mil. Mãe e filho realizaram apenas um trabalho para a ótica, e depois disso, nenhum outro serviço foi oferecido.

O Testemunho da Ex-Funcionária e os Alertas

Em uma conversa com a Agência Brasil, uma ex-funcionária da Brain revelou detalhes sobre as práticas internas da agência. Ela, que foi contratada para captar potenciais modelos, afirmou que era de conhecimento comum entre os funcionários que os contratos assinados dificilmente resultariam em trabalhos efetivos para as clientes. Segundo ela, a meta consistia em abordar e captar, no mínimo, cem “modelos” por dia, utilizando redes sociais ou visitas a shopping centers. “Recebíamos a orientação para elogiar muito a pessoa”, explicou a ex-funcionária, que concordou em falar para alertar outras potenciais vítimas do suposto golpe. “Isso é uma furada”, pontuou, indicando a natureza enganosa das propostas.

Embora as mulheres tenham entrado apenas com um processo cível, o advogado criminalista Jaime Fusco considera que as condutas descritas podem configurar o crime de estelionato, uma vez que prometem oportunidades de emprego inexistentes. Para o jurista, esta prática deveria ser denunciada tanto à Delegacia de Polícia especializada em crimes de fraude quanto ao Ministério do Trabalho, que teria o poder de intervir e encerrar tais atividades.

A Defesa da Agência Brain e Contrapontos

A agência Brain, por meio de seu advogado Marcos Albrecht, nega veementemente as acusações de promessas de emprego. Albrecht afirma que os indivíduos abordados assinam um contrato que explicitamente não garante a obtenção de trabalhos. “Se houve algum tipo de promessa, está fora do padrão da empresa. Não é para ocorrer”, declarou ele, sugerindo que qualquer promessa seria uma ação isolada e não condizente com as diretrizes da Brain. Além da defesa jurídica, a empresa emitiu uma nota oficial, na qual refuta “veementemente qualquer alegação de engano ou promessa inexistente”. Adicionalmente, a Brain alega que não foi intimada ou oficialmente convocada para responder a nenhum processo movido por clientes ou agenciados.

A empresa também contesta a existência de uma meta de abordagem diária de cem futuros modelos, classificando tal hipótese como “humanamente impossível dentro dessa rotina”. No que diz respeito à acusação de que a Brain orientava clientes a “comprar seguidores” em redes sociais, a agência esclarece que houve, na verdade, uma publicação interna em sua comunidade, incentivando estratégias legítimas de crescimento digital. “Jamais houve orientação para compra de seguidores, prática que a Brain repudia”, enfatizou a nota.

Queixas e a Parceria Comercial

A agência ainda acrescentou que, desde o início de suas operações entre 2017 e 2018, nunca recebeu reclamações diretas com o teor das atuais acusações. “As queixas diretas com esse teor nunca chegaram à agência”, ponderou a empresa, apesar de todas as pessoas entrevistadas pela reportagem afirmarem ter reclamado da falta de retorno. Entretanto, a Brain assegura que sempre busca a conciliação. “Porém, não sabemos quem são as pessoas citadas, o que torna difícil compreender o contexto das supostas insatisfações”, alegou.

A Oculum, loja de óculos que supostamente ofereceria o primeiro trabalho aos modelos aspirantes, possui um contrato firmado com a Brain, renovado quatro vezes consecutivas. A agência destaca que é responsável por toda a criação de material de marketing da marca em Brasília, bem como pelas ações que conectam influenciadores e celebridades. Além disso, a Brain recebe um valor mensal fixo pela prestação de serviços à ótica. “Os agenciados aprovados recebem créditos em óculos ou podem abater o valor equivalente no investimento de agenciamento”, esclarece a agência, reafirmando que cumpre integralmente suas obrigações contratuais e comerciais. “Reafirmamos que a Brain é uma agência sólida, idônea e comprometida, que há anos movimenta o mercado com trabalhos reais, parcerias verificáveis e entregas comprovadas”, conclui a empresa, defendendo sua reputação no mercado.