A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) promoveu um encontro crucial nesta quinta-feira (18) com representantes dos principais veículos de comunicação da capital. O objetivo central foi estabelecer diretrizes claras para a cobertura jornalística sobre violência doméstica e familiar, garantindo uma abordagem responsável e eficaz no enfrentamento ao problema.
O diálogo reuniu instituições vitais do Sistema de Justiça e de Proteção – incluindo o Ministério Público, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) e a Defensoria Pública. O foco da reunião foi apresentar material técnico produzido em parceria e alinhar a comunicação responsável, a prevenção e a cooperação institucional. A iniciativa visa qualificar a cobertura jornalística sobre violência de gênero, munindo os profissionais de fundamentos técnicos, estatísticos e jurídicos, além de debater o perigoso “efeito copycat” (contágio/imitação) e como a forma de noticiar influencia a busca por ajuda.
O secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, defendeu a transparência e a construção conjunta de um modelo baseado em evidências. “O compromisso que nós temos aqui é a transparência. A gente quer construir um pacto experimental para fazer do Distrito Federal um modelo que pode dar certo e servir de exemplo para o restante do país”, destacou Avelar, ao defender a união dos grandes veículos em uma agenda permanente de aprimoramento da Comunicação Violência Doméstica DF.
Combate ao Machismo e Prevenção Imediata
Alexandre Patury, secretário executivo de Segurança Pública da SSP-DF, reforçou que o enfrentamento deve ocorrer nos primeiros sinais de agressão. Ele alertou que a mensagem pública precisa ser clara quanto à intolerância institucional à violência. “Não é ‘combate ao feminicídio’ como se ele fosse o começo. Feminicídio é consequência. A gente tem que combater o machismo e a violência doméstica. É lá no empurrão, no soco, naquela ‘pequena violência’, que a pessoa tem que ser alcançada pelo braço firme do Estado — e com a ajuda dos meios de comunicação dizer: nós não toleramos, nós não aceitamos”, afirmou.
Paulo André Vieira, secretário-executivo Institucional e de Políticas Públicas de Segurança, enfatizou que o encontro marca um ponto de virada ao reunir, na mesma mesa, os poderes e instituições que compõem a resposta do Estado, além da imprensa. Ele reconheceu a mídia como uma força cultural capaz de salvar vidas. “Nós temos aqui o Executivo, o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria e o quarto poder, que por muitas vezes é o primeiro poder: a imprensa. É ela que muda cultura, que faz as coisas acontecerem. O que a gente ganha com isso é uma mudança estrutural: vida e legado”, enfatizou.
Diretrizes Técnicas e o Risco do Efeito Copycat
A Câmara Técnica de Monitoramento de Homicídios e Feminicídios (CTMHF) apresentou achados e alertas sobre os riscos associados a picos de exposição e como o tema exige responsabilidade adicional na cobertura. Marcelo Zago, coordenador da Câmara, detalhou a importância de fortalecer a confiança nas medidas protetivas e nos serviços já existentes no DF, buscando reduzir a subnotificação da violência doméstica.
Representantes do Sistema de Justiça foram enfáticos: o objetivo não é pautar a imprensa, mas construir diretrizes baseadas em evidências para evitar a romantização, a culpabilização da vítima, o detalhamento cruel, a linguagem que normalize a violência e conteúdos que reforcem estereótipos. A defensora pública Rafaela Mitre explicou que a ideia é transmitir a rede de proteção e não reforçar julgamentos ao comunicar feminicídios.
A juíza Fabriziane Zapata, Coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher (NJM) do TJDFT, ressaltou a importância da parceria, afirmando que “a mídia chega onde o Estado não consegue chegar, e esse diálogo é fundamental para qualificar o debate público e fortalecer as políticas de enfrentamento à violência contra a mulher.” Na mesma linha, a promotora de justiça Gabriela Gonzales (MPDFT) reforçou o papel social do jornalismo na desconstrução de um imaginário historicamente permissivo à violência contra a mulher.
A Visão da Imprensa e a Urgência da Informação
Um dos pontos centrais do encontro foi o debate sobre o efeito copycat — o aumento de atos semelhantes após a exposição a um modelo amplamente divulgado pela mídia, especialmente quando há cobertura intensa e sensacionalista. Estudos apontam que esse risco cresce quando há alta disponibilidade de modelo (exposição massiva, detalhamento de método, romantização) e ausência de mecanismos inibitórios.
A colunista Isadora Teixeira, do Portal Metrópoles, defendeu a construção de padrões objetivos para que, já nas primeiras notas factuais, a notícia venha acompanhada de orientação, rede de proteção e canais de ajuda. “A gente precisa aprofundar como lidar com termos, imagens e urgência — e pensar um padrão pronto, inclusive para rede social, com informações que ajudem a população”, pontuou.
O editor e apresentador da Record, Henrique Chaves, reforçou que, embora exista pressão por audiência, a comunicação violência doméstica DF pode e deve ser uma força a favor da vida. “Essa parceria me parece fundamental para melhorar a nossa comunicação e atingir o sonho de não ter feminicídio na capital do Brasil. Eu tenho uma luta diária por notícias boas — e hoje saio daqui com novas palavras e ferramentas para comunicar melhor e salvar vidas”, declarou.



