O desmatamento no Cerrado caiu 33% em 2024, em comparação com o ano anterior, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), divulgados nesta quinta-feira (6) pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Apesar da redução, o bioma perdeu 712 mil hectares de vegetação nativa, uma área maior que o Distrito Federal.
Redução do desmatamento e desafios persistentes
A queda no desmatamento pode ser reflexo das políticas de controle ambiental adotadas em 2024. No entanto, especialistas alertam que o índice ainda é elevado. Para efeito de comparação, a Amazônia perdeu 380 mil hectares no mesmo período, menos da metade do registrado no Cerrado.
De acordo com a pesquisadora Fernanda Ribeiro, do Ipam, a legislação favorece a expansão do desmatamento no Cerrado. Cerca de 62% da vegetação nativa está em propriedades privadas, onde o Código Florestal permite a supressão de até 80% da área. Já na Amazônia Legal, o limite de desmatamento é de 20%.
O estudo também mostrou que a perda de vegetação pode intensificar problemas ambientais, como secas prolongadas e eventos climáticos extremos, impactando diretamente a biodiversidade e a agricultura.
Matopiba lidera desmatamento
A região do Matopiba — que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — foi a mais afetada pelo desmatamento em 2024. 82% da vegetação perdida estava nessa área, totalizando 586 mil hectares desmatados.
O Maranhão lidera o ranking com 225 mil hectares desmatados, seguido pelo Tocantins, com 171 mil hectares. No Piauí, a perda foi de 114 mil hectares, enquanto a Bahia registrou 72 mil hectares desmatados. Apesar da redução em relação ao ano anterior, os números continuam alarmantes.
Os 10 municípios com maior desmatamento estão todos no Matopiba, destacando-se Balsas (MA), Alto Parnaíba (MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO), que juntos perderam 61 mil hectares.
Áreas protegidas também sofrem com desmatamento
Embora a maioria do desmatamento ocorra em terras privadas, 10% da destruição foi registrada em áreas sem posse definida, dificultando a fiscalização. Além disso, 5,6% das perdas ocorreram dentro de unidades de conservação.
Entre as áreas protegidas mais afetadas estão a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que perdeu 12 mil hectares, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, com 6,7 mil hectares desmatados.
A falta de controle nessas áreas preocupa ambientalistas, pois compromete a biodiversidade e a preservação dos recursos hídricos.
Monitoramento e medidas futuras
O SAD Cerrado monitora o desmatamento mensalmente, utilizando imagens de satélite da Agência Espacial Europeia. O sistema identifica áreas desmatadas com base em dois registros em datas diferentes, garantindo maior precisão nos alertas.
Para frear o avanço do desmatamento, especialistas defendem maior engajamento do setor privado e políticas ambientais mais rígidas, semelhantes às aplicadas na Amazônia. Além disso, é necessário fortalecer ações de ordenamento territorial e incentivar práticas agrícolas sustentáveis.
Embora os números de 2024 mostrem uma tendência de queda, a preservação do Cerrado ainda exige esforços contínuos para garantir um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental.