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Desmatamento da Mata Atlântica avança por atividades ilegais, aponta estudo

Desmatamento

Fernando Frazão/Agência Brasil

A Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do Brasil, perdeu o equivalente a 200 mil campos de futebol de floresta madura entre 2010 e 2020. Essa devastação ocorreu, principalmente, por conta de atividades econômicas ilegais, como pecuária, silvicultura para carvão e cultivo de soja, segundo um estudo publicado na revista Nature Sustainability nesta sexta-feira (14).

A pesquisa foi realizada por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Universidade de São Paulo (USP) e da organização SOS Mata Atlântica. Os pesquisadores analisaram imagens de satélite para mapear o desmatamento e identificar os padrões da degradação ambiental ao longo da última década.

Bahia, Minas Gerais e Sul do país são os pontos mais críticos

Os resultados apontam que a Bahia foi o estado que mais perdeu áreas de Mata Atlântica, especialmente na divisa com Minas Gerais. A silvicultura para produção de carvão vegetal, usado em termoelétricas, foi uma das principais causas da devastação na região.

No Sul do país, Paraná e Santa Catarina também registraram altos índices de desmatamento. Pequenas áreas dentro de grandes propriedades privadas foram as mais afetadas, evidenciando práticas irregulares e sem fiscalização.

Impactos ambientais e sociais

O estudo alerta para os impactos ambientais do desmatamento, como aumento do aquecimento global, perda de biodiversidade e desequilíbrio no ciclo da água. A destruição da Mata Atlântica afeta diretamente a qualidade e a quantidade da água disponível para as cidades, o que pode causar problemas como racionamento e aumento no custo do abastecimento.

A degradação ambiental também agrava a crise climática, intensificando enchentes, secas e aumento da temperatura. Segundo os pesquisadores, a população mais pobre é a mais vulnerável, pois sofre com a alta no preço dos alimentos e o impacto direto das mudanças climáticas.

Fiscalização insuficiente e necessidade de novas políticas públicas

O estudo destaca que, mesmo com a Lei da Mata Atlântica, em vigor desde 2006, a fiscalização tem sido falha. Desmatamentos ocorreram dentro de terras indígenas, quilombolas e até áreas protegidas, evidenciando a falta de suporte às comunidades tradicionais.

A pesquisadora Silvana Amaral, do Inpe, ressalta a necessidade de um fortalecimento das políticas ambientais e do apoio a essas comunidades.

“É essencial aumentar a governança ambiental e dar mais suporte às populações que protegem essas áreas. Somente assim poderemos conter esse avanço desenfreado do desmatamento”, afirma.

Os autores do estudo defendem maior fiscalização, ampliação de áreas protegidas e incentivos para que a conservação da Mata Atlântica seja economicamente viável.

Educação e atuação política são fundamentais

Além da fiscalização, o estudo aponta que falta conscientização sobre a importância da preservação da Mata Atlântica. O pesquisador Luís Fernando Guedes Pinto, da SOS Mata Atlântica, destaca que os impactos ambientais atingem tanto grandes quanto pequenas propriedades, exigindo programas educacionais eficazes.

Outro problema citado é a atuação política que enfraquece as leis ambientais. Em muitos casos, deputados e vereadores propõem flexibilizações das regras de proteção, o que gera sensação de impunidade e incentiva novas destruições.

“Precisamos fortalecer os órgãos de fiscalização e criar incentivos econômicos para a conservação. A proteção ambiental deve ser uma política de Estado, independente do governo”, defende Guedes Pinto.

Perspectivas para o futuro

O estudo reforça que as políticas de redução do desmatamento e recuperação das áreas degradadas devem ser ampliadas. No atual governo, houve uma redução nas taxas de desmatamento, mas os pesquisadores alertam que o desafio ainda é grande.

A Mata Atlântica cobre atualmente apenas 12% de sua vegetação original. Para garantir a sobrevivência do bioma e da população que depende dele, é necessário um compromisso contínuo entre governos, empresas e sociedade civil.

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