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Cuiabá: Festival de Cinema Decolonializa Amazônia e Homenageia Cineasta da Selva

Cuiabá sedia festival que homenageia cineasta pioneiro e promove filmes com temática amazônica e protagonismo de grupos minorizados. Dira Paes recebe prêmio por sua trajetória.
**Festival Cinema Amazônia Cuiabá**
Foto: Cinemato/Divulgação

Cuiabá se prepara para sediar a 22ª edição do Festival de Cinema e Vídeo (Cinemato), um evento que desde 1993 celebra a produção audiovisual e que, neste ano, ocorrerá entre os dias 14 e 20 de julho. O festival não só exibe filmes, mas também homenageia figuras importantes do cinema e promove discussões relevantes sobre a representatividade e a diversidade na indústria.

Festival de Cinema de Cuiabá Decolonializa a Amazônia e Homenageia Cineasta Pioneiro

Com a temática “Decolonizando a Amazônia”, o Cinemato 2024 presta tributo a Silvino Santos, o “cineasta da selva”, cujo trabalho pioneiro no século XX documentou a Amazônia de maneira inédita. A abertura do festival será marcada pela exibição de seu filme “Amazonas, o maior rio do mundo”, produzido na década de 1920.

Mostra Competitiva Exibe Filmes Nacionais com Protagonismo Amazônico

A mostra competitiva deste ano conta com 21 filmes, sendo seis longas e 15 curtas-metragens nacionais, que disputarão o Troféu Coxiponé. A premiação, inspirada na etnia Bororo, um símbolo de resistência cultural em Mato Grosso, valoriza obras com diversidade estética e narrativa, protagonismo de grupos historicamente marginalizados e conexões com a temática amazônica decolonial.

Entre os longas selecionados, destacam-se:

  • “Mawé”, de Jimmy Christian, que aborda o conflito de uma jovem indígena entre as tradições de sua aldeia e a vida urbana.
  • “Pedra Vermelha”, de Cassemiro Vitorino e Ilka Goldschmidt, um documentário que acompanha comunidades afetadas por grandes projetos no sul do país.
  • “Kopenawa: Sonhar a Terra-Floresta”, de Marco Altberg e Tainá de Luccas, que explora a cosmologia Yanomami.
  • “O Silêncio das Ostras”, de Marcos Pimentel, um ensaio sobre luto e meio ambiente.
  • “Concerto de Quintal”, de Juraci Júnior, que transforma a música em ferramenta de resistência.
  • “Serra das Almas”, de Lírio Ferreira, que revisita a poesia do sertão em uma obra de ficção.

Desconstruindo o Olhar Eurocêntrico Sobre o Brasil

De acordo com Luis Borges, diretor do Cinemato, o tema deste ano busca promover uma desconstrução do olhar eurocêntrico sobre o Brasil e seus habitantes. Além disso, o festival exibirá mais de 60 filmes de 19 estados brasileiros, abordando questões climáticas, como o filme “O Silêncio das Ostras”, que trata do rompimento da barragem em Brumadinho.

Borges também enfatiza a importância dos festivais de cinema como vitrines para filmes que não recebem distribuição comercial, além de destacar o papel do Cinemato na capacitação de profissionais para a área audiovisual em Mato Grosso.

Festival Capacita Profissionais do Audiovisual em Mato Grosso

Segundo Luis Borges, as oficinas oferecidas pelo festival têm contribuído para a formação de mão de obra local, incentivando a produção de novos projetos cinematográficos. Ele relembra que, na época do surgimento do festival, Cuiabá possuía apenas uma sala de cinema.

O Cinemato desempenha um papel crucial como plataforma para o cinema nacional, oferecendo ao público mato-grossense a oportunidade de apreciar produções brasileiras, especialmente em um contexto onde a fiscalização das cotas de tela ainda é um desafio.

Dira Paes é Homenageada e Entrega Prêmio no Festival

A cerimônia de encerramento do festival, agendada para 20 de julho, contará com a presença de Dira Paes, que retorna ao Cinemato, onde recebeu seu primeiro prêmio de Melhor Atriz em 1996. Dira Paes entregará o prêmio que leva seu nome, em homenagem a mulheres que se destacam no audiovisual e em causas socioambientais.

Dira Paes expressou sua honra em participar de um festival que acompanhou desde sua primeira edição, destacando seu DNA próprio e sua conexão com a região, seus conteúdos e reflexões sobre a potência do bioma onde acontece. A atriz também mencionou o orgulho de entregar um prêmio com seu nome.

Após sua estreia como diretora em “Pasárgada”, Dira Paes acredita que o cinema brasileiro vive um momento especial, impulsionado pelo Oscar de Melhor Filme Internacional para “Ainda Estou Aqui”. Ela ressalta a importância de abordar temas como a questão ambiental e climática, bem como a democracia, em produções cinematográficas.

Atualmente em cartaz como atriz em “Manas”, Dira Paes comenta sobre a universalidade do tema abordado no filme, que se passa na Amazônia e trata da exploração sexual e da violência de gênero. Ela convida o público a assistir ao filme, destacando a potência cinematográfica, a equipe talentosa e a direção singular de Marianna Brennand.