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Cufa lança instituto de pesquisa focado em favelas com estudo inédito

Cufa e Favela Holding lançaram nesta quarta (13), no Rio, o Instituto Central para reunir pesquisadores e produzir dados inéditos sobre as favelas brasileiras.
Cufa pesquisa favelas
Foto: Lucas Costa/Divulgação

A Central Única das Favelas (Cufa), em parceria com a Favela Holding, inaugurou nesta quarta-feira (13) no Rio de Janeiro o Instituto Central, uma nova entidade dedicada a reunir pesquisadores de todo o Brasil. O objetivo primordial da iniciativa é gerar dados e análises inéditas sobre as populações que residem nas favelas brasileiras, transformando a percepção e a compreensão desses territórios.

Contexto e Propósito do Novo Instituto

O lançamento oficial do Instituto Central ocorreu na sede da Cufa, localizada no Complexo da Penha, na zona norte carioca. O evento contou com a presença de importantes figuras como Preto Zezé, Cléo Santana e Marcus Vinícius Athaíde, que lideram a nova instituição. Ademais, esteve presente um dos fundadores da Cufa e do Instituto DataFavela, Celso Athaide, reforçando o alinhamento com iniciativas anteriores de pesquisa.

De acordo com Cléo Santana, diretora do projeto, o Instituto Central surge da premente necessidade de alterar a forma como as favelas são estudadas. Em suas palavras, o propósito é que os moradores não sejam meros objetos de pesquisa, mas sim sujeitos ativos na produção científica, colaboradores no desenvolvimento do conhecimento e cocriadores de soluções para seus próprios desafios. Dessa forma, a proposta é converter o território em informações úteis e, por conseguinte, essas informações em transformações concretas.

A Metodologia da Pesquisa Pioneira

O Instituto Central visa, essencialmente, a estabelecer uma rede de inteligência e diagnóstico social, conectando pesquisadores cooperados em diversas regiões do país. A pesquisa de estreia representa um estudo sem precedentes, focado em mais de dez mil indivíduos em conflito com a lei, especificamente operadores do tráfico de drogas. Este levantamento abrangerá, no mínimo, 24 estados brasileiros, e será conduzido ao longo de 22 dias.

Entretanto, é fundamental destacar que o estudo não abordará questões relacionadas à criminalidade ou violência. Pelo contrário, a intenção é explorar aspectos da vida cotidiana dessas pessoas, como família, formação educacional, hábitos, consumo, sonhos e perspectivas de futuro. A meta estatística ambiciosa é obter uma amostra de 400 indivíduos por estado, garantindo, assim, resultados estatisticamente relevantes para cada unidade federativa.

Vozes e Perspectivas do Projeto

Para integrar e coordenar tecnicamente este projeto ambicioso, Celso Athaíde convidou Geraldo Tadeu, um renomado pesquisador e referência nacional em estudos sociais. Tadeu recordou um trabalho anterior, “A Voz do Morro”, realizado em 2007 e publicado em 2008 pelo Jornal O Globo, que foi a primeira pesquisa a ouvir exclusivamente moradores de favelas, alcançando 101 comunidades do Rio de Janeiro por telefone. Essa experiência prévia sublinha o caráter inovador e desafiador da atual empreitada.

Geraldo Tadeu expressou sua convicção de que a nova pesquisa será amplamente discutida, devido ao seu ineditismo e à coragem inerente à sua concepção. Ele previu que o relatório final poderá revelar dados surpreendentes, como a potencial “perda de dois mil médicos para o crime”, a partir de perguntas como “Se você pudesse, o que você estudaria?”. Por outro lado, Marcus Vinícius Athaíde, economista e gestor do Instituto Central, enfatizou a crescente necessidade de uma abordagem de mercado ao analisar as favelas. Ele explicou que o Instituto Central faz parte da Favela Holding, um grupo de empresas que atuam em diversos segmentos nas comunidades, desde logística e comunicação até marketing e influenciadores digitais, e agora também na área de estudos sociais.

Abordagem Humanizada e Desafios da Realidade

Durante a apresentação, os gestores do Instituto Central reiteraram que a proposta do estudo é compreender profundamente a realidade daqueles que se inserem no universo do crime. O foco reside na promoção de uma escuta humanizada, explorando aspectos como família, consumo, lazer, religião, escolhas, sonhos e o cotidiano, sem qualquer apologia ao crime ou julgamentos pré-concebidos.

Celso Athaíde, por sua vez, ressaltou a importância de que a pesquisa se inicie sem preconceitos e com uma genuína abertura para ouvir os relatos dos moradores dos territórios. Ele descreveu a tristeza em escutar certas narrativas de crianças, as quais, infelizmente, vivenciam uma realidade diária marcada por tiroteios, operações policiais, confrontos entre facções e a constante presença de armas em seu ambiente. Em suma, o Instituto Central representa um passo significativo para aprofundar o conhecimento sobre as favelas, por meio de uma perspectiva mais humana e abrangente.

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