O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (19/3), aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, elevando-a para 14,25% ao ano. A decisão, unânime entre os membros do colegiado, foi influenciada pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia, além das incertezas no cenário econômico global.
Com esse reajuste, a taxa básica de juros atinge o maior nível desde outubro de 2016, quando também estava fixada em 14,25% ao ano. O movimento faz parte de um ciclo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado, visando conter a inflação.
Motivos para o aumento da Selic
O Banco Central justificou a decisão citando o impacto da política fiscal e a postura do Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos. Segundo o comunicado do Copom, as incertezas externas e a percepção dos investidores sobre o equilíbrio fiscal brasileiro foram determinantes para o aumento da taxa de juros.
A inflação de serviços, que permanece elevada, foi outro fator que pesou na decisão. O Copom afirmou que continuará monitorando o cenário econômico e destacou que novos aumentos podem ocorrer, mas em menor intensidade.
Impacto da Selic na inflação e no crescimento econômico
A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Quando os juros sobem, o crédito fica mais caro, o consumo diminui e os preços tendem a se estabilizar.
Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — indicador oficial da inflação — registrou alta de 1,48%. O resultado foi impulsionado pelo aumento das tarifas de energia elétrica e dos alimentos. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA chegou a 4,87%, superando o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O novo modelo de meta contínua, adotado pelo Banco Central, prevê que a inflação seja monitorada mês a mês, considerando o acumulado de 12 meses. A meta oficial para 2025 é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que significa que o índice não deveria ultrapassar 4,5%.
No último Relatório de Inflação, divulgado em dezembro, o Banco Central projetava que o IPCA fecharia o ano em 4,5%. No entanto, a estimativa pode ser revisada dependendo do comportamento do dólar e da inflação global.
Reflexos no crédito e na economia
O aumento da Selic tem impacto direto nos juros cobrados em financiamentos, empréstimos e cartões de crédito. O crédito mais caro desestimula o consumo e a produção, o que pode desacelerar o crescimento econômico.
Mesmo com essa elevação, o Banco Central revisou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, estimando um avanço de 2,1%. O mercado financeiro, no entanto, tem projeções mais conservadoras e prevê um crescimento de 1,99%, segundo o Boletim Focus.
A taxa Selic também influencia a rentabilidade de investimentos como CDBs, Tesouro Direto e fundos de renda fixa, tornando-os mais atrativos para investidores que buscam segurança e rentabilidade acima da inflação.
Perspectivas para os próximos meses
O Copom sinalizou que poderá realizar novos ajustes na Selic nas próximas reuniões, mas em menor intensidade. A decisão dependerá da evolução da inflação e do cenário fiscal brasileiro.
Especialistas recomendam cautela para consumidores e empresas na tomada de crédito nos próximos meses. Com os juros elevados, financiamentos e parcelamentos podem se tornar ainda mais caros, exigindo um planejamento financeiro mais rigoroso.
O próximo encontro do Copom está previsto para maio, quando o Banco Central reavaliará os impactos da política monetária na inflação e no crescimento econômico.