Brasília sediou a 4ª Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, um evento crucial que reuniu ministras, parlamentares e ativistas de todo o país. Durante os debates, os participantes reforçaram a necessidade premente de combinar políticas públicas eficazes com a participação social ativa, visando combater a violência e a discriminação enfrentadas pela comunidade. Em suma, o encontro, que se estende até esta sexta-feira (25), busca pavimentar o caminho para uma transformação significativa.
Construindo a Política Nacional dos Direitos LGBTQIA+
Com o lema “Construindo a Política Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+”, a conferência emerge como um espaço fundamental para a escuta ativa e o debate aprofundado sobre os desafios e as perspectivas para o futuro da comunidade. Mais de 1,5 mil pessoas, vindas de diversas regiões do Brasil, convergiram para a capital federal, participando intensamente das discussões. Em consequência, espera-se que uma política nacional abrangente, desenhada especificamente para a comunidade LGBTQIA+, seja apresentada ao término do evento, consolidando os aprendizados e propostas ali gerados.
Vozes da Comunidade: Desafios e Reivindicações
A Realidade Racial e a Exclusão Social
Entre as vozes que ecoaram na conferência, destacou-se a ativista baiana Jovanna Cardoso, conhecida como Jovanna Baby. Aos 62 anos, ela sublinhou uma estatística alarmante: 73% das pessoas trans no Brasil são negras. Por conseguinte, Jovanna defendeu vigorosamente a necessidade de garantir que a comunidade trans tenha acesso equitativo a programas e benefícios sociais, da mesma forma que hoje chegam às pessoas cisgênero. A ativista, aliás, expressou sua preocupação com o fato de programas essenciais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida atenderem predominantemente famílias heterossexuais. É importante notar que Jovanna Baby é uma das pioneiras na luta pela dignidade de travestis e transexuais no país.
O Papel Vital do Ativismo
Outra manifestação de relevância veio da secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat. Ela enfatizou que o ativismo no Brasil desempenha um papel indispensável para promover avanços significativos na busca pela ampliação dos direitos e no combate eficaz à violência. Segundo Larrat, a mobilização social é um motor para a mudança e aprimoramento das condições de vida da comunidade.
Enfrentando a Precariedade e a Violência no Mercado de Trabalho
Além da violência física e estrutural, a situação precária no mercado de trabalho para a população trans foi um tópico central. O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, aproveitou a ocasião para anunciar a criação de um grupo de trabalho. Este grupo terá como foco exclusivo tratar os casos de violações e discriminação enfrentadas por esse público no ambiente profissional. O ministro Vieira de Mello Filho alertou que “as taxas de desemprego de pessoas trans são desproporcionalmente altas e as atividades de sobrevivência são em condições precárias”. Portanto, ele reforçou a urgência de pesquisas contínuas, citando que “o que não se mede não se transforma”, o que demonstra a importância da coleta de dados para ações efetivas.
O Apoio Governamental: Ministras Presentes e Suas Pautas
Quatro ministras marcaram presença na conferência, reforçando o compromisso governamental com a causa LGBTQIA+. Marcia Lopes, ministra das Mulheres, defendeu a ampliação das políticas de cotas para a comunidade LGBT, visando maior inclusão em diversos setores. Similarmente, Sônia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, alertou para as violências frequentes contra indígenas em comunidades de todo o país, salientando que “não há avanço nas políticas públicas sem respeito à diversidade”. Dessa forma, ela ressaltou a necessidade de construir uma robusta rede de apoio para o país diverso que é o Brasil.
Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, considerou o evento um marco de retorno para as discussões de temas ligados à comunidade LGBT. Ademais, ela criticou os retrocessos nas políticas públicas do governo anterior, as quais, em sua avaliação, desmobilizaram ações essenciais voltadas para o grupo. Por fim, a ministra da Cidadania e dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, recebeu relatórios de grupos de trabalho que detalham as violências sofridas em diferentes contextos. Ela, por sua vez, defendeu a implementação de uma política nacional inclusiva para pessoas LGBT, que considere todas as especificidades e necessidades.
A Voz do Legislativo em Defesa da Comunidade
Entre as parlamentares presentes, a deputada Erika Hilton salientou a união e a resiliência da comunidade, apesar das constantes violações. “Apesar de toda a violência de que somos vítimas, estamos aqui de pé”, declarou Hilton, acrescentando que “há muito ódio contra nós porque há pessoas que têm medo de nossa liberdade”. Desse modo, ela expressou a esperança de que, no futuro próximo, a comunidade não seja reconhecida apenas por histórias de mazelas, mas também por narrativas de empoderamento e superação. Da mesma forma, a deputada federal Duda Salabert compartilhou uma luta pessoal profunda: que sua filha não sinta vergonha de ter uma mãe travesti. “O que estamos fazendo aqui é cuidar das próximas famílias e evitar que gerações sejam marcadas por vergonha”, afirmou, sublinhando a importância de construir um futuro mais acolhedor e digno para todos.



