O Supremo Tribunal Federal (STF) deu prosseguimento, na quarta-feira (21), às audiências de testemunhas no âmbito da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, que visava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Essas oitivas foram requeridas tanto pela Procuradoria-Geral da República (PGR), quanto pelas defesas dos réus envolvidos no chamado “núcleo 1” do caso, grupo este que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados.
Depoimento do Comandante da Aeronáutica
O foco do dia foi o depoimento do tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, que comandou a Aeronáutica durante o governo Bolsonaro. A audiência, iniciada às 11h30, foi presidida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos relacionados à trama golpista. Baptista Júnior foi convocado para depor em razão de sua participação em uma reunião crucial entre o ex-presidente e os comandantes das Forças Armadas. Nesta reunião, foi apresentado um estudo contendo teses jurídicas que buscavam justificar a imposição de um estado de sítio e outras medidas de natureza golpista.
Em seu depoimento à Polícia Federal, durante as investigações iniciais, o tenente-brigadeiro relatou ter alertado Bolsonaro sobre a impossibilidade da Força Aérea Brasileira (FAB) se envolver em qualquer ação golpista. Além disso, ele declarou que o então comandante do Exército, General Freire Gomes, também presente na reunião, teria afirmado que, caso o ex-presidente tentasse qualquer ato ilegal dessa natureza, seria necessário prendê-lo.
Contraponto e Divergências
Entretanto, em depoimento prestado ao STF na segunda-feira (19), o General Freire Gomes negou veementemente ter ameaçado Bolsonaro com prisão. Segundo Gomes, sua declaração foi interpretada erroneamente: “Não aconteceu isso, de forma alguma. Eu alertei ao presidente que se ele saísse dos aspectos jurídicos, além de não concordamos com isso, ele seria implicado juridicamente”, afirmou o general em sua versão dos fatos.
Esse contraste nas declarações evidencia a complexidade do caso e a necessidade de uma análise criteriosa de todos os depoimentos para a formação de um entendimento justo e completo sobre os eventos ocorridos.
Cronograma das Audiências e Próximos Passos
O período entre 19 de maio e 2 de junho está reservado para a oitiva das testemunhas indicadas pela acusação e pelas defesas. Para evitar qualquer tipo de influência entre os depoimentos, as audiências estão sendo conduzidas por videoconferência e ocorrem simultaneamente. Além do tenente-brigadeiro e do general, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e diversos deputados e senadores aliados de Bolsonaro também serão ouvidos.
Após a conclusão desta fase, o ex-presidente e os demais réus serão interrogados. A data para esse procedimento ainda não foi definida. A expectativa é de que o julgamento, que decidirá sobre a condenação ou absolvição dos envolvidos, ocorra ainda este ano. Os réus respondem por graves acusações, incluindo organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, e deterioração de patrimônio tombado. As penas, em caso de condenação, podem ultrapassar 30 anos de prisão.
Em conclusão, o depoimento do comandante da Aeronáutica representa um passo significativo na investigação da tentativa de golpe de Estado. A contradição entre os depoimentos de Baptista Júnior e Freire Gomes, no entanto, adiciona uma camada de complexidade ao processo, demonstrando a necessidade de uma avaliação profunda de todas as provas e depoimentos para uma justa conclusão do caso. A continuidade das audiências e o subsequente interrogatório dos réus prometem manter o caso em destaque na agenda política e jurídica nacional, com a expectativa do julgamento ainda neste ano. O resultado deste processo terá um impacto considerável no cenário político brasileiro.